Assisti embasbacado, [uma manhã destas], na minha nova esplanada, a uma discussão que eu, até hoje, nem sequer imaginava possível.
Três homens de meia idade e a mulher de um deles, o mais desengonçado pela passagem dos anos, debatiam apaixonadamente o uso e o significado do étimo relho, quando um deles teve o descuido de afirmar que o chapéu do outro é «velho e relho».
Ao longo da minha vida, que já não é coisa curta nem nada que se pareça, ouvi muitas vezes esta asserção e aceitava-a como sinónimo pacífico e reconhecido pelas pessoas normais.
Quão longe eu andava a realidade!
Dado o meu feitio, não será de estranhar que eu esteja deliciado e entretido com duas enciclopédias, vários dicionários, um deles enciclopédico em dois volumes ilustrados, e outro da minha idade, bem como os digitais, ou seja, on-line, como agora se diz.
Todos registam significados próximos ou semelhantes, mas a Infopédia da Porto Editora diverte-me especialmente ao registar que o relho é um «açoite feito com uma tira de couro torcida; fivela com que as senhoras apertavam os cintos; variedade de truta pouco frequente em Portugal que cresce no mar e emigra para a água doce, e é também conhecida por truta-marisca».
A tudo isto junta «sem relho e nem trambelho» e «sem fundamento nem razão».
E, se tivermos a pachorra de ir até à sinonímia brasileira, vamos nadar num mar de utilizações possíveis, conceitos e preconceitos que não resisti a transcrever, mas tenho de parar aqui, porque a minha pachorra começa a fraquejar.
Jornalista