1. As Aprendizagens Essenciais, documento de referência curricular para o ensino em Portugal, passaram a incluir, na disciplina de História, ainda a título de experiência, a história dos portugueses ciganos, uma iniciativa que procura promover um conhecimento mais próximo e detalhado desta comunidade. Neste âmbito, recordamos que, em Portugal e Espanha, os ciganos falam um dialeto romani, pertencente à família indo-irariana, onde se integra um conjunto de dialetos falados pelo povo romani um pouco por toda a Europa. O romani é língua oficial apenas no Kosovo e é língua minoritária na Suécia, na Finlândia e na Roménia. Trata-se de uma língua maioritariamente ágrafa, uma vez que é transmitida oralmente nas famílias ciganas. No entanto, corre o risco de extinção, atendendo a que se verifica que as comunidades ciganas tendem a adotar a língua oficial do país onde residem, abandonando gradualmente o seu dialeto. A presença do romani no português parece ser bastante discreta, o que resultará do facto de tradicionalmente o povo cigano não falar o seu dialeto fora da comunidade. Não obstante, podemos documentar a entrada no português das palavras gajo e calão, ambas com raízes na língua cigana. A palavra calão, com o sentido de «linguajar rude, grosseiro» derivará de caló, nome dado pelos ciganos ao dialeto romani, falado na Península Ibérica. Gajo, por seu turno, é um nome formado por derivação não afixal a partir de gajão, termo depreciativo para referir uma «pessoa espertalhona». A palavra entrou por meio espanhol gachó, originário do termo cigano homónimo, usado para referir aquele que não é cigano. O dialeto romani, falado na Península Ibérica (romanó-caló), está, como se disse ameaçado, pelo que merecerá estudos que permitam o seu conhecimento e manutenção. Entre os trabalhos pretéritos, desenvolvidos neste sentido, destacamos a obra Os Ciganos em Portugal, de Adolfo Coelho. O idioma romanó-caló adota muitas das marcas das gramáticas portuguesa e espanhola, como o ilustram alguns exemplos: a formação do feminino é feita com sufixos (i, para o singular, e é, para o plural), como em calon, calhi, calhé («cigano, cigana, ciganas»); a negação forma-se com prefixos (na ou ne), como em abelar («possuir») – nabelar («carecer») ou baró («grande») – nebaró («pequeno»). Deixa-se ainda nota de algum léxico comum: chavi / chai («rapariga»), chavó / cheval («rapaz»), romni / romi («mulher») e rom / manus («homem»).
Deixa-se registo de alguns textos relacionados com o tema: «Ciganos: parte da nossa história e do nosso futuro» ; «O plural de rom (= cigano)» , «Sobre o termo gajo», «Gajo».
2. A forma de se percecionar a realidade ou a importância de determinados aspetos na nossa vivência podem motivar a criação e a cristalização de expressão que serão naturalmente distintas de língua para língua, ainda que tenham significados próximos. Mas, o contrário também se verifica, com a existência de expressões muito próximas que, em línguas distintas, descrevem o mesmo fenómeno. É esta a motivação para o artigo da responsabilidade da consultora Inês Gama, onde se cotejam termos do português e do inglês.
3. Poderá uma oração subordinada substantiva funcionar simultaneamente como oração coordenada copulativa? Esta é uma das dúvidas cuja resposta integra a atualização do Consultório linguístico do Ciberdúvidas, onde será possível ainda consultar a abordagem às seguintes questões: «Enxertar, encetar e encertar são palavras da mesma família?», «Gostar poderá ser um verbo auxiliar?», «Qual a diferença entre verbos plenos e verbos auxiliares e, entre estes, quais os sensitivos e os causativos?», «O complemento indireto poderá ser introduzido pela preposição para?», «Na expressão «Sua Excelência o Líder do Grupo Parlamentar X» deveremos usar vírgula?», «Termos como direita, esquerda, liberalismo, socialismo, comunismo, extrema-direita, extrema-esquerda devem ser grafados com maiúscula?» e «Qual a origem da palavra enxoval?»
4. Quais são os verbos auxiliares em português e como poderemos identificá-los? Partindo desta questão, o consultor Fernando Pestana apresenta alguns critérios de identificação que poderão auxiliar na análise da língua e lista alguns verbos que tipicamente são considerados auxiliares por gramáticos de referência, neste apontamento disponível em Na 1.ª Pessoa.
5. O louvor feito à atuação de um(a) fadista expressa-se, tipicamente, por meio da expressão «Ah, fadista!», a qual deixa, por vezes, dúvidas relativas à grafia da palavra inicial. No desafio semanal, a professora Carla Marques explica como se escreve esta interjeição (rubrica divulgada no programa da Antena 2, Páginas de Português, e no Facebook do Ciberdúvidas).
6. Entre as notícias de relevo, destacamos:
– A participação dos consultores do Ciberdúvidas no seminário que assinalou o primeiro Centenário da Morte de Cândido de Figueiredo, com lugar em Tondela no passado dia 27 de setembro (notícia);
– A participação de Luís Augusto Fischer e Roberto Acízelo numa mesa-redonda sobre literatura, no dia 2 de outubro, às 17h30, com transmissão ao vivo no canal youtube.com/abletrasabl;
– A 35th Annual Conference of the European Second Language Association (EuroSLA 35), que terá lugar em Lisboa entre 24 e 27 de junho de 2026 e estando abertas as propostas de comunicação, que poderão ser submetidas aqui.