Não há dúvida de que o comentário de um polícia para outro — «Estes polícias do Corpo de Intervenção só percebem é de porrada» — se trata de um enunciado do discurso oral, em que o emprego da forma verbal «é» intensifica o sentido da mensagem, ou seja, o da opinião/avaliação do autor sobre o Corpo de Intervenção.
Nessa fala, tal forma verbal do verbo ser é usada intencionalmente, como expressão de realce, gerando um subtipo de construção de clivagem1.
Apesar de essa expressão não ser essencial à frase, o seu emprego não é fator de incorreção, pois serve para enfatizar o sentido que se quer conferir à mensagem. Destaca-se, sobretudo, como marca (oralizante) de um discurso empolgado.
1 O processo em que a forma «é» do verbo ser põe em destaque a palavra «porrada» (que pode ocorrer à direita ou à esquerda do verbo) — «Estes polícias do Corpo de Intervenção só percebem é de porrada» ou «Só de porrada é que os polícias do Corpo de Intervenção percebem» — insere-se no das construções de clivagem que está presente nas frases que têm «condições de verdade idênticas à frase simples e de veicularem no essencial o mesmo significado» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 683). Esse processo ocorre frequentemente com a sequência «é que», como se pode verificar nas seguintes frases: «O queijo é que o corvo comeu.» = «O corvo comeu o queijo.»