Além das observações deste consulente, já se receberam muitas outras críticas, que pareceram justas e que acabaram por pesar na decisão tomada, a da retirada do texto das páginas do portal e do Facebook. Sobre as mesmas considerações, parecem elas um necessário apelo à moderação no debate, que muitas vezes dá indícios de ter a dimensão de um conflito também cultural e político, o que não admira, porque a língua é uma atividade social.
Entretanto, quanto ao final do texto do consulente, na crítica ao que parece configurar "duas medidas" no Ciberdúvidas, a questão talvez não resida nas opções editoriais e na equipa de consultores, porque, quando se compara português europeu (PE) e português brasileiro (PB), e sem recorrer à observação do uso conforme se regista em corpora linguísticos, as próprias visões e doutrinas normativas podem não ser simétricas: em PE, o sistema você/-vos/vosso não motiva grande censura nem sequer sobressalto – não, com a dimensão ou a intensidade equivalentes que se afiguram associadas à censura que você/te/teu possa ter entre gramáticos em PB.
Acresente-se que no Ciberdúvidas se procura conjugar a análise e classificação tradição com os dados facultados pelos métodos da linguística, a fim de detetar padrões e tendências do uso, aceitando que convém à norma ter estabilidade, sem ser imutável. No caso do PB, não se vê razão para não considerar esses métodos, que podem abranger os textos jornalísticos e outros, sem excluir os usos literários que, entretanto, a partir do século XX sofreram também mutações, até na própria definição de modelo de linguagem literária. Ou seja, em matéria de discussão da norma, será sempre desejável que nas diferentes rubricas do Ciberdúvidas se diversifiquem os pontos de vista nesse âmbito.
Se, no momento em que se escreve esta resposta, uma perspetiva sobre a definição de norma no Brasil se salienta mais nas páginas do portal, não quer isso dizer que depois não se disponibilizem textos com outras propostas, complementares ou mesmo antagónicas. Por exemplo, fazem falta mais textos em que, em mais perspetivas, com ponderação e com a isenção possível, se dê conta do que está a acontecer no Brasil à volta da discussão da norma, do ensino da língua portuguesa e da relação com as outras variedades normativas de português, nomeadamente, com a de Portugal e com as que estão a desenvolver-se em África.
Ficamos, portanto, abertos a sugestões para a divulgação de artigos que contribuam para essa avaliação.