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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Ainda no rescaldo das eleições regionais dos Açores, que ditaram a vitória da coligação PSD/CDS-PP/PPM, liderada por José Manuel Bolieiro, os partidos políticos analisam os resultados obtidos e as possibilidades de governação que estes permitem, na procura da desejada estabilidade. A coligação liderada pelo PSD conseguiu 42,08% dos votos, o que corresponde à eleição de 26 parlamentares. Estes resultados dão particular realce ao conceito maioria relativa, uma vez que a coligação do centro-direita não atingiu a maioria absoluta, como pretendia (para tal precisaria de 29 deputados), tendo-se ficado pela maioria relativa. A expressão «maioria absoluta» é usada para descrever a situação em que um grupo obtém o poder por ter conseguido metade dos votos expressos mais um, ou a maioria de deputados eleitos (nos casos em que os votos são contabilizados por um sistema de representação proporcional). Os resultados eleitorais nos Açores ditaram uma «maioria relativa», também designada «maioria simples», o que significa que a coligação obteve mais votos do que os restante partidos, mas não atingiu mais de metade. Esta situação obriga o líder da coligação a decidir se pretende fazer uma aliança pós-eleitoral para poder governar ou se assumirá a maioria relativa, que o obrigará a negociar a aprovação das medidas que for propondo. 

Recordamos alguns textos disponíveis, que tratam aspetos relacionados com a palavra maioria: "Maioria", "Uso de maioria", "Maioria: grande e pequena?", "A maioria dos alunos estuda/estudam" e "«Dos feridos, a maioria são mulheres e crianças»". 

2. As palavras autor, autoridade e autorização pertencem à mesma família, pois partilham o mesmo radical? Esta questão é esclarecida na atualização do Consultório, onde poderão ainda ser consultadas as seguintes sete novas respostas a dúvidas recebidas: "A construção «tem vindo a» + infinitivo", "A expressão 'meter-se numa alhada'", "Modalidade de 'voltar a agradecer'", "Coordenação com 'bem como' e elipse", "Concordância com alguém", "O verbo duchar", "O apelido Rolim".

3. As particularidades da concordância do substantivo e do verbo com a construção «um e outro» são analisadas neste apontamento da professora Carla Marques, no seu apontamento no programa Páginas de Português, na Antena 2 (divulgada no dia 4 de fevereiro de 2024). 

4. Na rubrica Montra de Livros, divulga-se Antes e Depois de Editar. Estudos Filológicos, uma publicação que conta com a coordenação das filólogas Ângela Correia e Carlota Pimenta, onde se reúne nove estudos dedicados à questão da filologia e a outras com ela relacionadas. 

5. Na rubrica Diversidades, partilhamos, com a devida vénia, dois textos que abordam questões relacionadas com línguas nacionais de diferentes países:

– O Senegal, a sua história, o seu povo e, em particular, as línguas que se falam no país constituem os temas centrais do artigo de Margarita Correia, professora universitária e linguista, no qual aborda aspetos de um país pouco conhecido entre os portugueses;

– Num original transcrito do blogue  do blogue Certas Palavras do dia 4 de fevereiro de 2024, o tradutor e professor universitário Marco Neves propõe um texto em torno da hipótese ficcionada de Portugal ter sido integrado na Espanha, considerando, em particular, qual poderia ter sido a evolução da língua portuguesa neste contexto político. In

6. A literatura pode ser «uma luz em tempos de trevas». É com esta mensagem que a  escritora e professora universitária Dora Gago faz um elogio à literatura e à sua importância em diferentes momentos da nossa vida (texto transcrito com a devida vénia da revista digital revista digital Algarve Informativo).

7. Sara de Almeida Leite, antiga consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, vai lançar o romance Amar em caso de emergência, com a chancela da Porto Editora, e sob o nome literário de Vera dos Reis Valente. O evento terá lugar na FNAC de Oeiras, no dia 7 de março, pelas 18h. 

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1. Enquanto na França, Bélgica, Alemanha e até em Portugal, a atualidade é marcada pelos protestos dos agricultores, na capital portuguesa anunciava-se um outro tipo de manifestação, de motivações e contornos alarmantes. Os seus promotores insurgem-se contra o que chamam polemicamente a «islamização de Lisboa» e declaram a sua xenofobia, visando imigrantes e minorias. Convém, portanto, recordar e realçar a importância do passado mourisco de grande parte de Portugal, em especial das regiões a sul do rio Mondego, nas quais a presença berbere e árabe, geralmente associada ao Islão, alterou a composição étnica da população e o seu perfil cultural. Numerosos são os vestígios materiais da época árabo-muçulmana, cujo legado tem em Portugal, à semelhança do que acontece no centro e sul de Espanha, uma forte componente linguística ainda hoje evidenciada por palavras do quotidiano como azeite, arroz e açúcar. Na toponímia, a herança é avultada, com nomes total ou parcialmente arábicos, sendo a região metropolitana de Lisboa particularmente rica a este respeito: Alfama, Algés, Queluz, Almada, Alcochete, Alcabideche, Odivelas. Os próprios nomes Lisboa e Tejo, se bem que pré-romanos, acusam o influxo fonético árabo-berbere. Em O Nosso idioma, a consultora Inês Gama aprofunda este tema, referindo-se ao impacto do árabe dos antigos Mouros na história do nosso idioma comum. Vide, ainda, Só «ignorância» explica manifestação contra «islamização» de Lisboa

Na imagem, aspeto da igreja de Nossa Senhora da Anunciação, edifício que está localizado em Mértola (distrito de Beja) e que foi antiga mesquita (crédito: "Sua Maldade", 25/11/20015).

