A língua portuguesa sempre (?) teve palavras homógrafas cuja pronúncia se entende pelo contexto. «O meu clube tem sede em Lisboa e tem sede de vitórias.» Mas o novo AO, ao abolir o acento na palavra pára, faz com que eu, quando escrevo ao abrigo deste acordo, fuja dessa palavra como o diabo da cruz! Muitas das frases é preciso ler duas ou três vezes para ter a certeza se se quer dizer /pára/ ou /pâra/, mas outras é mesmo impossível! Não creio que seja só falta de hábito: são duas palavras frequentíssimas na língua portuguesa e tê-las homógrafas exponencia a probabilidade de tornar frases ambíguas ou de difícil compreensão. Foi com certeza por essa razão que tiveram o bom senso de não eliminar o acento diferenciador da palavra pôr... Emendar um AO há de ser difícil, mas não pode ser uma tarefa hercúlea! Ainda há 3 ou 4 décadas, sei que aboliram o acento de ràpidamente por ser desnecessário e não precisaram de um novo AO para isso! Afinal, quem tem autoridade para propor revisões pontuais ao Acordo agora vigente?
Li [a referência] do Ciberdúvidas sobre uma tradução portuguesa da Guerra e Paz do russo. Ora, esta obra já foi traduzida, há anos, por Nina e Filipe Guerra. Felizmente, estes tradutores têm traduzido inúmeras obras de Tolstói, mas também de Tchékhov, Dostoievski e outros escritores russos para editoras portuguesas. Também, a qualidade destas traduções é conhecida.
O especialista A. Tavares Louro respondeu aqui no Ciberdúvidas, em 16/04/2007, a uma pergunta sobre Os frutos da nespereira. A explicação de Tavares Louro está correta! Mas a questão é mais profunda!
Vejamos: de facto, a nêspera, fruto da nespereira (eriobotrya japonica), no Minho designa-se popularmente por magnório, embora o Dicionário Houaiss só refira a palavra magnólio! O problema é que os minhotos chamam néspera a um fruto completamente diferente, da árvore mespilus germanica, e têm alguma razão. Tendo em conta este facto, parece-me que, ao contrário do que afirma o Dicionário Houaiss e Tavares Louro, não se trata de um regionalismo, para atribuírem essa designação, pois existe outra fruta que se pode chamar nêspera! A mespilus germanica também é designada por nespereira por especialistas em fruteiras:
(1) - http://www.planfor.fr/comprar,nespereira-comum,1531,522,list,PO,522
(2) - http://frutasraras.sites.uol.com.br/mespilusgermanica.htm
(3) - http://guiaverde.com/guia_de_plantas/mespilus_germanica_2534?id_lang=3
(4) - http://pt.dreamstime.com/foto-de-stock-n-ecircspera-ou-mispel-mespilus-germanica--image18107720
(5) - http://www.linguee.com.br/portugues-ingles/traducao/n%EAspera.html
Este espaço seria perfeito, se quem a ele recorre tivesse um horizonte temporal para o retorno ou até a certeza de que tal retorno aconteceria. Mas como não há nada perfeito neste mundo, vou retomar o assunto, cuja forma de apresentação estava pendente de uma informação que ainda não chegou.
Assunto: "Ainda sobre frase, oração e período"...«Mas, se o consulente sabe de uma alternativa à compartimentação do DT ou tem investigação elaborada nesse sentido, resta-nos esperar pela divulgação de tais propostas».
Carlos Rocha:: 29/09/2011
Comentário: Parece-me óbvio que só "um quadro teórico capaz de os (fenómenos da comunicação) explicar ou interpretar globalmente" interessa para o caso.
A comunicação linguística realiza-se numa sucessão de planos, replicando-se do maior para o mais pequeno, um pouco como as matrioskas. O contexto dá sentido ao texto; o texto (período), à frase; a frase, à palavra; a palavra à sílaba. Como estamos num processo de explicitação, é natural e essencial que este sentido e esta ordem sejam respeitados. A tradicional abordagem ocasional e circunstancial dos conteúdos não contempla a sua articulação e inevitavelmente falha o mecanismo da comunicação linguística, que é o âmago da questão. Fornece peças, mas não as monta. E fatalmente as coisas não funcionam. Então, o que se impõe, na planificação, é organizar os conteúdos, quer segundo o eixo sintagmático, quer segundo o eixo paradigmático. Pondo as peças ao acaso, nunca se fará funcionar um motor!
No caso que motivou esta troca de ideias, parece-me óbvio, mais uma vez, que a sequência, geradora de sentido, seria: OBRA-TEXTO-PARÁGRAFO-PERÍODO-ORAÇÃO...
