Nos últimos tempos, temos testemunhado um ressurgimento de expressões antigas e o aparecimento de novos termos que permeiam as nossas conversas sobre relacionamentos amorosos. Este fenómeno, em grande parte, está intrinsecamente ligado ao impacto da comunicação nas redes sociais e à forma e ao uso que fazemos delas.
De facto, quem navega pelas redes sociais já deve ter dado conta da expressão inglesa red flag. No TikTok, no Instagram, no X (antigo Twitter) e em outras plataformas é comum, por estes dias, ouvir-se falar ou ler sobre red flags, muitas vezes acompanhadas pelo emoji da bandeira vermelha, especialmente quando o tema são as relações amorosas. No fundo, essas red flags são pistas de que algo pode estar a correr mal ou que eventualmente irá correr mal. Podem ser diferenças nas crenças, valores ou traços de personalidade com os quais não conseguimos lidar.
No entanto, desengane-se quem crê que esta expressão surge apenas no contexto das redes sociais. Na verdade, ela remonta ao século XVIII, mais precisamente a 1777, pelo menos, no contexto da língua inglesa, e era utilizada como um «sinal de perigo ou advertência», conforme mencionado Online Etymology Dictionary. Este mesmo dicionário refere que uma bandeira vermelha era usada como símbolo de desafio em batalhas, tanto em terra quanto no mar, desde cerca de 1600.
No entanto, será que a noção enquadrada no plano amoroso já encontrou expressão com palavras do português? Apesar de prevalecer o uso de red flag como empréstimo, provavelmente como resultado de uma combinação de fatores culturais e linguísticos favoráveis ao uso corrente da língua inglesa, a forma equivalente em português será a tradução literal bandeira vermelha, que já está em circulação com o mesmo significado que se regista em inglês. De facto no X (antigamente Twitter), por exemplo, encontramos registos de bandeira vermelha associados aos contextos a que se associa red flag. Uma outra possibilidade de denominar este fenómeno, não optando por uma tradução direta, seria sinal de alerta, porque, de facto, bandeiras vermelhas eram, na sua origem, sinais de alerta.
Além disso, é importante mencionar a existência das green flags, como contraparte às red flags num relacionamento. Enquanto as red flags sinalizam potenciais problemas, as green flags indicam aspetos positivos, como compatibilidade, respeito mútuo e um ambiente saudável. Embora a origem precisa de green flags seja difícil de determinar, é provável que tenha surgido gradualmente ao longo do tempo como uma resposta às preocupações levantadas pelas red flags. Relativamente à maneira de exprimir a mesma noção em português, ocorre pensar em bandeira verde, mas não há, ao contrário de bandeira vermelha, um registo significativo da sua utilização na língua portuguesa, possivelmente devido à sua menor ênfase e impacto cultural.
Um outro termo que parece estar na ordem do dia, indissociável das red flags, por obscurecer a capacidade de alguém perceber e agir diante de sinais de alerta num relacionamento, é limerência. De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, trata-se de um nome feminino que corresponde a um «estado cognitivo e emocional em que a pessoa manifesta alterações ou obsessões permanentes pelo companheiro com a necessidade de ser amado e correspondido, o que pode desencadear um apego excessivo pela outra pessoa». O vocábulo, em português, tem origem no inglês limerence, termo cunhado pela psicóloga americana Dorothy Tennov na década de 1970. Neste caso, prevalece sempre o termo em português, como notícias sobre o assunto o demonstram:
(1) «Muitas pessoas em novos relacionamentos caem no que é conhecido como uma “fase de limerência”» (Público, 14/02/2024)
(2) «Limerência: Quando estar apaixonado se torna uma obsessão [...]» (Notícias ao Minuto Brasil, 25/10/2023)
(3) «[...] Robert Weiss explicou o quão importante seria entender-se que os viciados no amor não eram viciados em amor, mas sim em limerência? (revista Máxima, 30/09/2020).
Com o mesmo tratamento, temos limerente, adjetivo e substantivo de dois géneros associado a limerência. Com origem no inglês limerent, enquanto adjetivo, limerente surge em «referência a limerência» e em «referência a quem está envolvido em limerência, a sente, a manifesta» (dicionário Aulete); já enquanto substantivo, refere-se a «aquele que tem ou manifesta limerência» (ibidem).