1. O novo coronavírus dissemina-se e suga a vida de cada país, forçando o regresso a medidas restritivas. Em Portugal, por exemplo, o Presidente da República declara o estado de emergência, aceite pelo governo e aprovado pelo parlamento, para vigorar entre 9 e 23 de novembro*. Ao contrário de março passado, não se prevê o confinamento geral, mas o «confinamento parcial», também chamado «confinamento seletivo». São estas duas das novas entradas no glossário "A covid-19 na língua " (O Nosso Idioma), as quais se juntam a «capacidade instalada», marcando a preocupação com a capacidade de internamento dos hospitais; a «eventos e celebrações»*, duo a evitar quando se trata de aglomerações superiores a 10 ou 20 pessoas; a «A crise não mora aqui», título de uma notícia (Expresso, 04/11/2020) sobre como a pandemia tem (ironicamente) favorecido o emprego em certos setores de atividade; e a visons, em referência ao abate de milhões de animais desta espécie em Espanha e na Dinamarca, depois de neles ter sido detetada uma mutação do novo coronavírus que já infetou muitas pessoas.
* Observe-se que, no primeiro anúncio das medidas restritivas propostas se previa a suspensão da realização de feiras e mercados de levante, a qual não se concretizou. A expressão «mercado de levante», «mercado que se monta e desmonta todos os dias», não deixou de suscitar comentários, dado o seu uso se afigurar raro ou insólito.
2. A expetativa criada pela arrastada contagem dos votos nas eleições norte-americanas faz também eco em "O léxico da covid-19", onde se acolhe o neologismo trumpada, bem expressivo da qualidade das tiradas do presidente dos EUA e candidato a um segundo mandato no escrutínio realizado neste país em 3 de novembro p. p. – Donald Trump –, que se tem distinguido pelas manifestações de negacionismo em relação à pandemia de covid-19 (ver também o ponto 8 desta Abertura).
3. No Consultório, um tópico volta às atualizações, o uso de «de que»: diz-se «a proposta que seja declarado», ou «a proposta de que seja declarado»? Outra questão reúne as áreas da sintaxe e da morfologia: em que contextos se diz e escreve «por o», em vez de usar a contração pelo («vou pelo caminho das rosas»)? Aborda-se ainda a ortografia de compostos com o radical oligo- (oligoelemento e oligossacárido), além de se avaliar a formação do termo intercorporalidade. Finalmente, fala-se do problemático aportuguesamento do onomástico do grego antigo a propósito do nome mitológico Ceu.
4. Em O Nosso Idioma, discute-se a correção de duas construções que se tornaram frequentes no discurso sobre a covid-19: «testar positivo/negativo» e «dar positivo/negativo». Trata-se de um apontamento de Sara Mourato, que se refere também à origem destas construções.
5. A propósito do tufão Goni, que assolou as Filipinas, convém assinalar que os nomes atribuídos a furacões, ciclones ou tufões se escrevem sem aspas. Na larga maioria das notícias em linha escritas em português, não se verificam erros quanto a este preceito, mas a deteção de um caso – na página tempo.pt, em 03/11/2020 – justifica o alvitre aqui feito. Observe-se que na imprensa em língua espanhola não são raros os usos aspados, os quais a Fundéu/RAE considera erróneos (recomendação de 05/11/2020).
6. No campo do ensino e formação, registe-se o curso presencial sobre pontuação que a professora e divulgadora de temas gramaticais Sandra Duarte Tavares vai ministrar em 25 de novembro na Biblioteca Municipal de Lisboa, no Palácio das Galveias, com apoio da Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. As vagas são limitadas, mas a entrada é gratuita, sujeita a inscrição prévia (aqui).
7. Das notícias à volta da língua portuguesa, salientam-se:
– O anúncio de que vão ser apoiados mais de 150 projetos de editoras de 44 países pela Linha de Apoio à Edição e Tradução da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua;
– A realização via Internet do colóquio Camilo: génese e recepção, em 11 e 12 novembro p.f. pelo Grupo de Filologia do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa e pelo Grupo 1 Literatura e Cultura Portuguesas do Centro de Investigação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL); e
– Duas sessões de formação à distância para Professores de Português Língua Não Materna (PLNM) nos EUA, promovidas pela Universidade Católica do Porto, nos dias 5 e 6 de novembro p.f. Pormenores aqui.
8. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, têm relevo:
– Uma conversa com a professora e linguista Ana Martins, a propósito dos seus livros Contos com Nível, destinados a alunos de Português como Língua Estrangeira (PLE), no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 6 de novembro, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*);
– O papel da leitura na atual sociedade, abordado pelo professor universitário João Luís Lisboa , no programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 8 de novembro, pelas 12h30** (com repetição no sábado seguinte, 14 de novembro, às 15h30**). Esta e missão inclui ainda o foco sobre o termo trumpismo e o gentílico dos Estados Unidos da América – norte-americano (e não "americano") ou estadunidense, de uso corrente no Brasil –, a propósito das presidenciais nos EUA, assim como um apontamento da linguista Edleise Mendes, professora da Universidade Federal da Bahia.
** Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas Língua de Todos disponível Páginas de Português disponíveis posteriormente aqui e aqui.