1. Em Portugal, foi dado a conhecer o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja, um documento que revela a chocante realidade dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica, apontando 512 testemunhos validados e prevendo um horizonte potencial de pelo menos 4815 vítimas. A intensa discussão que o assunto tem gerado na esfera pública envolve, não raro, o uso da construção «foi abusado sexualmente». Recordamos que esta construção não é aceitável em português porque o verbo abusar não é transitivo direto, pelo que não aceita ser integrado numa frase passiva. Será possível expressar a mesma ideia por meio de estruturas como «foi vítima de abuso sexual», «que sofreu abusos», «foi violado», entre outras desta natureza.
No acervo do Ciberdúvidas, vários textos abordam esta questão: «Três irmãs "foram abusadas" sexualmente», «Abusados, os alunos da Casa Pia?» ou «Ainda à volta do abusado» e «O uso de abusada e de abusiva».
2. A incorreção presente na frase «Ele lia todos os livros quanto podia» é o ponto de partida para uma reflexão proposta pela professora Carla Marques a propósito do uso do quantificador relativo quanto e do seu antecedente todo(s)/toda(s) ou tudo, na rubrica Dúvida da semana, divulgada no programa Páginas de Português, da Antena 2 e nas redes sociais do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
3. As expressões «(não ser) nada por aí além» ou «(não ser) nada para aí e além» podem ser usadas com o valor de «não é nada de extraordinário», o que se explica nesta resposta. Na nova atualização do Consultório, estão disponíveis igualmente respostas relacionadas com o significados do verbo levar, uso do verbo desculpar, o apelido Serelha, o significado de «estar com (uma) rebarba», a modalidade presente em «Ninguém entra cá», as construções «por trás», «por detrás» e «atrás de», os significados de «tomar a peito» e «levar a peito» e o uso de «enquanto não» com conjuntivo num verso de Miguel Torga.
4. O desafio que a tecnologia coloca à língua portuguesa, que terá de se preparar para dar respostas às necessidades lexicais que a evolução nesta área exige, sob pena de ficar relegada para segundo plano, sendo substituída por outras que encontraram já formas de referir as novas realidades. Esta é uma reflexão com importantes notas para o desenvolvimento de uma política de língua, uma proposta conjunta de Ana Paula Laborinho, diretora da representação em Portugal da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), e António Horta Branco, professor universitário e presidente da Associação Europeia de Recursos de Linguagem, apresentada no artigo divulgado no jornal Público (aqui transcrito com a devida vénia).
5. A linguista e professora universitária Margarita Correia apresenta, no seu artigo publicado no jornal Diário de Notícias, algumas das iniciativas legislativas no âmbito da língua promovidas pela Eslovénia, uma situação que contrasta, de forma chocante, com a ausência de documentos desta natureza em Portugal, «um pequeno e velho país de 10 milhões, berço de uma das línguas mais faladas no mundo», tal como afirma a autora (partilhado com a devida vénia).