A análise da natureza da palavra os está dependente do quadro teórico em que é feita.
Assim, no âmbito da gramática tradicional, o, a, os, as é considerado um pronome demonstrativo que, de acordo com Cunha e Cintra, se usa nos seguintes casos: «quando vem determinado por uma oração ou, mais raramente, por uma expressão adjectiva, e tem o significado de aquele(s), aquela(s), aquilo»1. Os autores apresentam como exemplo frases como:
(1) «O homem que ri, liberta-se. O que faz rir, esconde-se.» (Aníbal M. Machado, Cadernos de João, 228)
(2) «Ingrata para os da terra, / boa para os que não são.» (Carlos Pena Filho, Livro Geral, 120)
Perspetivas gramaticais mais recentes têm considerado que situações como as que estão presentes na frase em análise constituem casos de elipse nominal, que corresponde a uma situação na qual se identificam «construções que envolvem a omissão do nome que funciona como núcleo do sintagma nominal»2. Acrescenta-se ainda nesta proposta de análise que «os determinantes ou os quantificadores que funcionam como especificador único de um nome não podem ser omitidos na elipse nominal3. Desta forma e neste quadro, o é considerado um determinante artigo definido.
Coloca-se, noutro plano, o problema de determinar qual a perspetiva a adotar em contexto escolar não universitário. Relativamente a este aspeto, poderemos dizer que o Dicionário Terminológico não é esclarecedor quanto a estas situações. Nas gramáticas escolares, parece verificar-se uma tendência para a adoção da perspetiva tradicional, que classifica o como pronome demonstrativo4.
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1. Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo. Ed. Sá da Costa, p. 340.
2. Duarte e Costa in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2379.
3. Idem, ibidem, p. 2380.
4. Foram consultadas as seguintes gramáticas: Jorge, N. Gramática de Português. 3.º ciclo. Porto Editora, p. 124; Nascimento, Z. e Lopes, M., Domínios. Plátano Editora, p. 158; Rocha, R., Gramática de Português. Ensino Secundário. Porto Editora, p. 74.