O uso do advérbio não aqui apresentado constitui um caso de negação expletiva1. É uma situação que ocorre com alguma frequência no português na qual a palavra negativa não tem qualquer valor de natureza semântica, não contribuindo para a construção de uma frase negativa. Esta é, antes, usada apenas como marcador enfático, com a função de realçar um dado constituinte da frase. Uma vez que a sua função é apenas fática, estes operadores negativos podem ser retirados da frase sem afetar a sua gramaticalidade.
Relativamente à gramaticalidade destas construções, afirma João Peres na Gramática do Português: «trata-se de construções sobre que é difícil – e talvez imprudente – proferir juízos de gramaticalidade, sendo de admitir, pela sua grande frequência, que já estão legitimadas como marcadores enfáticos.» (pp. 480 – 481)
Nesta mesma gramática são apresentados alguns exemplos desta construção. Transcrevemos três:
(1) «O que eles não terão sofrido para subir aquela montanha!»
(2) «Quantas pessoas eu não conheço que aceitariam este trabalho!»
(3) «Imagino o que não vai ser preciso gastar nestas obras!»
Disponha sempre!
1. Uma palavra expletiva contribui para expressar o reforço de uma ideia ou para lhe associar um valor de ênfase. A construção «é que» é um exemplo de elemento expletivo: «Ele é que sabe.»