O erro começa logo nos Novos Programas, para o serviço dos quais o Dicionário Terminológico foi concebido: ao colocarem o domínio CEL à parte dos outros, cometem o pecado original de não considerarem estes como conhecimento explícito...
Não é nada disso. . .
[Vossa resposta]
Se 800 libras são 362,873 896 quilos, não vejo impedimento para que na tradução se use a medida em kg, até para a tornar de leitura mais acessível. Mas se o consulente acha que as alusões ao contexto cultural devem ser preservadas, de modo a indicar que a acção se desenvolve nos EUA ou no Canadá, ou noutro país anglo-saxónico, assim seja. Lembro que, nas legendas de filmes e séries, se diz sempre que A fica a x milhas de B. Pela mesma ordem de ideias, também se poderia ter usado a unidade de medida em apreço, a libra.
Carlos Rocha :: 29/09/2011
Caro Sr. Carlos Rocha
Depois desta sua resposta deixa-me o Sr. em insanável perplexidade, como seja:
a) Não percebeu, muito embora eu o tenha explicitamente indicado, onde reside o problema, e neste caso será improducente, por inútil, a minha insistência.
b) Entendeu muito bem, mas não quer admitir aqui, que não respondeu à questão em causa: circunstância que também não me dá quaisquer esperanças de sairmos do impasse.
Nota
Eu não quero pô-lo na posição de que, na sua opinião, a tal guarda de caça (bióloga) teria de dizer ao MacGiver perante as pegadas no chão enlameado: é de urso, pesa 362, 873 896 quilos, o que seria demasiadamente comprometedora para o estatuto que detém, mesmo admitindo, metaforicamente, a quem é confiado o apito, é precisamente quem interpreta as peripécias do jogo, não a um treinador de bancada como eu.
Posso, dá-me licença, que eu continue a dizer, teimosamente, que o urso pesará 400 quilos (e que, claro, mais coisa menos coisa fica subentendido)? É que se aprende na Escola que a apresentação do resultado numérico da determinação de uma grandeza deve de estar de acordo com o rigor do método/aparelho com que foi determinada. Tão só, para que, afinal, o contexto não entre em colisão com o texto. . .
Gostaria de remeter todas estas dúvidas relativas a gentílicos para esta lista de Estados, territórios e moedas, publicada (e sempre constantemente actualizada) pelo Código de Redacção Interinstitucional do Serviço de Publicações da União Europeia.
Como se poderá verificar, nessa lista, os habitantes do Cazaquistão são denominados cazaques, do Usbequistão, usbesques, etc.
Creio que esta lista poderá ajudar a eliminar muitas dúvidas.
Há algum tempo que acompanho o vosso interessante e muito útil sítio na web. Não tinha tido ainda a oportunidade de vos dar pessoalmente os meus parabéns por um bom trabalho, e único no Ciberespaço, que me conste, em prol da língua portuguesa. Aproveito então o ensejo de uma dúvida para fazê-lo.
Quanto à minha dúvida em concreto, prende-se com o ensino de Português a estrangeiros, nomeadamente no que respeita às questões do vocabulário. Pergunto-me se existirá algum documento oficial a nível nacional ou de outro país dos PALOP que defina o vocabulário essencial a cada nível de ensino da língua.
No Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas do Conselho da Europa, documento a meu ver mais balizado para esta definição, a mesma é apresentada de forma muito vaga mediante noções de competências, mas não se aborda directamente a questão concreta do vocabulário essencial a cada nível de aprendizagem. Não cabe obviamente aqui a questão porque não o faz, o que daria azo a um artigo sobre o assunto.
Existe ainda, no entanto, o Nível Limiar, documento essencial nas primeiras definições europeias de níveis linguísticos e que ficou célebre pela sua abordagem inovadora, por sua vez também do Conselho da Europa, mas bastante anterior ao primeiro. Encontra-se o mesmo, infelizmente, e na minha modesta opinião, de certa forma datado no tempo, tendo tido a sua publicação no ano de 1988, altura em que se davam os primeiros passos, de certo modo ainda incertos, na definição do ensino/aprendizagem de línguas na Europa.
Não é minha intenção denegrir aqui tão importante documento não apenas pela sua grande inovação à época, mas acima de tudo pela utilidade do mesmo a nível de estudos posteriores. A minha dúvida prende-se tão-somente com a questão de existirem outras ferramentas dentro da categoria das já mencionadas que se encontrem porventura mais actualizadas e apresentem um vocabulário essencial (caso do Nível Limiar) ou vocabulários definidos de acordo com os níveis de proficiência actualmente reconhecidos (níveis de competência do Quadro Europeu Comum de Referência mencionado).
