O Dicionário Houaiss (1.ª edição brasileira, de 2001) consigna ambas as formas verbais, mas a verdade é que a lexicografia parece conhecer apenas a forma curiosar. Por exemplo, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado acolhe curiosar, com o significado de «espiar curiosamente», mas não tem entrada para curiosear. No entanto, esta forma verbal não é de todo desconhecida, a avaliar pela seguinte passagem:
«O vasto curiosear deambulatório, que em Fradique teve por perímetro a Terra toda, em nós limitou-se naqueles dias a um espiolhar arqueológico de alfamas e mourarias, com tortuosas vielas e pitorescas fadistices. […] tão pacientemente metódicas haviam sido minhas viagens por bairros mouriscos e velharias típicas! Assim substituíamos nós o babismo, a Índia, o Egito, a China pelo mofo dos museus lisboetas...» (Fidelino de Figueiredo, Sob a Cinza do Tédio: Romance de uma Consciência, Coimbra, Nobel, 1944, pág. 14).1
Na verdade, este verbo tem forma homóloga, curiosear, em espanhol, língua em que tem tradição. É possível que se trate de um castelhanismo de Fidelino de Figueiredo (1888-1967), estudioso e grande aficionado da cultura em castelhano. Refira-se que curiosear, cujo sufixo -ear é muito produtivo em espanhol – cf. cotillear, chismorrear, husmear, verbos usados no sentido «bisbilhotar, coscuvilhar, mexericar, fofocar» (cf. dicionário da Real Academia espanhola) – figura no dicionário de espanhol-português da Porto Editora, como equivalente de bisbilhotar.
1 Agradece-se a Paulo J. S. Barata a identificação desta ocorrência de curiosear. Sobre a obra de Fidelino de Figueiredo, consultar o volume comemorativo do seu centenário Fidelino de Figueiredo 1888-1967 (Lisboa, Biblioteca Nacional, 1989).