As respostas dadas às duas perguntas não entram em contradição. Para compreender o que é afirmado em cada uma delas, é importante distinguir dois contextos de ocorrência do pronome relativo quem. Este pode, por um lado, surgir em oração subordinadas relativas substantivas. Estas orações caracterizam-se pelo facto de o pronome relativo não ter antecedente expresso. É o que acontece em (1):
(1) «Quem tudo quer tudo perde.»
Por outro lado, o relativo quem pode também surgir em orações subordinadas relativas adjetivas, que se distinguem das anteriores pelo facto de o pronome relativo ter um antecedente. É o que se verifica em (2), onde se sublinha o antecedente:
(2) «Falei com o funcionário a quem pediste um favor.»
São estes dois contextos distintos que criam condições para o relativo quem exercer funções sintáticas distintas.
Assim, quando surge em orações subordinadas relativas substantivas, não tendo, portanto, qualquer antecedente expresso, o relativo quem pode desempenhar diferentes funções dentro da sua oração:
(3) «Quem me conhece sabe do que falo.» (quem = sujeito)
(4) «Reconheci quem encontraste na festa.» (quem = complemento direto)
(5) «Disseram-me a quem telefonaste.» (a quem = complemento indireto)
(6) «Descobri de quem fala o livro.» (de quem = complemento oblíquo)
(7) «Sei quem tu és.» (quem = predicativo do sujeito)
Porém, nos contextos em que o relativo quem introduz orações subordinadas relativas adjetivas, ou seja, orações que têm um antecedente expresso, este tem algumas limitações: só pode surgir em frases com o antecedente com o traço semântico [+humano], que refira, portanto, pessoas; o pronome surge antecedido de preposição e desempenha as funções de complemento indireto ou de complemento oblíquo:
(8) «Encontrei o funcionário a quem pedi ajuda.» (a quem = complemento indireto)
(9) «Encontrei o funcionário de quem me falaste.» (de quem = complemento oblíquo)
Perante o que ficou dito, a frase aqui apresentada em (10) está correta porque nela o pronome relativo integra uma oração subordinada relativa substantiva, não tendo, desta forma, antecedente:
(10) «Sei quem a Rita encontrou no cinema.»
Neste caso, o relativo quem desempenha a função sintática de complemento direto.
Já a frase transcrita em (11) está incorreta porque o pronome relativo quem integra uma oração subordinada relativa adjetiva, ou seja, com antecedente expresso.
(11) «*Chegou o rapaz quem conheci.»
Como ficou dito, com orações adjetivas, o pronome relativo terá de surgir introduzido por preposição e apenas nas funções sintáticas de complemento indireto ou complemento oblíquo. Nesta frase, o pronome quem pode ser substituído pelo pronome relativo que, o qual tem capacidade de surgir em contextos sintáticos mais diversificados:
(12) «Chegou o rapaz que conheci.»
Disponha sempre!
*indica a agramaticalidade da frase.