1. A segunda vaga da pandemia é já um facto e o aumento do número de contágios confirma-se inequivocamente. Em Portugal, o governo tenta lidar com a situação propondo medidas ajustadas à realidade de cada município que contemplam soluções mais restritivas para aqueles que representam maior risco, de forma a tentar controlar o avanço das infeções. O cenário de estado de emergência está de novo a ser equacionado e, na atual situação, a palavra confinamento volta a estar na ordem do dia, associada a diferentes realidades que vão assumindo protagonismo: «Confinamento curto», «Confinamento musculado», «Dever cívico de confinamento domiciliário», Desproporcionado, «Estado de emergência preventiva (ou seletivo)», «Estado de emergência soft», «Novembro Negro», Internamentos, Sobrelotação, «Lava (bem) as mãos», «Feiras e mercados», «Oito meses» e Sintomas. Acompanhando a velocidade dos acontecimentos, estas são as treze novas palavras/expressões que dão entrada no A covid-19 na língua.
2. Nos Estados Unidos da América, a evolução da covid-19 parece imparável. Todavia, as atenções viram-se, a 3 de novembro, com particular acuidade, para as eleições que decidirão quem será o futuro presidente, num caminho de continuidade com Donald Trump ou renovado por mão de Joe Biden. Recomenda-se no sítio da Fundéu RAE que se utilize a sigla EUA e não USA e refere-se que o nome do país se pode usar de forma abreviada como Estados Unidos (com artigo definido ou não), o que também se aplica ao português. Quanto ao gentílico, a palavra norte-americano é preferível a americano e, para referir o resultado das votações, são admissíveis as duas expressões «eleito presidente» e «eleito como presidente». Ainda a propósito das eleições dos EUA, o jornalista Ferreira Fernandes aborda, de forma irónica e jocosa, a situação, sob a capa de diversos recursos expressivos que comprovam sobretudo a "arte retórica" do atual presidente Donald Trump (artigo disponível no jornal Público).
Este acontecimento, que traz ainda inúmeras palavras relacionadas com os EUA para a ribalta mediática, justifica que aqui se recordem algumas respostas relacionadas com o tema, como «Sigla EUA», «A posição do símbolo do dólar (EUA)», mas também entradas no Léxico da Covid-19, algumas resultantes da "criatividade" seu atual presidente, como «Não tenham medo» ou «Cocktail de anticorpos». Acontecimentos que tiveram lugar nos EUA motivaram apontamentos como «Respirar e joelho» e Aberturas em torno do país e do seu presidente: «A nova presidência dos EUA por palavras», «Dos tempos de Obama aos (novos) de Trump».
3. Na atualização do consultório, explicam-se as origens do betacismo, fenómeno comummente conhecido como «troca do v pelo b». Numa perspetiva também de história da língua, esclarece-se a etimologia do nome das refeições em Portugal. No âmbito da sintaxe, analisam-se as funções sintáticas dos constituintes «para o que os outros sofrem» (em «Ele acusa-a de, por estar bem de saúde, se estar ralando para o que os outros sofrem...») e de «o temporal» (em «O temporal não há meio de parar.»). Por fim, verifica-se se existe algum problema de semântica temporal no sintagma «ver o golpe de Estado».
4. Há erros que são novos: aparecem vindos de algum deslize individual e desaparecem sem causar danos de maior à língua. Outros são persistentes e passam de boca em boca ou de caneta em caneta sem que ninguém os consiga corrigir. E não é por falta de aviso ou de explicação. Este é o caso da confusão (crónica) entre «ir ao encontro de» e «ir de encontro a», que, desta vez, manchou o discurso da presidente da Câmara de Matosinhos Luísa Salgueiro, como assinala neste apontamento o cofundador do Ciberdúvidas e seu responsável editorial José Mário Costa.
5. A professora e investigadora Margarita Correia dedicou um artigo ao medo e ao terror, palavras que surgem após a decapitação em França, do professor Samuel Paty (texto divulgado no jornal no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).
6. O Dia dos Fiéis Defuntos, que, em Portugal, tem lugar no dia 1 de novembro, foi este ano celebrado sem que os portugueses se pudessem deslocar entre concelhos. Não obstante, as palavras finados e cemitérios continuaram a marcar o dia, como recordou a professora Carla Marques no seu apontamento no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2.
7. Numa altura em que a expansão da língua portuguesa está a ter lugar de forma evidente, com particular incidência nos países africanos, o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa Francisco Ribeiro Telles, numa entrevista ao Diário de Notícias, reflete sobre as questões da língua e sobre a importância estratégica da CPLP na afirmação do português no mundo.
8. O Ministério da Cultura português vai atribuir à escritora e jornalista Maria Teresa Horta a Medalha de Mérito Cultural, pelo «percurso ímpar na história da cultura portuguesa», numa cerimónia que terá lugar em data ainda a definir. A atribuição desta medalha coincide com os 60 anos de vida literária da autora e os 50 sobre o início de conceção das Novas Cartas Portuguesas, que escreveu com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, ambas já falecidas. (notícia aqui).
9. O Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho realiza, nos dias 5 e 6 de novembro o seu XXII Colóquio de Outono, conferência internacional online subordinado ao tema Populismos e suas linguagens (mais informações aqui).
10. Uma nota final de pesar para o encerramento da Livraria Cotovia, em Lisboa, que, até ao final de 2020, fecha portas, após 32 anos de edições que abrangem mais de 350 autores.