Apreciei muito a sua mensagem. O seu desejo de protecção da língua justifica o maior desenvolvimento nesta minha resposta.
Começo por sublinhar que não existe nada resignação geral na aceitação do *scâner inventado no Dicionário da Academia 2001, obra tão apreciável nalgumas coisas. Por exemplo, o recente Grande Dicionário da Porto Editora remete o termo para o inglês “scanner” e é nesta entrada que apresenta as acepções do verbete. Num nível mais modesto, escrevi (na Nota Especial sobre a 3.ª Versão do «Prontuário» da Texto) que tinha preferido o inglês “scanner” a *scâner palavra aportuguesada, porque o grupo inicial sc está banido da nossa língua desde 1931.
Esta ideia peregrina da respeitada Academia em fazer ressuscitar o grupo inicial sc só pode atribuir-se ao desejo de seguir o inglês, com a desculpa de que se baseia no latim. Ora, o latim é ainda precioso como elemento histórico de compreensão do idioma, mas quem considera a língua um organismo vivo não aceita que a adornem com flores mortas (senão teríamos de considerar a hipótese de voltar a escrever *sciência, por exemplo...).
Acontece que não foi só o (para mim, mamarracho...) *scâner que me escandalizou no laborioso dicionário da Academia. Também não consegui aceitar, por exemplo, entre outros, o *stande, o *stafe, o *stique, o *stresse. Neste caso, trata-se da adopção do grupo inicial st, que sempre se converteu na língua em es (ex.: estádio do lat. `stadiu-´), conversão aliás bem feita no mesmo dicionário em estoque (de “stock”), em estêncil (de “stencil”), em estandardizar (de “standardize”), ou nos termos bras.: estande, estique, estresse (cujo respeito e dignificação da comum língua muito aprecio).
Sempre tive a ideia de que, num dicionário, uma das suas características fundamentais fosse a coerência. Mas, enfim, aceito que esteja errado; e ocorre-me parafrasear a famosa frase atribuída, pelo «filósofo rei e rei dos filósofos» (apud Henry e Danna Thomas), ao seu heróico e amado mestre Sócrates: `como pode a menor importância das minhas opiniões competir com tamanha sabedoria?´
Para terminar, lembro que para “scanner” sugeri `escâner´; mas como eu próprio também não gosto lá muito deste termo, repito que vou continuar com o inglês “scanner” (aspas ou itálico), como continuo, por exemplo, com o francês “croissant” (aspas ou itálico), em vez de *croissã considerada palavra portuguesa e pronunciada *¦kruá¦, pois a grafia do ditongo oi pronunciada *¦uᦠé também para mim absolutamente inaceitável.
Ao seu dispor,