2. Ainda na rubrica O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato assinala um uso especial de gratidão, que em tempos mais recentes tem aparecido em concorrência com a fórmula de agradecimento mais convencional – obrigado ou obrigada.

3. Na aprendizagem da leitura e da escrita, que estratégia adotar quando a letra e se pronuncia [i] em veado ou até nem se realiza foneticamente, por exemplo, em escola, que, em Portugal, pode soar "chcola"? A questão integra o conjunto de seis perguntas da atualização do Consultório, onde igualmente são tema: a grafia do arabismo Hajj, a expressão «pôr a ridículo», os valores aspetuais de «vem exercendo», os usos do pretérito perfeito do indicativo e a palavra blusão.

4. O futebol é sempre notícia, e, em Portugal, as manchetes multiplicam-se pelos piores motivos, dando conta da detenção, em 31 de janeiro de 2024, de Fernando Madureira, de alcunha "(o) Macaco" e líder dos Super Dragões, a claque do Futebol Clube do Porto. A propósito deste escândalo e à volta dos usos idiomáticos e jocosos a que se presta o nome macaco, em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia o artigo de opinião que escritor Bruno Vieira Almeida publicou no semanário Expresso de 02/02/2024.

5. Destinado ao uso do inglês nas instituições da União Europeia, surgiu um documento com recomendações para uma linguagem não sexista. A reação não se fez esperar, como revela o jornalista Tiago Caeiro numa peça incluída no jornal Observador em 29/01/2024 e transcrita na rubrica Diversidades com a devida atribuição.

6. Registos com interesse linguístico direto ou indireto:

– Em 29/01/2024, o veto, por Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, dos decretos do parlamento sobre escolha de nome próprio neutro e medidas a adotar pelas escolas para a implementação da lei que estabelece a autodeterminação da identidade e expressão de género (ver Jornal de Notícias).

– Em 31/01/2024, a conferência PROPOR24 – A língua galega com outros olhos, proferida por Valentim Fagim, professor de português na Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela e diretor da Através Editora.

– As eleições nos Açores, para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma, que se realizam no domingo, 04/02/2024 (ver Comissão Nacional de Eleições; sobre a grafia de açoriano, ler resposta).

– O trabalho de voluntariado de um grupo de cidadãos portugueses que, na Guiné-Bissau, dão formação a professores de Português (cf. Observatório da Língua Portuguesa).

7. Acaba de ser lançado um novo episódio do podcast do Ciberdúvidas, produzido pelo Laboratório de Competências Transversais do Iscte. O tema são os nomes de marcas que se tornaram substantivos comuns, como aconteceu com Tupperware, aportuguesado como taparuere.

8. Referência final para três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 02/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se a professora Edleise Mendes, coordenadora do XV Curso de Capacitação para a Elaboração de Materiais Didáticos em Timor-Leste, promovido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) entre os dias 5 a 9 de fevereiro de 2024, na cidade de Dili (Timor-Leste).

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 04/02/2024, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 10/02/2024 às 15h30*), João Pedro Aido, da Associação de Professores de Português, fala sobre as XI Olimpíadas da Língua Portuguesa, uma iniciativa conjunta da Associação de Professores de Português (APP) com a Direção-Geral da Educação (DGE), o Plano Nacional de Leitura (PNL), a Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE), a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) e a Escola Secundária de Camões (ES Camões). Ainda o apontamento gramatical da professora Carla Marques sobre uma questão de concordância.

–  Igualmente na Antena 2, Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, cujas emissões de 5 a 9 de fevereiro (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50) são preenchidas pelo tema da etiqueta vocal.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. Microplásticos é a palavra do momento. Designa pequenos pedaços de plásticos com uma medida inferior a 5 mm, que poluem as águas, representando já entre 60% a 90% do lixo marinho. Esta é uma situação que exige medidas imediatas dos governos, visto que os microplásticos já entraram na cadeia alimentar humana, estão presentes em objetos que se manuseiam quotidianamente e inclusive na água engarrafada, que, segundo estudos, apresenta, em média, cerca de 250 000 fragmentos de nanoplástico. Microplástico é uma palavra derivada resultante da associação do prefixo grego micro-, com o sentido de "pequeno, curto", à palavra plástico. A palavra nanoplástico refere partículas residuais do plásticos, com uma medida entre 1 a 1 000 nanómetros (ou seja, até 0,001 mm) e resulta da junção do prefixo nano- ("anão") a plástico (note-se que, nas descrições brasileiras, estes elementos são normalmente considerados radicais). Ainda neste contexto, a comunidade científica começou a usar neologismos como macrolixo para referir lixo com dimensão superior a 25 mm, microlixo, para lixo inferior a 5 mm, e mesolixo, para lixo com dimensão entre os 5 e os 25 mm. Macro- significa "de larga escala", micro-, "pequeno" e meso- "médio". Acrescente-se ainda que se aconselha a grafia destas palavras como palavra única, sem espaço ou sem hífen. 

2. Qual a forma preferível: «A gente irá explicar» ou «A gente iremos explicar»? A consultora Inês Gama explica o processo de concordância à luz da visão normativa, num apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.  

