Considera-se que «em Biologia» é mais correto que «a Biologia», mas este último uso não configura erro claro. Sendo assim, diremos que se recomenda «em Biologia», embora «a Biologia» seja aceitável (ver aqui e nos Textos Relacionados, nesta página à direita).
Quanto a destacar, tradicionalmente considera-se – ou considerava-se – que este verbo constituía um galicismo, como observa o Dicionário Houaiss em nota de uso à entrada do referido verbo: «em sentido não militar, considerado galicismo pelos puristas, que sugeriram em seu lugar: salientar, distinguir, discernir, ver ao longe». O mesmo juízo se aplica /aplicava ao derivado regressivo deste verbo, destaque: «vocábulo considerado galicismo pelos puristas, que sugeriram em seu lugar: evidência, realce, relevo».
Contudo, não se julgue que todas as ocorrências de destacar são/eram condenáveis. Na verdade, quando o verbo significa «enviar», aceita-se como item adotado em sentido militar. O que se censurava, por exemplo, entre certos autores de doutrina normativa em Portugal, era o emprego de destacar na aceção de «avultar, distinguir(-se), salientar(-se), sobressair, realçar, considerar particularmente». Este era o caso de Cândido de Figueiredo, que na 1.ª edição (1899) do seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, observava que destacar, «[c]om a significação de 'tornar saliente', 'separar', 'distinguir', é considerado galicismo dispensável», ao mesmo tempo que o filiava no francês détacher (segundo este autor, derivado de de + tache). Este preceito/censura foi retomado por Vasco Botelho de Amaral, no seu Grande Dicionário de Subtilezas e Dificuldades do Idioma Pátrio, de 1958. Mesmo assim, é de assinalar a curiosa posição de Napoleão Mendes de Almeida, o conhecido gramático prescritivista brasileiro, que não era especialmente hostil a destacar e destaque. Com efeito, aceitava que, além do significado militar associado, o verbo se empregasse como sinónimo de salientar-se ou sobrelevar-se, situação que justificava como uso em sentido figurado; e acrescentava: «Aceito o verbo, forçoso é que aceite o substantivo: pessoa de "destaque".»
Deve ainda discutir-se a questão da origem de destacar, cuja relação com o francês détacher não parece tão direta como pretendia Cândido de Figueiredo e outros estudiosos. O Dicionário Houaiss decide-se por classificar como controversa a origem deste verbo, apesar de referir a hipótese de se tratar de adaptação do francês détacher, que teria passado ao castelhano como destacar; o português viria ou diretamente do francês ou por via do espanhol.
Necessário é contrapor que, quer em português, quer em castelhano, parece estranho que o francês détacher se adaptasse segundo critérios filológicos, que permitiriam restituir o ch"francês a um suposto étimo latino *destaccare. Talvez a forma ibérica se tenha formado independentemente da francesa, ou que tenha mais que ver com o italiano staccare. Nesse caso, considerando que détacher deriva de attacher (Cândido de Figueiredo parece errar, portanto, na identificação da origem de détacher), dir-se-ia que o vocábulo francês constitui a adaptação medieval de uma forma germânica ocidental, enquanto as formas ibérica e a italiana distaccare provirão direta ou indiretamente de uma forma também germânica, mas do sub-ramo oriental, isto é, do gótico *stakka, que deu em castelhano e português estaca/estaca1.
Tudo isto sugere que destacar, ainda que possa ter interferência semântica do francês détacher, se tenha desenvolvido em contexto românico ibérico. Ao encontro desta hipótese viria a etimologia proposta por J. P. Machado no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, onde se data do século XIII o uso mais recuado do verbo. Acontece, porém, que Machado não indica que textos atestam o uso de destacar no século XIII. Mais prudente será dar atenção ao que se sabe sobre destacar em castelhano, que se documenta desde o século XV e mais abundantemente a partir do século XVI, já com um significado próximo do que se atribui ao destacar português na atualidade:
(1) «quán grandes e destacados e continuos fueron los seruiçios e trabajos e esfuerço de su general capitán el Duque de Alua» (1535, texto de Gonzalo Fernández de Oviedo, Batallas y quinquagenas, in Corpus del Nuevo Diccionario Histórico del Español).
Sabendo que entre o século XV e o século XVII foi intenso o contacto do português com o castelhano2, afigura-se plausível, portanto, a probabilidade de destacar ter tradição bastante mais antiga em português.
1 No entanto, Joan Coromines e José Antonio Pascual, no Diccionario Etimológico Crítico Castellhano e Hispánico (2012), consideram que détacher foi reinterpretado em castelhano de acordo com outro verbo: «Destacar en la ac. militar [1728] podría venir del it. distaccare íd., derivado de staccare [...], pero teniendo en cuenta la fecha de aparición y el carácter de neologismo que le atribuye Aut. (1732), es más probable el origen que indica este diccionario: fr. détacher íd. (castellanizado según el modelo de atacar = fr. attacher); détacher tiene, como attacher, el mismo origen que el it. sttaccare, attaccare; en la ac. pictórica, destacar procede del it. staccare. [...].»
2 Cf. Fernando Venâncio, Assim Nasceu uma Língua, Lisboa, Guerra e Paz, 2019, pp. 137-150.