1. A situação na Ucrânia abala a Europa e repercute-se noutras regiões do mundo, sempre numa escalada inquietante, não só militar mas também mediática. A atualidade noticiosa vista, ouvida ou lida oscila entre a informação e a propaganda, e mesmo as palavras, seja qual for a língua, se tornam pretexto para intensificar o conflito. Vocábulos como guerra e invasão, por exemplo, podem ser rejeitados – na perspetiva russa, trata-se de uma «operação militar especial» – ou rasurados, entre acusações de notícias falsas. Podem igualmente gerar equívocos, como foi o caso de notícias segundo as quais a ONU teria ordenado aos seus funcionários que os evitassem, instrução que, afinal, não se terá verificado e que foi posteriormente desmentida pela própria organização. Mas as imagens são de guerra, e, portanto, são recorrentes o léxico e a fraseologia de referência bélica nos noticiários e na opinião publicada. É este o mote para, em O Nosso Idioma, a professora Carla Marques dedicar um apontamento às marcas – palavras e provérbios – que este (triste) tema deixa também na língua portuguesa.
2. Diz-se «tomar da palavra» ou «tomar a palavra»? A segunda forma é a correta, de acordo com a explicação dada numa das novas respostas em linha no Consultório. São ao todo sete dúvidas, que abrangem as possibilidades combinatórias dos pronome átonos, a construção de uma réplica discordante, as orações condicionais com o verbo no indicativo, o significado da expressão «literatura de cordel», a origem da palavra blusa e o uso dos termos explicitude e implicitude.
3. Na rubrica Diversidades, transcrevem-se, com a devida vénia, dois textos de duas publicações digitais: do jornal Setenta e Quatro (10/03/2022), um ensaio do antropólogo Miguel Vale de Almeida, que critica a sobrevivência em Portugal das teses do chamado lusotropicalismo, propostas por Gilberto Freyre (1900-1987) e que foram especialmente úteis para a legitimaçáo do colonialismo português; do blogue Certas Palavras (14/10/2018), um apontamento do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves, que dá a conhecer a relação do papiamento da ilha de Curaçau com outras línguas crioulas de base lexical portuguesa.
Na imagem, pormenor de biombo namban (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).
4. Registos de iniciativas diplomáticas ou académicas com interesse para quem é estudante e se move no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP):
– A ratificação, em 7 de março p. p., do acordo de mobilidade da CPLP pelo Brasil, cujo ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos Alberto França, em declarações à imprensa, colocou Portugal entre as parcerias prioritárias.
– As formações em competências transversais (no mundo empresarial conhecidas pelo anglicismo soft skills) promovidas pela Academia Soft Skills do Instituto Superior e Contabilidade da Administração de Lisboa (ISCAL).
– O lançamento da segunda edição de um concurso de fotografia para arquitetos e estudantes, pelo Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP). "Ser Sustentável no Espaço Lusófono" é o tema deste concurso, cujo júri inclui arquitetos de Angola, Brasil, Macau, Moçambique e Portugal. Inscrições até 17 de março de 2022.
– O seminário "Políticas e práticas linguísticas e de literacia", que se realiza no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa (auditório B1.03, Ferreira Almeida, Edifício II), em 15 de março de 2022, 15h00-17h30 (hora de Lisboa). Trata-se de um evento híbrido (presencial e em linha), em que se propõe um debate à volta das «formas de representação de diferentes autores de língua portuguesa e as suas variedades, e a ausência de autores negros na sociedade portuguesa, a começar pela escola» (ver também aqui).
5. Nos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, são temas em destaque:
♦ Para falar de um projeto desenvolvido pela Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) – a aplicação móvel Gogenius, para aprendizagem assistida do Português como Língua Segunda e como Língua Estrangeira – Sandra Figueiredo, professora da UAL, é a convidada de Língua de Todos, programa transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 11 de março, às 13h20*.
♦ A respeito do Caderno de Práticas Teatrais para a Aprendizagem da Língua, um lançamento de 2022 com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, participam as autoras deste livro, Sofia Cabrita, atriz e encenadora, e Isabel Galvão, professora de Português Língua Estrangeira do Centro Português para os Refugiados (CPR), em Páginas de Português, um programa da Antena 2 emitido no domingo, 13 de março, às 12h30*. Intervém ainda a professora Sandra Duarte Tavares, dando mais uma achega acerca da etimologia da palavra guerra.
* Hora oficial de Portugal continental.