3. A construção «É pena tu tere-la abandonado» está correta? A análise da conjugação das formas verbais infinitas com o pronome clítico abre a atualização do Ciberdúvidas, na qual se podem ainda consultar sete novas respostas: "O verbo reacionar"; "O pronome vós e formalidade", "As contrações à e ao na criação de locuções", "O nome pátrio de Maldivas", "Voz passiva com estar", "Colocação do clítico com o verbo poder" e "Amor de Perdição: incoerência".

4. O neologismo sologamia é usado para designar «o ato de casar consigo mesmo». Trata-se de um termo analisado pelo consultor Paulo J. S. Barata, num apontamento que se abre a outros elementos da mesma família de palavras. 

5.  A professora universitária e linguista Margarita Correia propõe um conjunto de reflexões sobre a relação dos estudantes guineenses com as línguas nacionais do seu país e com o português, num texto onde também se fala de xenofobia linguística (artigo publicado no Diário de Notíciasaqui transcrito com a devida vénia).

6. Entre os eventos de relevo, destaque para o início das candidaturas destinadas a autores(as) de nacionalidade moçambicana, ou que tenham residência oficial em Moçambique, a uma residência literária em Lisboa, a decorrer entre 1 a 31 de maio de 2024 (programa promovido pelo Camões – Centro Cultural Português no Maputo, com candidaturas abertas entre 1 a 29 de fevereiro 2024). 

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1. «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», «amor é um fogo que arde sem se ver», «descalça vai para a fonte», «mais do que prometia a força humana», «naquele engano da alma, ledo e cego», «ó glória de mandar, ó vã cobiça» ou «nesta apagada e vil tristeza»1 são expressões e versos de Camões frequentemente citados em textos contemporâneos, integrados já na fraseologia do português. Isto mesmo é sublinhado na peça que o portal Porto.pt dedica à abertura das comemorações do centenário de Camões na Paços do Concelho da Cidade Invicta, assinalada com a exposição de um exemplar da 1.ª edição (1572) de Os Lusíadas, que se conserva no Ateneu Comercial do Porto. A esta iniciativa junta-se outra, com curadoria do escritor Gonçalo M.Tavares, que se propõe distribuir as 1102 estrofes da epopeia a 1102 cidadãos, «com o critério de ter uma criança de sete anos a ler “As armas e os barões assinalados”, a primeira estrofe, e uma pessoa de 87 anos a terminar a leitura, em “Sem à dita de Aquiles ter enveja"» (mais informação aqui). A participação nesta leitura coletiva, cujas gravações serão depois espalhadas pela cidade (acessíveis através de códigos QR), está sujeita a inscrição através do endereço eletrónico camoes500anos@cm-porto.pt.

1 «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», «amor é um fogo que arde sem se ver» e «descalça vai para a fonte» são versos iniciais de três famosos poemas da lírica de Camões. As restantes expressões provêm de Os Lusíadas: «mais do que prometia a força humana» (canto I, est. 1); «naquele engano da alma, ledo e cego» (canto III, est. 120); «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça» (canto IV, est. 95); «[dũa austera,] apagada e vil tristeza» (canto X, est. 145). Na imagem, cartaz do filme Camões (1946), do cineasta português Leitão de Barros (1896-1967). Crédito da foto: Artbid.

2. Ainda em Portugal, uma campanha publicitária da IKEA, aludindo com ironia à Operação Influencer e, em particular, ao antigo chefe de gabinete do demissionário primeiro-ministro portuguêsAntónio Costa, teve grande repercussão nas redes sociais com reações e comentários ora críticos ora favoráveis quanto ao envolvimento da multinacional sueca do mobiliário e da decoração no atual período eleitoral e no correspondente debate partidário no país. Sobre a recomendada dicção do nome IKEA e, num desses cartazes, a forma errónea 75.800, com um ponto indevido em lugar do espaço – 75 800 é a escrita correta –, o apontamento do jornalista José Mário Costa no Pelourinho.

3. Se embaixatriz é tradicionalmente a forma do género feminino de embaixador, porque será que agora se usa tanto a palavra embaixadora? É que a imperador apenas corresponde imperatriz, não se aceitando "imperadora". A consultora Inês Gama apresenta uma reflexão sobre este problema na rubrica O Nosso idioma.

4. A construção comparativa «mais bem do que mal» está correta? Não deveria ser antes «melhor do que pior»? O esclarecimento desta dúvida faz parte do conjunto de sete respostas que atualizam o Consultório e que abrangem ainda as seguintes questões: a locução «em aberto» é galicismo reprovável? Qual a origem da palavra biruta? As orações condicionais exprimem uma relação de causa-efeito? O que significa a expressão «neste conspecto»? Como usar fera predicativamente? Que valor tem o pronome se na frase «ele sagrou-se campeão»?

5. Ainda a respeito de Portugal, a comunicação social continua fazer eco da preocupação gerada, no final de 2023, pelo relatório Pisa 2022, cujos resultados revelaram uma queda significativa da proficiência dos alunos em matemática e leitura (cf. Margarita Correia, "O que é o PISA e que nos traz de novo"). Vem, portanto, a propósito registar, à volta do ensino: "Dependência de ecrãs: 'Há uma espécie de normalização da embriaguez digital'" (Público, 23/01/2024); "Falar e escrever bem: uma missão difícil, mas possível!" (Observatório da Língua Portuguesa, 25/01/2024); e o dossiê Porque pioram os alunos?, uma compilação de entrevistas, reportagens e análises do jornal Público sobre o PISA 2022.

