A diferença de significado destes dois verbos, a propósito de uma demissão justificada na recusa se «continuar a compactuar» com a ausência de determinadas decisões.
Os Estaleiros de Viana do Castelo constituem um problema de enorme dimensão. Podem até dar azo a questões linguísticas interessantes. Há dias, um dos administradores demitiu-se, acusou os seus pares de «inércia» e declarou que não podia «continuar a compactuar» com a ausência de decisões da administração.
Compactuar com a ausência de decisões exige reflexão. Normalmente as pessoas compactuam com decisões e acções, e não com a falta delas.
Compactuar e pactuar não são exactamente a mesma coisa. Compactuar significa tomar parte em acções consideradas incorrectas ou condenáveis, ter conhecimento de acções injustas e nada fazer para as anular ou combater. Pactuar, por seu turno, significa definir ou estabelecer uma coisa de comum acordo, combinar, ajustar, assumir um acordo (fazer um pacto).
O primeiro termo tem um sentido de anterioridade, enquanto que o segundo indica algo que ainda vai ocorrer, que está em formação. O grau (e o tempo) de cumplicidade ou de envolvimento do sujeito é portanto diferente. Nada tem [que] ver com o mérito ou o demérito das acções, ou com o destino dos estaleiros, evidentemente.
texto publicado no jornal i, de 6 de abril de 2012, sob o título “Pactuar”, na coluna do autor, O ponto no i, rubrica semanal à volta dos erros cometidos na escrita jornalística, em Portugal. Manteve-se a grafia original.