Não vos querendo tomar mais tempo, pois imagino o quanto vos é precioso na elaboração de tão importante projecto como é o Ciberdúvidas, agradeço desde já a vossa boa atenção e disponibilidade para este meu assunto, certo de que o mesmo terá a melhor resposta que vos for possível da vossa parte. Creiam-me um leitor fiel e regular seguidor do vosso utilíssimo sítio e bem-hajam pelo vosso trabalho.
Com os melhores cumprimentos,
David Aboim
Acompanho diariamente com muito interesse o Ciberdúvidas e aprecio, particularmente, a seção Montra de Livros. Já tive oportunidade até de sugerir a inclusão de dicionários e livros sobre a língua portuguesa, publicados no Brasil. Alguns, não sei por quê, não foram incluídos, o que não me compete criticar, apenas comentar. Mas devo criticar o fato de que algumas inclusões permanecem por meses a fio, deixando escapar a oportunidade de renovar com mais frequência as sugestões de leitura ou compra, tanto em Portugal quanto no Brasil e outros países lusófonos, tão úteis a quem se dedica ao conhecimento ou ensino do idioma.
Cordialmente,
Paulo Mario Beserra de Araújo.
Brasil
Queria agradecer a todos aqueles que fazem existir este site!
Maria João Rocha
Lisboa - Portugal
Dizem muitos entendidos que a língua é como a roupa. Conforme a situação se usa. Assim como seria ridículo ir de fraque escalar os Alpes ou ir de botas de alpinista para um casamento, seria também ridículo usar linguagem erudita em situações coloquiais ou populares e vice-versa. Nada mais confuso, nada mais enganador! A comparação é boa, aliciante e sugestiva, por isso ela é extremamente perigosa e tem de ser denunciada, aos quatro cantos.
E por que está errada? A língua é de índole completamente diferente. A comparação, então, só se aplica parcialmente e, por isso, é tão enganadora.
A primeira grande diferença nesta comparação tem a ver com o uso. Geralmente, a roupa se conserva por não usar, e quanto mais se usa, mais se gasta e se deteriora até se ter de comprar uma nova. A língua é completamente ao contrário. Paradoxalmente, se não se usa, gasta-se e deteriora-se. Por outro lado, quanto mais se usa a língua, e se usa bem, mais nova, brilhante e vigorosa fica.
A segunda diferença tem a ver com a estrutura. A língua tem uma estrutura orgânica, mais parecida com o corpo humano do que com a roupa. De alguma forma, a gramática é o seu esqueleto. Ora, alguém, normalmente, pensa mudar de esqueleto, conforme as circunstâncias? Loucura!
A primeira conclusão que podemos tirar é de que devemos incentivar o uso do núcleo da linguagem erudita e ensiná-la desde a tenra idade, e não confundir as pessoas com padrões diversos: focar, ensinar e disseminar o padrão, e referir e explicar os desvios. Como diz o velho ditado “Para baixo todos os santos ajudam”. A vida encarregar-se-á de ensinar os desvios a cada um, que saberá encaixá-los no seu quotidiano. Só o uso frequente e o respeito por um padrão erudito nuclear aumentará a eficiência linguística e a comunicabilidade sem ambiguidade e confusão.
A segunda conclusão é de que se deve insistir no núcleo do padrão da linguagem erudita na grande maioria das situações. Isto não impedirá o uso de qualquer desvio em qualquer circunstância, pelo contrário, este terá um novo sabor se tivermos claro o padrão. Da mesma forma isto não será um desrespeito pelas diferenças. Antes, quanto mais claro, eficiente e unívoco for o idioma de intercomunicação, melhor repararemos nas diferenças regionais, sociais, etc, e as saborearemos e partilharemos, sem confusões.
Deste modo, não tem sentido, por exemplo, o fato de que são muito raros os filmes brasileiros onde seja respeitado o padrão linguístico exigido numa prova de vestibular; mesmo em filmes dublados, estrangeiros e referentes a épocas antigas.
O que muitos desses senhores que desejam a confusão querem, eu sei o que é: que o povo ande com roupa na língua, enquanto eles, com a sua nua e agitada, chicoteiam as massas, dominando-as. E àqueles que não conseguem dominar, entretêm-nos com atividades culturais, onde os elogios recíprocos os anestesia da situação atual do idioma, ou lhes dá uma falsa esperança de que essas atividades vão contribuir alguma coisa para a elevação cultural do povo.
Não tenho dúvidas: não há emancipação sem emancipação linguística. Não há igualdade de oportunidades sem a mesma fluência no padrão nuclear linguístico, para todos.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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