6. Sobre o termo subsidiodependente, recorrente, por exemplo, no discurso do líder do partido político português Chega, leia-se "“Subsidiodependência” entrou para o léxico político. Mas existe mesmo?" (Diário de Notícias, 24/01/2024).

7. Entre publicações escritas e audiovisuais que, na Internet, abordam temas do idioma português, saliente-se Pilha de Livros, o podcast do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves. Últimos episódios: "Tradutores, revisores e outros escritores" (24/01/2024); "O estranho caso da princesa inglesa que sabia duas línguas" (25/01/2024); e "Um mundo com uma só língua seria mais pacífico?" (26/01/2024).

8. Quanto a três dos programas que, na rádio pública de Portugal, tratam de temas da língua portuguesa:

–  Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 26/01/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Ana Luísa Costa, professora da Escola Superior de Educação de Setúbal, fala sobre as regras de pontuação.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 28/01/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 03/02/2024 às 15h30*), Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahía) apresenta o curso de Capacitação para a Elaboração de Materiais, promovido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) entre os dias 5 a 9 de fevereiro de 2024, na cidade de Dili (Timor-Leste). Inclui-se ainda um apontamento de Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas, acerca das regras de concordância.

– Mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, de segunda a sexta-feira. 

Hora oficial de Portugal continental.

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1. A imigração brasileira em Portugal representa atualmente cerca de um terço da população estrangeira residente no país, num total de cerca de 400 000 cidadãos em situação legal. A distribuição das comunidades brasileiras um pouco por todo o país levou a que nos espaços públicos tenha passado a ser comum ouvir-se a sonoridade doce da variante do português do Brasil. Esta realidade traz para a consciência ativa as muitas diferenças que existem em diferentes planos linguísticos entre a variante brasileira e a europeia. Um deles é o da pronúncia: só para deixar um exemplo, recordemos que o nome próprio Portugal se pronuncia em português europeu como "purtugál" e em português brasileiro, geralmente, como "portugáu". São muitas as diferenças existentes nos graus de abertura das vogais, no contraste entre fonemas que se articulam explicitamente ou que se elidem ou na articulação de sons particulares. A compresença destas duas variantes coloca também em evidência as muitas diferenças lexicais, fruto de percursos evolutivos distintos: recorde-se o já muito comentado contraste entre o terno brasileiro e o fato português. O mesmo acontece no âmbito sintático, sendo marcas distintivas a colocação dos pronomes clíticos ou o contraste entre o uso dos pronomes tu e você em referência ao interlocutor. Será interessante observar a médio prazo se o contacto diário entre as duas variedades trará consequências linguísticas convergentes. Sensível às muitas questões relacionadas com a pronúncia, o professor brasileiro Rafael Rogolon redigiu um artigo, transcrito com a devida vénia, que sistematiza algumas das diferenças, sentidas do ponto de vista de um brasileiro. 

2. O lexema moçambicano maningue, que significa "(em) grande quantidade", pode ser usado no quadro de diferentes classes de palavras: como advérbio, pronome indefinido ou determinante indefinido, possibilidades que nem sempre se encontram previstas nos dicionários, como se explica nesta resposta. Outros temas são também abordados na atualização do Consultório: "Virtualmente, eventualmente e aparentemente", "«Do tempo em que» e «de quando»", "Orações relativas explicativas e orações coordenadas explicativas", "Linhas mestras e linhas-mestras" e "«João admira os mesmos pintores que Caio»".

3. O vocábulo bastante tem uma amplitude de usos muito diversificada, tendo a capacidade de funcionar como adjetivo, advérbio, substantivo ou mesmo quantificador, situações que são analisadas pela professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.

4. São também as palavras que estão no centro de dois textos que consideram o léxico sob perspetivas antagónicas. Por um lado, o consultor Paulo J. S. Barata aborda a questão da formação de novas palavras, considerando o lexema epistemicídio, ainda não dicionarizado e usado com o sentido de «morte do conhecimento». Por outro lado, avalia-se o desgaste semântico de certas palavras exemplificado com base no verbo aziar, usado, em sentido popular, com o valor de «sentir ira ou enfado, registado pela professora e ecritora Dora Gago, num artigo onde analisa a escassez léxical dos mais jovens. 

5. A escritora e empreendedora digital Sandra Baldé traz-nos a perspetiva da língua e suas variantes enquanto instrumento de hierarquização, de marginalização e até de racismo, uma situação que urge mudar porque, defende, «[a] diversidade de sotaques dentro da língua portuguesa é um fascínio e eu gostava que fosse unânime pensar desta forma, sem exotismos» (artigo partilhado com a devida vénia).

6. Está aberta a receção de propostas de comunicação para o congresso Internacional Materials for Developing Communicative Ability (em português, «Materiais para o Desenvolvimento da Competência Comunicativa»), organizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FSCH), em parceria com a MATSDA – Materials Development Association (notícia aqui).

7. A data de 23 de janeiro é o Dia da Escrita à Mão, um evento que ganha significado acrescido numa época em que a escrita digital conquistou a maioria dos usos. A escrita à mão tem sido objeto de investigações várias e tem sido sublinhada a sua importância no âmbito do desenvolvimento pessoal. Para além disso, é uma forma de arte que pode proporcionar fruição no contexto da leitura de manuscritos. Sintam-se convidados a escrever algo usando um instrumento de escrita e o papel!

