1. Apesar dos muitos computadores em falta e dos problemas de conectividade, as escolas portuguesas retomaram a atividade em 8 de fevereiro p. p., com recurso ao ensino à distância, após uma interrupção de duas semanas. É um acontecimento de grande projeção mediática, assinalando-se que o regime de aulas não presenciais se confronta com opiniões desfavoráveis (ler aqui, aqui e aqui), entre constrangimentos técnicos e disrupções em família. A vida prossegue, portanto, em (infernal?) confinamento, enquanto a luta contra a pandemia se revela extenuante, não só no caso dramático dos hospitais mas até em teletrabalho, devido aos abusos da teledisponibilidade. Este é um dos termos incluídos no conjunto de 12 novas entradas no glossário A covid-19 na língua: antivacinas, astronautas, «autópsias virtuais», boxes, ECDC, «fervores crepitantes», «hipóxia feliz», «não deixes o vírus entrar», oxímetro, procedimentos post-mortem, e «tsunami de mortes».
2. Sobre as variantes concorrentes «ensino à distância» (com contração à) e «ensino a distância» (só com a preposição a), assinale-se que quem ouviu os vários professores entrevistados pela Antena 1 em 8 de fevereiro terá notado que praticamente todos eles fechavam o a, mesmo os docentes de Português, assim optando por «a distância», apenas com a preposição a. Como aqui foi apontado, encontram-se bons argumentos (históricos, lógico-semânticos, referenciais) para aceitar ambas as formas da locução; contudo, importa também seguir o uso, que uma amostra constituída por um programa de rádio, muito limitada e, portanto, não conclusiva, pode, no entanto, ajudar a definir.
3. Contrariando a obrigação do confinamento, sonha-se com a palavra liberdade, cuja definição pode gerar conflitos e doutrinas, como sejam o libertismo, por um lado, e o libertarismo (ou libertarianismo), por outro. No Consultório, comentam-se estes três termos, além de se abordarem quatro outros tópicos: a relação do pronome relativo que com a anáfora linguística; a colocação de vírgula antes da preposição com; o uso de faz em expressões de tempo; e a pronúncia do topónimo português Baguim.
4. Falando de catástrofes, por exemplo, do acidente nuclear de Chernobyl (1986), é previsível empregar o verbo evacuar, mas não é inevitável produzir frases erradas como «vinham colunas com pessoas "evacuadas"». No Pelourinho, regressa-se à sintaxe e à semântica corretas de evacuar num apontamento de Sara Mourato.
5. Para interpretar um poema basta lê-lo com atenção? O docente brasileiro Roberto Lota deu a resposta num artigo saído no mural de Língua e Tradição (Facebook, 05/02/2021), que também passa a estar acessível na rubrica Ensino.
6. Em Angola, «o português é a língua oficial em Angola» (art.º 19 da Constituição da República de Angola), mas este português não é o praticado pela população e é preciso haver uma política línguística. Esta é a opinião que o docente universitário angolano Nelson Soquessa expõe em artigo publicado no jornal O País (06/02/2021) e transcrito com a devida vénia em O nosso idioma. Na mesma rubrica, outro tema também relacionado com a história política e cultural portuguesa: em vídeo, a sessão de 14/01/2021 da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, na qual foi orador o linguista, crítico literário e escritor Fernando Venâncio, com uma comunicação intitulada "Como pôde o português castelhanizar-se, e sobreviver?".
7. Os jornais dão precioso testemunho da vida de um país. Para incentivo ao conhecimento de Angola e da sua vida cultural, dá-se conta de notícias do jornal angolano O País: a tradução, para turco, da obra poética de Agostinho Neto (29/01/2021); o desaparecimento das livrarias tradicionais em consequência da crise financeira e da falta da cultura da leitura (30/01/2021); e, pela editora angolana Chela, a publicação de Cultura do Provérbio e Frases da Alteza Simbólica, do vigário Belchior Tchihópio, que assina sob o pseudónimo Kandimblé.
8. Finalmente, dois registos de igual significado cultural: em São Paulo, a confirmação da reabertura do Museu da Língua Portuguesa, provavelmente em julho; e, em Lisboa, a leitura é boa maneira de suportar o confinamento estrito, e a rede de bibliotecas da cidade (BLX) tem uma solução, o serviço BLX à sua porta, que traz a biblioteca ao domicílio de cada um.