1. No contexto dos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, Portugal recebeu com grande satisfação a notícia da medalha de bronze ganha pela sua equipa de boccia¹ – ou, adaptando a palavra ao português, bocha, forma que vale a pena assinalar e difundir, como alternativa à grafia italiana (ler resposta sobre boccia/bocha aqui). Apesar de o impacto mediático deste acontecimento apresentar sobretudo o italiano boccia, é preciso frisar que há bastante tempo existe aportuguesamento para a denominação deste jogo tradicional da Itália que se tornou modalidade paraolímpica (paralímpica, na forma menos rigorosa adotada oficialmente, como aqui já se contextualizou). À semelhança do espanhol, bocha (ou bochas conforme propõe a Fundéu), o termo português, de resto, usado nas páginas eletrónicas das Paralimpíadas de 2016, não é propriamente um produto dos gabinetes lexicográficos: parece ter-se afeiçoado no dia a dia, no estreito contacto com o italiano dos milhões de imigrantes que, do século XIX ao XX, vieram trabalhar para a Argentina, o Uruguai, a Venezuela ou o Brasil. Saliente-se ainda a existência, no português, de vários empréstimos do italiano – uns medievais, outros do Renascimento e outros bem recentes –, como se pode apreciar pela leitura de algumas da nossas respostas e outros textos em arquivo. Por exemplo: aguarela, cicerone, confetti (confete, na forma aportuguesada), coxia, graffiti (grafitos ou grafíti, idem) imbróglio, lasanha, piza, máfia, pasquim, Siopa, testa de ferro (antes do Acordo Ortográfico testa-de-ferro), risoto.
¹ Posteriormente, Portugal averbou a 16 de setembro a segunda medalha de bronze na mesma modalidade, boccia/bocha, pelo atleta José Macedo, na categoria BC3 e, dois dias depos, nova melha de bronze, agora na maratona da classe T46, pelo atleta Manuel Mendes – a quarta, no total, nestes Jogos Parolímpicos do Rio de Janeiro.
2. Arranca o novo ano letivo em Portugal. As aulas começam entre 9 e 15 de setembro nas escolas dos ensinos básico e secundário, ou, nos dias seguintes, no caso da universidade e dos institutos politécnicos. Uma novidade: os alunos do 1.º ano – ou seja, os que entram pela primeira vez na escola – terão manuais gratuitos. E, a propósito de gratuito, lembramos a pronúncia recomendada para este adjetivo: com ditongo ui, tal como se ouve em cuidado (consultar aqui).
3. Outra notícia com interesse para a compreensão e valorização do papel da língua portuguesa na contemporaneidade é a realização, em Luanda, em 14 e 15 de setembro do congresso internacional Educação, língua portuguesa e excelência do ensino em Angola, por iniciativa da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica de Angola (UCAN).
4. No consultório, novas perguntas: se estufa-fria tem hífen, «estufa quente» também? Na frase «muito poucos compareceram», a que classe de palavras pertencerá muito? E será gramatical uma sequência como «as crueldades que está na sua natureza eles cometerem»?
5. Sobre os programas de rádio produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública de Portugal:
– Nunca se sentiu uma «ovelha "ranhosa”» ao não saber fazer algo e «pelos vistos» resolver que o melhor é manter a distância e «piar mais fino? O melhor é manter-se, sempre, em caminhos retos e não por «portas e travessas», para não cometer mais erros com a língua portuguesa porque, senão, tudo se torna uma “rebaldaria”. O Língua de Todos de sexta-feira, 16 de setembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 17 de setembro, depois do noticiário das 9h00*), conversa com Manuel Matos Monteiro, autor do Dicionário de Erros Frequentes da Língua,
– Diz-se que saudade é a palavra portuguesa por excelência, tão nossa que o fado a cultiva e que as outras línguas não conseguem traduzir. Mas será mesmo assim? Será o galego o verdadeiro pai do português, e não o latim? Iremos todos falar com o sotaque brasileiro? A língua estará a perder qualidades e tem um fim anunciado? Como usá-la melhor? Para responder a estas e outras questões, o Páginas de Português de domingo, 18 de setembro (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), fala com Marcos Neves, autor de Doze Segredos da Língua Portuguesa.
* Hora de Portugal continental.