A etimologia de cicerone é, segundo o dicionário Houaiss, «do italiano “cicerone” (séc. XVIII), dada a célebre eloquência de Cícero, orador e político romano (106-46 a.C.). Estabeleceu-se então uma comparação desse com outros guias turísticos romanos, graças à efusividade dos últimos». A chegada deste vocábulo ao Português deu-se, portanto, no século XVIII. Desconhece-se qual foi exactamente o modo como a palavra entrou na nossa língua.
N.E.- A contestação a que o consulente alude desses «já lá vão... quase 60 anos!» foi conduzida, entre outros puristas da língua, por Vasco Botelho do Amaral. Escreveu ele no seu Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa (Vol. I, Editora Educação Nacional, Porto, 1938): «Cicerone. Italianismo perfeitamente desnecessário. O idioma português tem guia, intérprete, língua; medianeiro, mensageiro.» Já o gramático brasileiro Napoleão Mendes de Almeida referia-se assim à querela à volta do cicerone, no seu Dicionário de Questões Vernáculas (Livraria Ciência e Tecnologia Editora, S. Paulo, 2ª ed. de 1994): «Após ter entrado no nosso vocabulário, esta palavra italiana está sendo substituída pela portuguesa guia ou guia de turismo.» A conclusão a retirar é que o italianismo, desnecessário ou não, vestiu-se mesmo à portuguesa. E assentou arraiais...