Um livro que se apresenta categórico quanto aos seus propósitos, quando, no começo, na página intitulada "Manual de instruções" (pág. 9), se apresenta não como uma obra de consulta, mas, sim, de como algo «para ser lido do início até ao fim», porque assim o leitor poderá «conhecer aquilo que, de outro modo, não conheceria – há erros frequentes que não suscitam sequer a dúvida que origina a consulta». O objetivo parece ser, portanto, organizar alfabeticamente um conjunto de erros, ao jeito de um Appendix Probi do português do século XXI. Mas o próprio título – Dicionário de Erros Frequentes da Língua – e a organização em verbetes depressa permitem perceber que a nota de entrada é mais um curioso artifício retórico do que uma instrução de leitura, como forma de sublinhar que os erros listados e comentados podem e devem ser erradicados. Para escrever e falar bem, encontra-se aqui, no fundo, um convite à consulta, o que faz deste livro um guia muito útil, na linha de vários outros publicados nos últimos anos em Portugal, no Brasil e (já) em Angola. Entre os gramáticos normativistas que deixaram doutrina, referem-se os portugueses Rodrigo de Sá Nogueira e Vasco Botelho de Amaral, bem como o brasileiro Napoleão Mendes de Almeida. Os critérios etimológico e lógico adotados determinam por vezes a recusa de variantes num tom que poderá achar-se excessivo1. De qualquer modo, trata-se de uma obra que se lê e (na verdade) se consulta com proveito, constantemente manifestando a intenção de nos dar a segurança de um caminho que nos leve para longe dos erros de expressão na oralidade e na escrita.2
1 Por exemplo, condena-se atazanar, para se recomendar atenazar, mas atazanar e atanazar são variantes legítimas, com uso tradicional, que não parecem alvo de rejeição generalizada, mesmo entre normativistas, como é o caso de Vasco Botelho de Amaral, que, a propósito deste verbo, escreveu (Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958, p. 316): «Atanazar dá exemplo de metátese em variante: atazanar. Quer dizer importunar, e deve provir das torturas com tenaz, porque de tenaz há a variante popular tanaz. De tanaz formou-se atanazar, como de tenaz, atenazar. Depois disto tudo, a forma com mais vida é, precisamente, a que acusa metátese ou transposição, isto é, atazanar.»
2 Assinale-se o aparecimento de uma segunda edição, em julho de 2015, com acrescentos e pequenas clarificações, na sequência do êxito de vendas que constituiu o lançamento desta obra. Uma terceira edição será um boa oportunidade para juntar uma lista de referências bibliográficas, sempre útil para quem gosta de aprofundar o conhecimento de diferentes aspetos da norma-padrão.
Cf. "Como está o seu português? Costuma fazer estes erros?"
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