Comecemos pelo conceito de língua. Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 6.ª edição, Lisboa, Edições João Sá da Costa, págs. 1-5), «língua é um sistema gramatical pertencente a um grupo de indivíduos». A língua, como «expressão da consciência de uma colectividade», é o meio pelo qual essa consciência representa o mundo envolvente e sobre este age; além disso, a língua não é imutável, pelo contrário, vive em perpétua evolução.
Os diale{#c|}tos constituem um dos tipos de diferenças existentes numa língua. Cunha e Cintra consideram três tipos de diferenças (ibidem):
1. diferenças no espaço geográfico (falares locais, variantes regionais e, até, intercontinentais — dialectos);
2. diferenças entre as camadas socioculturais (nível culto, língua-padrão, nível popular…);
3. diferenças entre os tipos de modalidade expressiva (língua falada, língua escrita, língua literária, linguagens especiais, linguagens dos homens, linguagens das mulheres…).
Os referidos gramáticos (idem) observam que, «condicionada de forma consistente dentro de cada grupo social e parte integrante da competência linguística dos seus membros, a variação é, pois, inerente ao sistema da língua e ocorre em todos os níveis: fonético, fonológico, morfológico, sintáctico, etc.». Acrescentam ainda: «Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades dos seus usuários.»
A partir da mesma fonte transcreve-se: «As formas características que uma língua assume regionalmente denominam-se DIALECTOS. Na área variadíssima e descontínua em que o português é falado apresenta-se como qualquer língua viva, internamente diferenciado em variedades que divergem de maneira mais ou menos acentuada quanto à pronúncia, à grafia e ao vocabulário. (…) A faixa ocidental da Península Ibérica ocupada pelo galaico-português apresenta-nos um conjunto de DIALECTOS que, de acordo com certas características diferenciais de tipo fonético, podem ser classificadas em três grandes grupos:
1. dialectos galegos;
2. dialectos portugueses setentrionais;
3. dialectos portugueses centro-meridionais.
Esta classificação parece ser apoiada pelo sentimento dos falantes comuns do português-padrão europeu, isto é, dos que seguem a NORMA ou conjunto dos usos linguísticos das classes cultas da região Lisboa-Coimbra, e que se distinguirão pela fala um natural da Galiza, um falante do Norte e um falante do Sul (...).»
Finalmente, uma variante é «qualquer uma das formas diferentes que um item linguístico (som, palavra, construção) pode ter numa língua em determinado período» (tradução de Lyle Cambell e Mauricio J. Mixco, A Glossary of Historical Linguistics, Edinburgh University Press, 2007). Sendo assim, no constexto da mesma comunidade linguística, uma variante dialectal é um uso linguístico (fonético, lexical, sintáctico, etc.) característico do falar de uma região, o qual se diferencia dos usos de outras regiões.
In Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, 6.ª ed. (1989), Edições João Sá da Costa, Lisboa.
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