De facto, seria de esperar «enquanto não alcançares», mas, em orações adverbiais temporais, não é impossível, regionalmente ou em textos menos recentes, a ocorrência do presente do conjuntivo.
Encontram-se, por exemplo, abonações literárias deste uso com quando:
(1) «Desta vez, se de um dos lados somente houver sinceridade.. – e será do teu lado, a havê-la somente de um? – recairá sobre o outro todo o peso de irremediável infortúnio; outra causa que me faz estremecer. E quando sejam sinceros ambos, não haverá tantas lutas a travar, tantos obstáculos a vencer?» (Júlio Dinis, Uma Família Inglesa, 1868, in Corpus do Português)
No exemplo acima, o uso mais corrente na atualidade será «quando forem», e não «quando sejam». Contudo, no contexto, quando é também interpretável com o valor de «sempre que», locução que se afigura hoje compatível quer com o presente do conjuntivo, quer com o futuro do conjuntivo, conforme se pode confirmar pela resposta "Sempre que faça = sempre que fizer".
No caso de «enquanto não» com conjuntivo, é possível que haja interferência de uma construção formada por «até que» e registada por Augusto Epifânio da Silva Dias, na sua Sintaxe Histórica Portuguesa (1918, p. 305; mantém-se a ortografia original):
«A uma oração em que se nega que uma acção principie (ou haja de principiar) a realizar-se, não é usual modernamente ligar-se uma oração de até que, e substitue-se até que por enquanto não:
Não louves até que proves. (Provérbio) [...]»
Nesta passagem, observa-se que o presente do conjuntivo se associa à locução «até que». É, portanto, plausível, que o uso documentado pelo verso torguiano releve da relação histórica de enquanto com «até que»: nesta perspetiva, «enquanto não alcances» refletiria a construção com «até que» e estaria por «até que alcances».