À volta do (mau) emprego da palavra périplo, na crónica do jornalista Wilton Fonseca O ponto do i, do jornal i de 14 de outubro de 2011.
Não lhes dão sossego. Mal põem os pés fora do país, os governantes portugueses são condenados pela comunicação social a fazer “périplos”. São assim imediatamente alçados à condição de Vascos da Gama ou Cabrais. Deixaram há muito de fazer viagens, que são coisas para os Obamas e as Merkels deste mundo. Os nossos e as suas comitivas fazem “périplos”.
Foi o que aconteceu há dias. Um ministro e a sua comitiva efetuaram uma cansativa visita de três dias ao Rio de Janeiro. Do exaustivo programa constavam um encontro com o governador e com o prefeito cariocas, o lançamento de um livro, uma solene missa (ponto único do programa de um sábado) e um almoço com o cônsul-geral de Portugal (ponto único do programa de um domingo). A viagem foi descrita como um “périplo” pelos jornais. Também tem merecido a mesma designação a visita que o ministro dos Negócios Estrangeiros realiza a Marrocos, Turquia, Argélia e Egito, a partir de hoje, para a promoção da “diplomacia económica”.
“Périplo”, dizem os dicionários, é uma viagem de navegação em torno de um mar ou de um continente. Para muita pena dos Vascos da Gama ou Cabrais contemporâneos e dos seus cronistas, os primeiros não têm feito périplos. Nem os segundos os têm relatado. São apenas visitas. Independentemente da seriedade que possam ter.
In jornal i. de 14 de outubro de 2011