Os melhores cumprimentos!
Exemplificando o que defendi sobre a hierarquia da análise gramatical, proponho que nos debrucemos agora sobre a análise gramatical da palavra.
As gramáticas tradicionais e o Dicionário Terminológico dispersam o assunto por capítulos diversos, como morfologia, classe de palavras, léxico, semântica… (pelo meio metem a sintaxe…), como se de realidades diferentes se tratasse. Esta abordagem fragmentada do mesmo conteúdo atrapalha a clarificação dos conceitos e possibilita a mistura de perspetivas diferentes que inevitavelmente resultam numa grande confusão (até há pouco, as classes morfológicas eram os verbos, os nomes, as conjunções!...).
Por que é que, simplesmente, se não há de arrumar o assunto da seguinte maneira?:
Classificação de palavras
Quanto à função: verbos, nomes…
Quanto à relação: sinónimos… homónimas…
Quanto à formação: compostas, derivadas… família…
Quanto à flexão: variáveis, invariáveis…
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011 «determina a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no sistema educativo no ano lectivo de 2011 -2012 e, a partir de 1 de Janeiro de 2012, ao Governo e a todos os serviços, organismos e entidades na dependência do Governo, bem como à publicação do Diário da República».
Por outro lado, existe um período de transição que termina em 2015, ano em que a aplicação do acordo é obrigatória para todos os países da CPLP. Em Portugal, para organismos acima referidos encontra-se superiormente determinada a aplicação a partir de 1/1/2012. No caso das autarquias existe autonomia para a decisão, podendo cada autarquia aguardar por 2015 ou determinar a aplicação imediata aos respectivos serviços? Há autarquias que já decidiram aplicar o acordo, mas outras não, e neste caso existe alguma confusão, assim como em associações de municípios.
A dúvida é se existe ou não alguma norma que obrigue os municípios e respectivas associações (abrangidas pela legislação aplicável às autarquias) a aplicar o acordo.
Em 28/01/2012, em título «Ramos-Horta – Presidente exclui português», o DN escrevia: «O gabinete do presidente de Timor-Leste, José Manuel Ramos-Horta, lançou ontem oficialmente o seu novo site com informação apenas disponível em inglês e tétum, excluindo o português, língua oficial do país.»
Dois dias depois, face às repercussões que tal medida começava a provocar, procurou-se amenizar o escândalo, lançar água na fervura, tentou-se cancelar o lançamento da “bomba” que tinha sido iniciado, e podia então ler-se na Internet:
O novo sítio na Internet da Presidência de Timor-Leste, disponível no endereço www.presidenttimorleste.tl, já inclui a língua portuguesa, apesar de as traduções ainda estarem "em andamento".
[Posteriormente], em comunicado, foi dado a conhecer o novo sítio na Internet (www.presidenttimorleste.tl) da Presidência timorense, mas as informações só estavam disponíveis em tétum e inglês, prescindindo do português, que é uma das línguas oficiais do país.
Durante o fim de semana a situação foi corrigida e o sítio já disponibiliza a língua portuguesa (http://presidenttimorleste.tl/pt-pt/), mas com indicação de que as «traduções em português ainda estão em andamento».
Mas, como dizia o meu avô, «quem me suja não me lava». Do lençol branco não sairão os indícios da nódoa.
Certamente retêm na memória aquela imensa onda de solidariedade que acordou o nosso país de norte a sul a favor de Timor-Leste. Os abaixo-assinados, as marchas, os gritos, as longas vigílias, as velas, as preces, as canções por Timor Lorosae.
Portugal foi então um dos países que mais fizeram erguer a sua voz pela independência de Timor. Foi a alma da luta, da vitória e da alegria. Tudo isso em português.
Fizemos o bem “olhando a quem”. A consciência mantém-se tranquila. Mas hoje essa alma da vitória e da alegria fustigou-a um vento de tristeza, como que de derrota, pela “paga” daquele que na altura veio aqui pedir apoio, em língua portuguesa, essa língua que agora não será assim tão necessária no site da sua Presidência.
Qualquer dia ficamos também sem a Páscoa. Domingo de Ramos já não temos.
Lisboa - Portugal
Na sequência das nossas últimas comunicações, envio uma reflexão sobre o predicado.
Sou professor do 2.º ciclo.
A hora de tratar a sintaxe é também a hora do meu constrangimento.
Pelas razões que se seguem.
