1. A mudança de nome por parte de um país não é uma situação incomum. A mais recente alteração ocorreu na Turquia, que passou a designar-se Türkiye, nome reconhecido pelas Nações Unidas desde 1 de junho do presente ano. Note-se, porém, que, para a língua portuguesa, não se verifica qualquer alteração. Esta mudança está associada a uma estratégia que visa aumentar o valor da marca do país, que ao mesmo tempo procura afastar-se da associação ao nome peru (turkey em inglês), que prejudica a imagem que se pretende construir da Turquia. Vários outros países, ao longo da história, têm optado pela mudança de nome: o atual Sri Lanca deixou de se chamar Ceilão em 1935; em 1939, o Sião alterou o seu nome para Tailândia; em 1980, a Rodésia passou a chamar-se Zimbabué; em 1984, a República do Alto Volta mudou para Burquina Faso, que na língua nativa quer dizer «terra de homens íntegros»; em 2016, a República Checa adotou um nome simplificado – Chéquia, em português¹ –, mantendo-se, porém, o nome oficial mais extenso, República Checa (ver Código de Redação para as instituições europeias); em 2018, a então Suazilândia passou denominar-se Reino dos Suazis (eSwatini/Essuatíni, que, na língua local, significa «terra dos suázis»); em 2019, a Macedónia recebeu o nome de Macedónia do Norte; em 2020, a Holanda passou a ser conhecida como Países Baixos. E há, ainda, a decisão do governo da República de Cabo Verde, em 2013, para o nome do país deixar de ser traduzido na correspondência oficial em língua estrangeira (Cape Verde, em inglês, e Cap-Vert, em francês), prevalecendo, desde então, sempre, a denominação em português, Cabo Verde.
Esta é também uma oportunidade para recordar os gentílicos relacionados com os países que alteraram as suas designações. Assim, os habitantes da Turquia são conhecidos como turcos; os do Sri Lanca como cingaleses; os da Tailândia são os tailandeses; os do Zimbabué designam-se zimbabuenses ou zimbabuanos; os da Chéquia ¹ continuam a denominar-se checos; os da Macedónia do Norte são macedónios; os dos Países Baixos são os neerlandeses.
¹ Cf. Chéquia e o sururu toponímico da atualidade + Quem inventou o nome «Chéquia»?
2. A covid-19 potenciou a interação em espaços virtuais, desde as reuniões em diferentes plataformas às compras virtuais, não esquecendo as aulas à distância. Esta é a realidade referida pela palavra metaverso, que surgiu pela primeira vez em 1992 num romance do escritor Neal Stephenson e que agora passa a integrar a rubrica A covid-19 na Língua. Uma outra nova entrada regista a forte recomendação para o uso da máscara nos megafestejos dos santos populares em Lisboa e no Porto.
3. Ao Consultório, chega-nos uma questão relacionada com as preposições que o coloquialismo pachorra poderá reger. Divulgam-se ainda respostas relacionadas com as formas «a teu gosto» e «ao teu gosto», com a expressão «conversa de bastidores» e com a tradução da palavra inglesa coethnic. Para terminar, a questão dos usos do infinitivo em frases complexas.
4. A homofonia entre sanção e Sansão pode gerar problemas ortográficos. Não obstante, estamos perante duas palavras que, em nada, se aparentam, exceto, claro, nas sonoridades, como explica a professora Carla Marques na sua crónica.
5. As diferenças entre «assédio sexual» e «assédio moral» são retomadas pela professora universitária e linguista Margarita Correia para explorar o tema do ponto de vista da etimologia do verbo assediar e do ponto de vista do tratamento jurídico da questão (crónica aqui partilhada com a devida vénia).
6. O recurso a construções como «viu nada» leva o professor e tradutor Vítor Santos Lindgaard a recordar que, em português, deve existir sempre uma negação antes do verbo (apontamento do autor aqui transcrito com a devida vénia).
7. Na rubrica Literatura, partilhamos, com a devida vénia, o texto do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa dedicado à exposição A oficina de Saramago, a decorrer na Biblioteca Nacional, em Portugal.
8. Em França, Michel Feltin-Palas, chefe da redação de L'Express, questiona-se sobre a possibilidade de as línguas regionais virem a ser incluídas nos curricula escolares, à semelhança do acontece noutro países (artigo transcrito e traduzido com a devida vénia).
9. Entre os eventos relacionados com a língua, destaque para os seguintes:
— Peça de teatro Outra Língua, a decorrer no Teatro Nacional D. Maria II, até 12 de junho (mais informações);
— LINGUA, Festival Internacional de Teatro em Línguas Minoritárias, a decorrer em Barcelos, entre 10 e 12 de junho (mais informações);
— EMDA9, Encontros Mensais sobre Discurso Académico, com a presença da professora brasileira Vera Lúcia Lopes Cristóvão, que abordará a questão dos letramentos académico-científicos (sessão dia 8 de junho, entre as 18h e as 19h30, em sala Zoom).
*Na próxima sexta-feira, dia 10 de junho, não haverá abertura por ser o feriado do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Regressaremos no dia 14 de junho e até lá ficamos com a estância que Camões dedicou à pátria portuguesa:
«Esta é a ditosa pátria minha amada,À qual se o Céu me dá que eu sem perigoTorne, com esta empresa já acabada,Acabe-se esta luz ali comigo.Esta foi Lusitânia, derivadaDe Luso, ou Lisa, que de Baco antigoFilhos foram, parece, ou companheiros,E nela então os Íncolas primeiros.»(Os Lusíadas, Canto III)