A frase em questão apresenta um caso particular de subordinação infinitiva, que recebe o nome de construção de elevação do sujeito a complemento1.
Verbos como mandar, designados causativos, pedem como argumento uma oração subordinada infinitiva que funciona como seu complemento direto, como acontece em (1) onde se destaca com parênteses retos o complemento direto:
(1) «Mandou [o João ficar calado].»
Ora este tipo de construção pode sofrer um processo de ajustamento sintático no qual o sujeito da oração subordinada passa a ser complemento direto do verbo da oração principal. Esse fenómeno fica evidente quando substituímos o sintagma nominal «o João» por um pronome e percebemos que ele assume a forma acusativa, o que indica que passou a desempenhar a função de complemento direito de mandar, como em (2), onde se destaca a oração subordinada:
(2) «Mandou-o [ [-] ficar calado.]
Na frase (2), observamos que o pronome o é, funcionalmente, complemento direto de mandar, mas semanticamente continua a ser o sujeito do verbo ficar, o que se assinala por [-]. Esta subida do sujeito à função de complemento direto não é pedida pelo verbo mandar, cujo argumento natural é a oração que indica a ação que resulta da ação do verbo causativo.
Por esta razão, na frase apresentada pela consulente, aqui transcrita em (3), o pronome me é, do ponto de vista funcional, um complemento direto:
(3) «Mandou-me [ [-] ficar [onde estava]].»
Finalmente, a oração subordinada substantiva relativa «onde estava» está dependente do verbo ficar funcionando assim num plano de análise interior à oração infinitiva. Ora, o verbo ficar é, de acordo com o previsto no Dicionário Terminológico, um verbo copulativo, pelo que se constrói com predicativo do sujeito. Desta forma, na frase (3), o constituinte «onde estava» desempenha a função de predicativo do sujeito.
Advirta-se, por fim, que, dada a complexidade que esta análise convoca, esta não será uma situação ajustada ao estudo em contexto não universitário.
Disponha sempre!
1. Cf. Barbosa e Raposo in Raposo, Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1957-1961.