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1. Aceita-se que Luís Vaz de Camões nasceu há 500 anos, em 1524, já no reinado de D. João III. Camões viveu, portanto, a sua juventude no auge do poderio marítimo e comercial português nas margens do Atlântico sul e do Índico, mas presenciou também o começo do declínio deste império, ao qual não deixou de se referir na sua obra maior, Os Lusíadas. As comemorações do aniversário ainda parecem discretas, mas a comunicação social já vai assinalando a efeméride, por exemplo, para noticiar que um problema antigo dos estudos camonianos encontrou resolução: o da existência de uma contrafação de Os Lusíadas, surgida logo depois da primeira edição, em 1572 (na imagem), graças à aturada investigação da filóloga portuguesa Rita Marnoto (Universidade de Coimbra). Resistindo à atual exigência crítica quanto ao passado expansionista e colonial, o interesse por Os Lusíadas perdura, e, para comprová-lo, a consultora Inês Gama realça, em O Nosso Idioma, o papel de Camões para conferir identidade à lingua portuguesa. Este artigo inclui em registo vídeo o modo como vários jovens, estudantes do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, recitam hoje o famoso primeiro verso da grande epopeia de língua portuguesa, de nítida inspiração clássica e virgiliana: «As armas e o barões assinalados...».

Sobre Camões, (re)leiam-se ainda os seguintes conteúdos: "Alguém hoje fala ou escreve como Camões, ou Vieira?!", "O português como língua de Camões é um mito", "Lembrar Luís de Camões, 'numa época de apoucamento da língua'", "O apelido Camões...", "A origem do adjetivo lusíada".

2. Enquanto a guerra alastra no Médio Oriente e o autoritarismo, aliado ao populismo, se instala paulatinamente nos governos de diferentes países, os líderes empresariais e políticos reúnem-se no Fórum Económico Mundial que se realiza em Davos, na Suíça. Como se pronuncia este topónimo? Tal como se escreve ou procurando seguir a pronúncia alemã original? Esta é uma das questões chegadas ao Consultório, no qual se abordam ainda os seguintes tópicos: a anáfora, o género de cisma, a expressão «tempo da outra senhora», os pronomes e determinantes possessivos, o verbo aliar, a concordância com o pronome indefinido tudo, o plural de auto.

3. Às vezes, no calor da comunicação mediática, os políticos valem-se retoricamente do que for preciso, e, neste contexto, a linguagem mais vulgar não é despicienda. Em Portugal, por exemplo, um líder partidário referiu-se à chamada «questão dos CTT» como um sinal de bandalheira, vocábulo de origem popular e intenção pejorativa. Também na rubrica O Nosso Idioma se assinala este caso, num apontamento da consultora Sara Mourato, que se centra no uso da palavra em apreço.

4. Na rubrica A covid-19 na língua, uma nova entrada, a de «doença X», denominação da Organização Mundial da Saúde (OMS) «para qualquer novo patógeno desconhecido suscetível de causar doenças e, potencialmente, vir a configurar uma epidemia no futuro».

5. As universidades portuguesas recebem numerosos estudantes dos países africanos de língua oficial portuguesa e de Timor-Leste. Contudo, as condições em que são recebidos podem estar muito longe de aceitáveis, com consequências negativas no seu desempenho escolar, segundo um estudo do Instituto Politécnico de Bragança. Pormenores sobre este assunto nas Notícias.

6. Dois registos da atualidade respeitante à língua portuguesa:

– A inclusão de três autores de língua portuguesa – os brasileiros Itamar Vieira Júnior e Stênio Gardel, e o moçambicano Mia Couto – na lista de nomeados para o Prémio Literário de Dublin – em inglês, International Dublin Literary Award, e, em irlandês, Duais Liteartha Idirnáisiúnta Bhaile Átha Chliath (Jornal de Notícias, 16/01/2024).

– Os cursos de português que, em Portugal, se organizam para comunidades imigrantes no interior do país, como são exemplos uma iniciativa em Carregal do Sal (Viseu) e outra em Oleiros (Castelo Branco). Ler Jornal do Centro (19/01/2024) e Rádio Castelo Branco (18/01/2024).

7. Relativamente a três dos programas sobre língua portuguesa que existem na rádio pública de Portugal:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 19/01/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), o convidado é o professor José Eduardo Franco (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), que mostra a importância da língua portuguesa no processo histórico da brasilidade.

– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 20/01/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 27/01/2024 às 15h30*), o crítico literário António Carlos Cortez e o ensaísta e escritor Miguel Real debatem a seguinte questão: será que a inovação sintática e a criatividade semântica se manifestam de maneira mais profunda na língua portuguesa quando praticada por escritores oriundos de Angola, Moçambique, Cabo Verde e, especialmente, do Brasil? A professora e consultora do Ciberdúvidas Carla Marques analisa, ainda, na frase «Bastantes alunos passaram de ano porque estudaram bastante», a classe da palavra bastante?

– Palavras elegantes, palavras deselegantes e palavras que transmitem uma falsa sensação de elegância são os temas das emissões de 22 a 26 de janeiro do programada Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* às 18h50*). A convidada é a professora Maria Regina Rocha, consultora do Ciberdúvidas.

