1. O agravamento da pandemia de covid-19 em Portugal levou o Governo a declarar o estado de calamidade a partir das 00h00 do dia 15 de outubro de 2020, de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros 88-A/2020. Entre várias medidas restritivas, recomenda-se o uso de máscara na via pública e da aplicação móvel StayAway COVID, recomendação que, embora vise reforçar o rastreio e a contenção da pandemia, prevenindo o contacto com pessoas infetadas, encontra a hostilidade de alguns setores da opinião pública portuguesa (ler aqui). Na ordem do dia está, portanto, o verbo rastrear, cuja entrada em "A covid-19 na língua" (O Nosso Idioma) se soma a outras dez, a saber: audição, casamentos, CLIE-2020, isolamento "fiduciário", olfato e paladar, platô, repique, sanitarista, taxa de positividade e vida (não) saudável.
2. Ainda a respeito da situação sanitária em Portugal e no mundo, a professora e linguista Carla Marques observa em O Nosso Idioma que se trata «de um regresso a uma situação, mas não a repetição de uma situação», num apontamento que explora ainda a pertinência do termo calamidade nos tempos que vivemos. Igualmente na mesma rubrica, em registo bem diferente, transcreve-se com a devida vénia um artigo elaborado pela redação do jornal digital brasileiro Primeira Página (11/04/2014), a respeito da história de palavras e expressões que envolvem abreviações como «lé com lé, cré com cré» e «com todos os ff e rr».
3. O ecocídio vai ser debatido neste dia no parlamento português, isto é, na Assembleia da República, por iniciativa do (Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN). Os deputados vão discutir uma proposta no sentido de o Governo português pedir às Nações Unidas que as práticas maciças de destruição da Natureza passem a ser reconhecidas pelo Tribunal Penal Internacional. O termo ecocídio*, que se aplica à destruição propositada de um ecossistema ou de uma comunidade, é palavra relativamente recente, mas não constitui novidade: a 1.ª edição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa já a registava em 2001, situando a primeira atestação à volta de 1985, sem, no entanto, indicar fonte. Atualmente é palavra que consta de dicionários eletrónicos e vocabulários ortográficos, como o dicionário da Infopédia, o da Priberam, o Michaelis, o Aulete Digital e os vocabulários ortográficos da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa.
* Ecocídio. Uma nova palavra que está a mobilizar cientistas e ambientalistas
4. No Consultório, também se comentam alguns vocábulos, do ponto de vista da sua datação e história: quando foi introduzido o nome lusíada na língua portuguesa? E a forma quinhentista Taquexima ainda tem atualidade suficiente para substituir o topónimo japonês Takeshima? Completam esta atualização três perguntas de sintaxe, com o seu quê de repercussão semântica: diz-se «convir em que...» ou «convir que...»? É mais correto «certifique-se de que os dados são lidos» do que «certifique-se de que os dados sejam lidos»? E aceita-se uma locução verbal formada por vários verbos como acontece em «poderias ter sido escolhida»?
5. Da atualidade em língua portuguesa, releve-se:
— a nomeação da cabo-verdiana Cristina Duarte para o cargo de conselheira especial para África da ONU;
— o anúncio feito pelo Camões –Instituto da Cooperação e da Língua de no presente ano letivo serem 170 000 os alunos que em 74 países aprendem a língua portuguesa;
— a assinatura em 15/10/2020, em Sevilha, de um Memorando de Entendimento entre Portugal e a Junta de Andaluzia para a inclusão do português como segunda língua estrangeira no sistema educativo da Comunidade Autónoma da Andaluzia;
– e a realização, a partir de 22 de outubro p. f., do evento virtual Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizado pelo secretariado permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau).
6. Temas centrais dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa na rádio pública portuguesa: no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 16 de outubro, pelas 13h20*, o livro Pontuação em Português – Guia Prático para Escrever Melhor, do professor universitário e tradutor Marco Neves; o ensino de Português em França, em entrevista à sua coordenadora, a professora Adelaide Cristóvão, e as palavras revanche e desforra, num apontamento da linguista Carla Marques sobre o jogo entre as seleções de futebol da França e de Portugal – no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 18 de outubro, pelas 12h30**
* * O Língua de Todos é repetido no dia seguinte, 17/10/2020 (depois do noticiário das 09h00), e o Páginas de Português tem repetição no sábado seguinte, 24/10/2020, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando os referidos programas posteriormente disponíveis aqui e aqui.
7. Dada a necessidade de compatibilizar os projetos dinamizados pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa com os escassos recursos humanos presentemente ao seu alcance, impõe-se alterar a frequência com que se renovam semanalmente os conteúdos destas páginas. Assim, a partir de 20 de outubro p.f., o sítio eletrónico Ciberdúvidas da Língua Portuguesa passa a ter duas atualizações semanais, às terças-feiras e às sextas-feiras[1]. Mantêm-se ativos, como sempre, o Consultório e todas as demais rubricas, com perguntas, apontamentos e notícias à volta das regras e dos usos do português, na sua diversidade. O Ciberdúvidas não deixará, portanto, de prosseguir na tarefa de ir ao encontro de quantos, em diferentes partes do mundo, o procuram para falar, escrever e conhecer melhor esta língua que é de todos.
[1 N.E. (27/10/2020) – Por conveniência da gestão deste serviço, o dia da segunda atualização semanal foi alterado de quinta-feira para sexta-feira.]