1. A atualidade na Europa continua marcada pela crise russo-ucraniana, com a Federação Russa a reconhecer as repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk, na Ucrânia, gesto político formalizado em 21 de fevereiro de 2022. Na declaração que fez, o presidente Putin defendeu uma visão histórica que remonta a Catarina a Grande e a Lenine, considerando a queda do Muro de Berlim uma catástrofe geopolítica a reparar, começando pela Ucrânia (anexação?) e deixando adivinhar o recuo da fronteira oriental da OTAN a limites, se não iguais, próximos dos de 1989. Mencionar a palavra guerra torna-se, portanto, redundante, porque fica patente a escalada bélica, confirmada pela ativação mediática de vocábulos em seu torno. Em O Nosso Idioma, evidencia-se a constituição desse campo lexical, que, em português, conjuga duas heranças linguísticas, a germânica e a latina, conforme aponta a professora Carla Marques. Nesta rubrica, a mesma consultora, com Carlos Rocha, comenta algumas das palavras que são notícia: desde neologismos como putinologia aos topónimos envolvidos nesta crise – por exemplo, nomes geográficos com forma portuguesa estável como Ucrânia ou Crimeia e outros sem tradição em português, caso de Donbas (ucraniano) ou Donbass (russo).
Na imagem, "Aldeia à beira do rio" (1900), de Serhii Vasylkivsky (1854-1917). Fonte: Internet Encyclopaedia of Ukraine.
2. Entretanto, vários países, incluindo Portugal, levantam ou atenuam ainda mais as medidas sanitárias restritivas perante o que parece um recuo significativo da pandemia. Sobre o tema, a rubrica A covid-19 na língua inclui três novas entradas: antibióticos, relativamente à redução do consumo de antibióticos em Portugal, favorecida pelo novo coronavírus; faseamento, termo recorrente na referência ao combate da covid-19; e SILBA (abreviação da expressão científica inglesa SARS-CoV-2 Inactivated for Lung B and T cell Activation), um acrónimo que denomina a vacina portuguesa, administrada por inalação, ainda em fase de ensaios clínicos na biotecnológica Immunethep.
3. Quando se diz «quero crer na paz», fala-se daquilo em que se acredita ou do que se deseja? A pergunta diz respeito a um tipo de modalidade – a modalidade desiderativa – e tem resposta no Consultório. Outras perguntas: a frase «juntei o feijão na água, quando entra pela janela o mais belo pássaro» configura um erro de concordância temporal? Qual é o sujeito de «o assassino era o escriba»? Pode-se omitir o de da locução «antes de»? Qual a origem da preposição desde?
4. Em Diversidades, transcrevem-se com a devida vénia dois artigos: um do professor universitário Paulo Batista Ramos, sobre a terminologia associada ao cibercrime (revista Sábado, em 17 de fevereiro de 2022); e outro da linguista e professora universitária Margarita Correia, para assinalar o Dia Internacional da Língua Materna, comemorado a 21 de fevereiro (ver Diário de Notícias).
5. Nas Controvérsias, disponibiliza-se mais um contributo sobre as relações da gramática com as representações de género, do professor Carlos Ascenso André (página pessoal do Facebook, em 13 de fevereiro de 2022), que se pronuncia sobre a forma "presidenta" e sobre o masculino plural.