Sobre alguns aportuguesamentos
Antes de mais nada, parabéns pelo site!
Gostaria de começar por referir duas palavras que encontrei em livros da editora Saída de Emergência: "dracares" e "escaldos". Fiquei chocado com estas grafias para palavras que, a mim, me parecem ser muito mais naturalmente escritas (como, aliás, sempre as escrevi,) drakars e skalds. Por diversos motivos: primeiro, são termos que procuram evocar um determinado ambiente (no caso, os livros eram de Fantasia Medieval) que "dracares" e "escaldos" falham em conseguir evocar. Segundo, chega a ser difícil até mesmo reconhecer o que significam estas palavras (admito que demorei vários segundos a aperceber-me do que queria o tradutor dizer com a palavra «escaldos»). Terceiro, sendo palavras tão específicas, faria sentido grafá-las de um modo a que se torne fácil descobrir o seu significado – e claramente haverá mais pessoas a saber o que é um skald do que um "escaldo". Por fim, não são palavras completamente assimiladas na língua portuguesa, sendo usadas com pouca frequência e quase sempre em contextos específicos (trabalhos especializados ou de Fantasia).
Dados estes pontos, não faria mais sentido o uso do termo estrangeiro? Não estaremos a chegar ao ponto em que procuramos aportuguesar com uma frequência para lá do aceitável? Vem-me à memória o assustador «blecaute» que eu vi num site da Internet — ou deveria dizer, num «sítio»? Dito isto, fico na dúvida sobre se será correcto utilizar o termo original após a oficialização da norma portuguesa: escrever dossier em vez de «dossiê», palmier em vez de «palmiê», e, já agora, blackout em vez de «blecaute». A dúvida mantém-se no caso da pronúncia: sou «obrigado», digamos assim, a pronunciar /dɾɐkaɾɨʃ/ em vez de /dɹɑkɑɹz/?