 

Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas perfez no dia 15 de janeiro p.p. 27 anos de existência ao serviço da língua portuguesa e dos seus falantes, sempre disponível para esclarecer as mais variadas questões que chegam ao seu Consultório e para corrigir, quando necessário, os usos deficitários. Neste âmbito, o Ciberdúvidas lançou aos seus consulentes, no final de 2023, um novo desafio: a eleição da Dúvida do Ano. Entre 10 incorreções ou hesitações usuais, os falantes selecionaram aquela que mais frequentemente encontram, o que levou à eleição de: «Eis os livros que gosto mais» ou «Eis os livros de que gosto mais»? O uso das relativas preposicionadas constitui, assim, a incorreção que ocupa o primeiro lugar do pódio, secundada pelas restantes nove que aqui são analisadas pela consultora Inês Gama. O Ciberdúvidas presta também particular atenção às palavras, sobretudo aos neologismos que vão surgindo na língua, propondo alternativas aos estrangeirismos que pululam, registando e descrevendo as palavras que assumem forma que respeita o português, como é o caso da palavra que nos chega do Brasil: desigrejados. Trata-se de um vocábulo derivado por prefixação, que resulta da associação do prefixo des- à forma igrejados, derivada de igreja. Desigrejado é usado para referir as pessoas que rejeitam a prática de um culto religioso por se sentirem descontentes com aspetos a ele associados ou por não se identificarem com as suas práticas ou crenças.

2. A par dos neologismos, o Ciberdúvidas regressa, não raro, a determinadas palavras consideradas pertinentes em função do contexto que se vive. Na presente data, é o vocábulo aniversário que se destaca e que motiva um novo apontamento da professora Carla Marques, em jeito de felicitação pela data que agora agora se celebra (texto divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

3. A construção «vem mais eu», usada frequentemente em contextos informais, pode ser considerada incorreta? A resposta a esta questão é construída com base no cotejo com a estrutura «vem comigo», constituindo uma das resposta que integra a atualização do Consultório. Poderão ainda ser consultadas respostas na área da ortografia ("O grafema th em latim e português" e "O adjetivo hipostilo"), da morfologia ("O superlativo absoluto de cruel"), da classe de palavras / sintaxe ("A locução 'uma vez que' e a coordenação", "Análise de 'cego pelo ódio'" e "Complemento direto e preposição a") e da linguística histórica ("A origem da irregularidade na conjugação verbal"). 

4. A professora e linguista Margarita Correia analisa alguns dos resultados do  EF English Proficiency Index (Índice de proficiência em inglês) de 2023, incidindo em particular sobre o caso português. Esta abordagem permite avaliar criticamente a importância que, no país, se vai dando à língua inglesa em diferentes setores, face à perda de protagonismo da língua portuguesa (artigo de opinião publicado no jornal Diário de Notícias, aqui partilhado com a devida vénia). 

5. Entre os eventos de relevo, destaque para os seguintes:

–  O 10.º aniversário da plataforma RTP Ensina, que agrega recursos audiovisuais muito diversificados, que servem de apoio aos estudos de várias disciplinas integrantes do currículo escolar português;

– A conferência A Inteligência Artificial na educação – uma nova era na aprendizagem, uma parceria RTP Ensina e Direção-Geral da Educação (DGE), que terá lugar no dia 17 de janeiro e que poderá ser acompanhada em direto na RTP Play.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No dia 15 de janeiro completa o Ciberdúvidas 27 anos de funcionamento. É já um longo percurso faseado por períodos bons e outros preocupantemente críticos. Mas as numerosas questões e comentários enviados todos os dias diretamente a este portal ou através das redes sociais (Facebook e Instagram) são sinal de que vale a pena prosseguir, tantas são as palavras de incentivo vindas de Angola, do Brasil, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Macau, de Moçambique, de Portugal, de São Tomé e Príncipe, de Timor-Leste – ou de qualquer outro ponto onde se fale e escreva português. No sentido de alargar o contacto com o público já conquistado, que, socioprofissionalmente, vai da área do ensino ao jornalismo, levaram-se a cabo várias iniciativas, como sejam a Dúvida da Semana (no Facebook), os Cadernos de Língua Portuguesa, os podcasts realizados conjuntamente com o Laboratório de Competências Transversais (LCT) do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa. Tarda, no entanto, a prometida renovação gráfica e estrutural destas páginas, que são o núcleo da ação do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, desde a sua fundação em 1997 pelos jornalistas João Carreira Bom e José Mário Costa. Conserva o Ciberdúvidas também como principal propósito a divulgação de conteúdos à volta das regras e dos usos da língua portuguesa, sem descurar a sua diversidade mesmo no plano da norma, nos vários países onde tem estatuto oficial. Não sendo fácil defender a perspetiva e o apelo da unidade da língua, o objetivo do Ciberdúvidas é, pois, ambicioso mas não irrealista, como bem demonstra Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, em O Nosso Idioma, fazendo um balanço de mais um ano de intensa atividade neste espaço de acesso livre e gratuito, dedicado ao esclarecimento, reflexão e debate de temas do idioma que nos é comum.

Na imagem, cartografia da língua portuguesa na atualidade, numa imagem da revista Gerador, n.º 42, pp. 128-129.

2. A oralidade ocupa lugar importante na disciplina de Português, mas há ainda muito por investigar e por fazer na prática pedagógica. Na Montra de Livros, apresenta-se o número 60-61 da revista Palavras, da Associação de Professores de Português, editado por Carla Marques e precisamente dedicado ao ensino da oralidade. 

