1. A Argentina foi a votos e elegeu como presidente o economista Javier Milei, conhecido pelas suas posições radicais. O homem que tomará a cargo o destino do povo argentino descreve-se como anarcocapitalista. A expressão, pouco corrente em Portugal, designa um tipo particular de capitalismo que se caracteriza por não ser regulado pelo Estado e pela defesa do mercado livre e do sistema de propriedade privada. Milei caracteriza-se ainda como um «liberal libertário», termo que refere uma corrente política defensora do individualismo e da liberdade económica e de mercado. A comunicação social apresenta-o como ultraliberal e ultradireitista. A curiosidade do léxico usado para definir os traços do novo presidente argentino passa pelo facto de as palavras que o integram apontarem para o campo semântico do extremismo, o que se refletirá eventualmente nas práticas políticas a encetar no novo cenário político. No âmbito da grafia das palavras em destaque, recordemos que, no quadro do Acordo Ortográfico de 1990, os termos anarcocapitalista, ultraliberal e ultradireitista deverão ser grafados como formas aglutinadas, o que significa que não levam hífen. Já a expressão «liberal libertário» deve ser escrita sem hífen a ligar as palavras que a constituem, visto que se trata de uma locução não consagrada pelo uso (cf. Base XVI, do AO90). Refira-se, por fim, que o termo ultradireita é equivalente à expressão «extrema direita» que, no português europeu, tem mais tradição de uso.
Primeira imagem: Bandeira de Gadsden: por baixo da cascavel pode ler-se a frase «Não me pises». Esta foi uma das primeiras bandeiras adotadas pelos anarcocapitalistas.
2. No Consultório analisa-se a forma como se pronuncia o e em palavras como mexo, fecho ou desço, para se concluir que existe oscilação nas práticas dos falantes. Esta resposta a uma dúvida colocada por um consulente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa é acompanhada de outras nove: «Carta de prego e tradução de La Fontaine», «Se», «Mau/mal seria/era», «Pronomes átonos e os verbos esperar e morder», «O verbo significar seguido de oração subordinada», «O adjetivo desregulatório», «Costumar e a voz passiva», «Gerúndio: «qual fantasma, os olhos cintilando no escuro»» e «Tudo, antecedente do pronome relativo quanto».
3. Poderão os advérbios ter um complemento? E este complemento poderá ter uma natureza oracional? Estas questões dão mote à reflexão proposta pela professora Carla Marques (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. A diferença entre lembraste e lembras-te constitui uma dificuldade sentida por muitos falantes, tal como se assinala no Pelourinho, num apontamento do consultor Paulo J. S. Barata.
5. Na sequência de uma análise sobre o uso do termo nega num texto jornalístico, José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, escreve sobre o uso da informalidadevem discordar da avaliação aí proposta, num novo texto disponível na rubrica Controvérsias.
6. A professora universitária Dora Gago partilha com os seus leitores uma experiência de ensino na Faculdade de Letras da Universidade da República Oriental do Uruguai (partilhado com a devida vénia).
7. Um destaque final para a mesa-redonda Revisitar os clássicos em aulas do Ensino Básico e Secundário - III, com a presença de Adriana Nogueira, Ana Paula Loureiro e Paulo Sérgio Ferreira, que terá lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no dia 24 de novembro de 2023, pelas 17h.