« (...) Quando a palavra importada dá estatuto ou prestígio ao falante. Claro que a delimitação entre o estrangeirismo útil e o estrangeirismo fútil não se traça a régua e esquadro e condenar um qualquer falante por usar muitas palavras importadas será sempre uma apreciação mais ou menos subjectiva. (...)»
«É importante que as empresas portuguesas tenham rating». «Lagos, Nigéria, ainda recupera da explosão do pipeline». «Esta semana assistimos ao sprint final do Dakar». «Saiba quais são os melhores resorts de Inverno».
Os estrangeirismos percorrem todas as secções dos jornais portugueses.
A importação de palavras de outras línguas é um fenómeno comum. É, inclusivamente, factor de evolução de uma dada língua. Basta ver que o português moderno é marcado ao nível do léxico pela adopção e adaptação de palavras do latim, das línguas germânicas, do árabe, do francês... A função básica do estrangeirismo é dar resposta à necessidade de nomeação de conceitos ou objectos específicos de outra cultura. Com o inglês como língua franca no plano científico e tecnológico, o anglicismo é a solução mais cómoda, rápida e eficaz numa comunicação globalizada.
Mas há também o uso estético do estrangeirismo. É quando a palavra importada dá estatuto ou prestígio ao falante. Claro que a delimitação entre o estrangeirismo útil e o estrangeirismo fútil não se traça a régua e esquadro e condenar um qualquer falante por usar muitas palavras importadas será sempre uma apreciação mais ou menos subjectiva.
O mesmo não se passa com o discurso dos jornais. Aqui, o público integra pessoas com vários graus e qualidades de conhecimento e o critério para saber quando um estrangeirismo está a mais é a clareza do texto. E aqui o pipeline perde para oleoduto; o resort, para estância; o rating", para avaliação — e por aí fora.