3. O impacto das questões de género, identidade e inclusão nas línguas naturais, entre elas, o português, continua na ordem do dia. Ao encontro desta discussão, a consultora Sara Mourato comenta, em O Nosso Idioma, o uso de termos como não binariedade e bigeneridade conforme aparecem num trabalho da Sic Notícias.

4. Diz-se «o mais brevemente possível» ou «o mais breve possível»? Esta é uma das seis perguntas da atualização do Consultório, onde se responde a dúvidas sobre redobro pronominal, o nome correspondente ao verbo volveratos ilocutórios e intenção perlocutória, o uso de escapada e o verbo deflagrar.

5. Um apontamento à volta de «felizmente que ele chegou», publicado em O Nosso Idioma em 21/11/20023, motivou um diálogo cujo interesse está no confronto (pacífico) de diferentes posições quanto à classificação da palavra que, exibida pela referida frase. Na rubrica Ensino, registam-se três apontamentos sobre este tópico, um da linguista Carla Marques, outro do gramático brasileiro Fernando Pestana e um terceiro, da consultora Brígida Trindade, também professora dos ensinos básico e secundário em Portugal. 

6. As palavras também estão sujeitas a modas, umas tornando-se clichês e outras caindo quase no esquecimento. No Pelourinho, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do escritor brasileiro Eduardo Affonso, que no mural Língua e Tradição (Facebook, 08/01/2024), aborda o tema do apego e do desapego a certos vocábulos.

7. Duas observações sobre palavras recorrentes na recente comunicação mediática:

– A respeito das eleições presidenciais que se realizam em Taiwan, observe-se que este é o nome por que atualmente é oficialmente conhecido o Estado que tem por território a ilha tradicionalmente chamada Formosa. O nome pátrio respetivo é taiwanês, e o nome da capital recomendado é Taipé (e não Taipei). Consulte-se o Código Interinstitucional do português nas instituições europeias e Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves.

– Relativamente à forma houthi, que tem ocorrido na escrita jornalística em Portugal, refira-se que denomina os seguidores de um movimento político-religioso surgido no Iémen há pouco mais de três décadas. Observe-se que é nome que se adapta sem dificuldade ao português, havendo já registo da grafia huti (ver Infopédia).

8. A crise  do Global Media Group ameaça a existência de periódicos centenários como o Jornal de Notícias (JN) e o Diário de Notícias, além do jornal desportivo O Jogo e da rádio de notícias TSF, no panorama da comunicação sopcial em Portugal. Justifica-se, portanto, uma chamada de atenção para a crónica que o escritor português Afonso Reis Cabral escreveu a respeito da greve dos trabalhadores do JN e outros jornais em 10/01/2024 – texto publicado nas páginas digitais do próprio JN.

Sobre este assunto vide, ainda: Carta se amor ao JNOs passos perdidos da Global Media Quem comprou o grupo Global Media?

8. Entre os programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

Língua de Todos (RDP África, na sexta-feira, 12/01/2023 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), onde se entrevista o linguista Carlos Rogério Silva, do Centro de Linguística da Universidade do Porto, sobre o CreoPhonPT, projeto que pretende estudar de forma profunda todos os crioulos de base lexical portuguesa.

Páginas de Português (Antena 2 no domingo, 14/01/2023, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 20/01/2023 às 15h30*), conversa-se o professor José Eduardo Franco sobre a legislação que impôs maior uniformidade cultural à então colónia do Brasil, proibindo a utilização do nheengatu, a língua geral  (uma mistura das línguas nativas com o português, falada por bandeirantes e índios) e tornando obrigatório o uso do idioma português.

Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), cujas emissões de 15 a 19/01/2024 têm como temas a interferência da língua árabe na língua portuguesa e a convivência desta com a língua polaca.

* Hora oficial de Portugal continental.

9. Por último, registe-se que o 27.º aniversário do Ciberdúvidas fica também marcado, até 15 de janeiro, por um passatempo para sorteio de quatro livros relacionados com a língua portuguesa (ver Instagram). Quanto à Dúvida do Ano, a escolha dos consulentes é revelada no próximo dia 15 de janeiro e aqui, na Abertura, de 16 de janeiro.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O início de 2024 traz consigo para Portugal uma descida das temperaturas mínimas e máximas, acompanhada de avisos amarelos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) relativos à previsão de tempo muito frio. Este contexto meteorológico leva a que constantemente se assinalem as temperaturas registadas em diferentes localidades do país, o que justifica uma nota relativa à forma de grafar os graus. Antes de mais, recorde-se que a unidade de medida usada é o «grau Celsius». O nome próprio Celsius teve origem no nome do astrónomo sueco Anders Celsius (1701-1744) e é também usado como adjetivo, pelo que alguns dicionários já o registam com minúscula. Note-se que se trata de uma palavra invariável que, portanto, tem a mesma forma para o masculino, feminino, singular e plural. Refira-se ainda que é possível escrever os graus na forma longa (por exemplo, «cinco graus Celsius») ou na forma abreviada (5 ºC). Relativamente a esta última possibilidade, recordemos que o símbolo que indica «graus Celsius» é grafado como ºC, forma que deve ser entendida como um símbolo único e inseparável, pelo que não deve existir espaço entre º e C (sempre em maiúscula) nem se deverá escrever *5º ou *5 C. Acresce ainda que entre o número e o símbolo deve ser deixado um espaço em branco. Assim, a forma correta será 5 ºC e não *5ºC.