Comentamos:
– O predicado ou é verbal ou não verbal. Comentário: não há predicado sem verbo, portanto é sempre verbal.
– Verbal, porque significativo; nominal, porque não significativo. Comentário: é difícil demonstrar que verbos como ter e fazer sejam muito mais significativos do que os verbos ser e estar, por exemplo.
– O verbo do predicado verbal pode ser transitivo ou intransitivo. Comentário: passou-se de um critério de significação para um critério de mobilidade.
– Comentário global: verbo e nome são do plano da palavra, e predicado é do plano da frase.
Ainda e mais uma vez, a mistura de planos e de conceitos… e as perplexidades do costume. Basta acompanhar o Ciberdúvidas…
Propomos, para reflexão, uma abordagem que se pretende una, coesa e consequente:
Comunicar é transmitir informação. Na comunicação linguística, a informação transmite-se numa estrutura trinitária, que parece comum a todas as expressões do conhecimento humano: a tese/antítese/síntese da filosofia, a equação da matemática, o esquema actancial da narrativa, o esquema da comunicação… a santíssima trindade do catolicismo…
No caso vertente, a matriz é: acerca de algo /predicar/ algo.
É uma matriz curta, mas de relações complexas. Para as compreender, é necessário precisar bem os conceitos implicados.
Predicar é a função principal.
Desdobrando predicar: predicação, predicador, predicativo e predicado.
São estes os conceitos das relações possíveis na matriz da comunicação linguística.
Assim definidos:
– predicação: relação abstrata do predicado com o referente (sujeito);
– predicador: agente da predicação;
– predicativo: conteúdo da predicação;
– predicado: predicação concretizada.
Ao concretizar a predicação, o predicado pode ser:
– quanto à predicação, aditivo (a, b, c) ou reflexo (d);
– quanto ao predicador, suficiente (a), insuficiente (b, c, d);
– quanto ao predicativo, simples (a) ou composto (b, c, d);
Nota: a predicação é uma entidade abstrata, meramente teórica; o predicador e o predicativo são os verdadeiros operativos das funções sintáticas.
Exemplificamos:
a) O João escorregou.
b) O João partiu uma perna.
c) O João foi ao hospital.
d) O João ficou curado.
Funções sintáticas:
a) O João (referente) escorregou (predicador suficiente);
b) O João (referente) partiu a perna (predicado composto) partiu (predicador) a perna (modificador complementar do predicador);
c) O João (referente) foi ao hospital (predicado composto) foi (predicador) ao hospital (modificador suplementar do predicador);
d) O João (referente) ficou curado (predicado composto) ficou (predicador) curado (modificador intrínseco do referente).
Notas:
– modificador é aqui tomado como tudo o que interfere na significação de…
– é o conceito de modificador intrínseco do referente que conduz ao nome predicativo de sujeito (na nossa opinião, tão confusamente tratado pelas bíblias atuais).
Esta análise é simples, unitária e cobre todo o espectro significativo do predicado.
E permite ainda desmontar alguns mitos instalados:
a) o sujeito
– o sujeito é muitas vezes entendido como agente da oração; daí, o verbo transitivo, o intransitivo, o agente da passiva, as excepções…; comentário: aquilo a que se chama sujeito é, sempre, o referente do predicado (o verdadeiro agente/autor da frase é o comunicador);
b) o predicativo do sujeito
– predicativo do sujeito é tradicionalmente relacionado com um determinado predicado, alegadamente integrado por um dos verbos que constam de uma determinada lista; comentário: todos os predicados são, por definição, predicativos do sujeito (o que nem todos são é reflexos, ou seja, nem todos integram um predicativo intrínseco/imanente ao sujeito);
c) o predicativo do complemento direto
– o predicativo do complemento direto outra coisa não é senão a transposição, para português, do que acontece nas orações integrantes latinas, pelo que: o médico considerou que o João estava curado = o médico (referente) considerou (predicador) o João (modificador complementar do predicador) curado (modificador intrínseco do modificador complementar);
d) verbos transitivos indiretos
– não há verbos transitivos indiretos, porque não há complemento indireto sem complemento direto, pela mesma razão que não há segundo sem primeiro; quando se diz Cristo falou-lhes (aos discípulos), o verbo falar não é nenhum verbo transitivo indireto, porque falar significa dizer alguma coisa, logo Cristo disse coisas (complemento direto) aos discípulos (complemento indireto);
