De facto, tal como a consulente sugere, «o modo imperativo está relacionado com a modalidade deôntica» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 247) que está presente na frase «Você deve fazer uma ilustração sobre o tema» devido ao valor deôntico do verbo modal dever1, relacionado com «obrigação e permissão» (idem, p. 245), verbo este que se constrói com outros verbos no infinitivo.
Na frase apresentada, é evidente a expressão de obrigação que o verbo dever transmite, transparecendo a perspetiva do enunciador sobre a obrigatoriedade do recetor em relação a determinada situação, dando a ideia de uma proposta, de um conselho ou de uma ordem. Ora, indiretamente, está implícito o valor imperativo desse discurso. E se tivermos como referência a especificidade do modo imperativo, verificamos que este «se diferencia dos outros modos na medida em que se especializou na expressão da modalidade deôntica, relacionada com a ordem» (idem, p. 259).
Para além disso, não há dúvida de que se trata de uma frase imperativa, uma vez «que expressa um ato ilocutório diretivo, ou seja, com que, através do seu enunciado, o locutor visa obter num futuro imediato a execução de uma determinada ação ou atividade por parte do ouvinte» (idem, p. 449).
1 Sobre o verbo dever, a Gramática da Língua Portuguesa (ob. cit.) dedica um capítulo (cap. 9) a «Modalidade e Modo» (pp. 243-272), debruçando-se sobre a especificidade dos verbos modais dever, poder e ter de, do seu valor ou tipo de modalidade — do domínio da possibilidade, da necessidade e da obrigatoriedade (pp. 247-248). Também a obra de João Peres e Telmo Móia, Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho, 1995), trata, em várias partes, das particularidades de alguns casos do uso do verbo dever — «as predicações cujo predicador é o verbo dever, na acepção de dever deôntico» (pp. 182-185). É de assinalar, ainda, uma outra referência bibliográfica: Campos, Maria Henriqueta Costa, Dever e poder. Um subsistema modal do português, Lisboa, Fundação Gulbenkian/JNICT, 1998.