«Na escola, estuda-se muito o livro desse escritor.» é o caso de uma passiva pronominal ou passiva reflexa, em que «O livro desse escritor» é o sujeito da frase: se começarmos a frase pelo referido segmento, «O livro desse escritor estuda-se muito na escola.», verificamos que o verbo pode ser substituído pela forma passiva, «é estudado», o que nos leva a concluir que este «se» é uma partícula apassivante, ou pronome apassivador, segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo , pág. 308. (Exemplo: «Ouve-se ainda o toque a rebate.» Bernardo Santareno, A Traição do Padre Martinho)
É de notar que na voz passiva pronominal, a língua moderna omite sempre o agente. («Aumentou-se o salário dos gráficos.»)
Vejamos sobre este assunto a Gramática do Português, de Eduardo Paiva Raposo et al., FCG : «O pronome se ocorre em frases passivas pronominais (ou passivas reflexas), ligado a um verbo transitivo que concorda em pessoa e número com um sintagma nominal que corresponde ao complemento direto de uma frase ativa e transitiva equivalente.,»
Exemplo:
a) Declamaram-se vários poemas de Pessoa ( para comemorar o aniversário do poeta) . [Frase passiva pronominal]
b) O ator declamou vários poemas de Pessoa ( para comemorar o aniversário do poeta) . [Frase ativa transitiva]
c) Vários poemas de Pessoa foram declamados (pelo ator) (para comemorar o aniversário do poeta) . [Frase passiva verbal = frase passiva canónica]
Mas, como se verifica, na frase 1. o argumento externo agente não pode ocorrer como agente da passiva (cf. Declamaram-se vários poemas de Pessoa pelo ator). Ou seja, nestes casos, o agente é necessariamente implícito, com uma interpretação indeterminada.
Ao contrário do que acontece nas passivas sintáticas, nas passivas de -se, o argumento interno direto tem obrigatoriamente traços de terceira pessoa gramatical:
«Na escola, estudaram o livro deste autor.»
A Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus et al., p. 532, sustenta que as construções de -se com um verbo transitivo ou ditransitivo na terceira pessoa do singular, como a frase "Na escola, estuda-se muito o livro desse escritor.", são sistematicamente ambíguas entre uma interpretação de passiva de -se e de frase com -se nominativo [i.e., sujeito].
a) Descobriu-se uma fuga no reator nuclear.
b) Foi descoberta uma fuga no reator nuclear.
c) Alguém descobriu uma fuga no reator nuclear.
Tendo em conta o que foi apresentado, «Na escola, estuda-se muito o livro desse escritor.» pode configurar um exemplo da ambiguidade deste tipo de frases.