– nota: quando se perde a inspiração semântica, a sintaxe fica reduzida a subcapítulos da física (transitivo/intransitivo), da geometria (reto/oblíquo)… em vez de ser aquela estrutura mental, flexível e dinâmica, com que organizamos e comunicamos, linguisticamente, todo o conhecimento: em vez de ser, pois, aquele ato criador, capaz de acolher todos os níveis de língua, todas as funções da linguagem, todas as literaturas… No princípio era o Verbo…
e) o agente da passiva
– a forma passiva e as outras formas da frase são apenas isso mesmo – formas; o agente da passiva assenta no equívoco do sujeito como agente; a voz passiva é uma conjugação composta como outra qualquer; exemplo: a perna (sujeito) foi partida pelo João (predicado composto) foi partida (predicador insuficiente) pelo João (modificador complementar do predicador);
– nota: a forma passiva implica a autonomia do predicador relativamente ao predicativo; por isso, funciona como teste da distinção entre predicador insuficiente com modificador complementar e predicador insuficiente com modificador suplementar…;
f) complemento circunstancial
– o tradicional complemento circunstancial não distingue situações de natureza diferente; a presente análise permite defini-lo como modificador e relacioná-lo com a predicação, com a frase ou com o texto; exemplo:no dia seguinte (modificador de texto/narrativa), o João (referente), infelizmente (modificador de oração), foi ao hospital (predicado composto) foi (predicador insuficiente) ao hospital (modificador do predicador);
Nota: Esta perspectiva tem consequências óbvias na classificação das palavras, como veremos a seguir.
Conclusão: no ensino básico, separar a sintaxe da semântica é completamente inútil e dolorosamente frustrante!
Primeiro, sempre deve constar o nosso, dos consulentes, reconhecimento e agradecimento pelos esclarecimentos muito bem prestados a todos que fazem uso desse site.
Agora, procurando a regência do verbo constar, no dicionário eletrônico Houaiss 3.0, encontrei entre os usos este:
bitransitivo
2. ser informado; receber comunicação
Ex.: constou-lhes que teriam de devolver o imóvel
O que me deixou em dúvida foi ele ter dado o verbo como bitransitivo; pois eu entendo que nesse exemplo temos apenas um complemento indireto: lhes, e o sujeito: «que teriam de devolver o imóvel». Onde estaria o complemento direto? Gostaria que me esclarecessem.
Agradeço sua atenção.
Vivo em Angola, na província de Huambo, sou estudante, estou a necessitar de material de língua portuguesa concretamente livros e vocábulos do novo acordo ortográfico, como adquiri-los?
Qual o melhor dicionário já adaptado ao novo acordo ortográfico?
Após termos tido conhecimento da vossa resposta sobre o uso plural da palavra vegan, vimos por este meio alertar para o facto de já existir um neologismo português da palavra inglesa vegan que é: vegano (no género masculino), vegana (no género feminino) e respetivos plurais: veganos e veganas. A par disso, a filosofia de vida seguida por veganos e veganas é o Veganismo. Estes termos são usados há vários anos tanto por organizações portuguesas como brasileiras assim como pela imprensa de ambos os países.
Como associação representante da comunidade vegana em Portugal, agradecemos que acolham a nossa sugestão e corrijam a vossa que, a nosso ver, se apresenta desatualizada e pode suscitar confusão junto dos visitantes do vosso website.
No futuro, caso tenham alguma dúvida linguística relativamente ao Veganismo ou Vegetarianismo, agradecemos o vosso contacto para eventuais esclarecimentos.
Gratos pela vossa atenção.
Com os melhores cumprimentos,
A Direção.
Ainda não expressei, parece-me por isso um descuido, minha gratidão a Carlos Rocha: 28/09/2010, pela resposta à dúvida apresentada na data retro.
Atenciosamente.
O verdadeiro mal reside em que as estações de TV, as empresas de tradução e quejandos, não se apercebem o que estão fazendo à língua, e à nossa saúde mental. O baratinho parece ser a norma (...)
O caso foi a frase:
«Enviei a mensagem por um corredor (runner)».
Como seria simples, e desta vez correto, escolher entre: emissário, mensageiro, paquete, moço de recados, estafeta!
Começaremos, alguma vez, a sermos exigentes com a qualidade da "mercadoria" que nos impingem?
Junto um protesto: minha contribuição para um caso em debate (Quilos e libras) não tem merecido resposta. Porquê?
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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