Encontra-se registo das duas formas – potreia e putreia – com significados diferentes, ainda que próximos, marcando uma apreciação negativa, conforme se regista no dicionário de Caldas Aulete:
«putreia – s. f. || podridão. || O que não presta: Os aviamentos do Calhorra iam em crescendo, o que supunha maior consumo de metal verdadeiro para colorir a putreia. ( Aquilino Ribeiro, Volfrâmio, c. 5, p. 162, 4.ª ed.) [É melhor forma que potreia.] F. r. lat. Putredo (putrefação).»
«potreia – s. f. || (pop.) bebida desagradável, mal saborosa; especialmente vinho estragado, adulterado. || (P. ext.) Coisa ruim. Cf. putreia. F. lat. Putridus.»
Estas palavras e as suas definições são reiteradas por Elviro Rocha Gomes, Glossário Sucinto para melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, Porto Editora, 1959):
«Putreia – mixórdia, restos de decomposição de substância orgânica.»
«Potreia — bebida estragada e de mau gosto, porcaria.»
Mais recentemente, só a forma potreia encontra entrada em dicionários tanto de Portugal como do Brasil, que consignam também a variante pótrea; e a respetiva informação etimológica indica sobretudo que é obscura a origem da palavra (cf. Priberam e Dicionário Houaiss).
Quanto ao sentido a dar a «negros», em «uma putreia, comida para negros», o mais provável é que o autor se refira literalmente a pessoas de pele escura sujeitas a maus-tratos, em situação não substancialmente diferente da dos tempos da escravatura, o que não era invulgar no contexto do colonialismo existente na época em que foi escrito o romance Terras do Demo, obra publicada em 1919.