Relativamente a este assunto, leia-se também «Grau centígrado, representação», «Graus centígrados vs. graus Celsius» e «Grau centigrado, novamente».

2. O substantivo publicidade deverá apenas descrever uma atividade ou poderá também referir alguns produtos dessa mesma atividade, como os cartazes ou os anúncios? A resposta a esta dúvida encontra-se na atualização do Consultório, onde poderão ainda ser consultados cinco novos textos relativos aos seguintes tópicos: «O verbo passar com predicativos», «Aspeto iterativo e aspeto imperfetivo», «O valor aspetual de tentar no mais-que-perfeito do indicativo», «Valores das orações conformativas» e «A tradução do espanhol uno em português». 

3. O português de Angola, nas perspetivas fonológica, sintática e lexicográfica, constitui o alvo essencial da obra organizada por Márcio UndoloAlexandre António Timbane e Gaudêncio Kimuenhe, uma publicação pioneira relativamente a esta variante do português, apresentada na Montra de Livros. 

4. O provérbio «Pedra movediça não cria bolor» integra a rubrica Dúvida da semana, num apontamento da professora Carla Marques, que esclarece sobre a possibilidade de interpretação contrastiva que a construção autoriza (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2). 

5.  A existência de uma língua lusitana, anterior à presença dos romanos na Península Ibérica e ao latim que estes trouxeram consigo, é tratada nesta reportagem, que também aborda aspetos históricos relativos a vestígios arqueológicos identificados na cidade de Viseu (um trabalho assinado por Gonçalo Pereira Rosa, publicado na edição portuguesa de janeiro de 2024 da revista National Geograhicpartilhado com a devida vénia).

(Imagem: Reprodução de inscrições lusitanas do Arroyo de la Luz (Cáceres, Espanha))

6. A importância da leitura na formação dos adolescentes e jovens e na sua preparação para compreender o mundo que os rodeia é defendida como elemento essencial a considerar no contexto de ensino, no artigo, aqui partilhado com a devida vénia, da autoria da professora e escritora Dora Gago

7. Em Portugal, a crise vivida na Global Media Group coloca em risco o futuro do jornalismo no país e envolve diretamente trabalhadores de alguns dos jornais portugueses mais antigos, como o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, e também da rádio TSF. Enquanto no decurso do dia 9 de janeiro são ouvidos na Assembleia da República o maior acionista (Marco Galinha) e o presidente executivo do grupo (José Paulo Fafe), é tempo de recordar que a palavra media, em português europeu, deve ser pronunciada como "média" e não à inglesa como "mídia". 

A este propósito, poderão ser consultados os textos «O virote com a palavra media», «Ainda à volta da palavra latina media», «O uso de "media(«meios de comunicação social»)» e «Novamente mídia, média e "media"».

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No regresso do Ciberdúvidas à atividade regular, depois da pausa do Natal, os neologismos são o tema principal da primeira atualização de 2024. Um vocábulo novo, formado no contexto de uma mesma língua, ou introduzido como estrangeirismo, isto é, como empréstimo de outra língua, pode ter vida efémera, ditada pela moda, ou uso escasso, limitado a temas especializados; mas um neologismo pode integrar-se e ter futuro. Vem, então, a propósito referir uma palavra em circulação na cobertura mediática da guerra na faixa de Gaza: trata-se de domicídio, adaptação do inglês domicide, «destruição deliberada programada de casas e lares», formado a partir de domestic («doméstico») ou domicile («domicílio») e -cide, elemento cognato do português -cídio, que veicula a noção de «assassínio» (ver Wiktionary em inglês). Constituído integralmente por material com origem no latim, o termo terá sido cunhado em 1998 pelo geógrafo anglo-canadiano J. Douglas Porteous, autor, com Sandra E. Smith, de um livro publicado em 2001 com o título Domicide: The Global Destruction of Home, isto é, numa tradução livre (e inquietante), o mesmo que «Domicídio: A Destruição Mundial da Casa». A palavra domicídio é, portanto, motivada por um composto inglês de etimologia latina, cujos formantes se transpõem em português sem dificuldade e com correção.

CfA dimensão da destruição na faixa de Gaza no fim de 2023 Destruição em Gaza faz especialistas pedirem que crime de «domicídio» seja criado + Relatores da ONU acusam Israel de «domicídio» + '"Escolasticídio", acrónimo vs. sigla, «mais além», o feminino nos nomes dos cargos e profissões'

2. A palavra enantiossema existe em português? E que quererá dizer? A resposta sobre este termo neológico encontra-se no Consultório, onde se esclarecem outras cinco dúvidas: que diferença há entre «gostar da música popular» e «gostar de música  popular»? Uma locução é o mesmo que uma colocação? Que preposições podem associar-se ao adjetivo desconfiado? Como analisar sequências como «viúvo que foi» ou «acabado que foi o prazo»? Media-arte é palavra correta?

3. Na rubrica O Nosso Idioma, dois apontamentos ainda sobre casos de neologia:

– O empréstimo dorama é a denominação japonesa de um género televisivo que conquista público, a ponto de ter entrada no vocabulário da Academia Brasileira de Letras. A consultora Sara Mourato regista as primeiras manifestações do uso desta palavra em português.

– No contexto do lançamento de um novo livro da investigadora portuguesa Maria Filomena Mónica, o consultor Paulo J. S. Barata aborda um neologismo de há vinte anos, blogue, cujo radical estimulou a inventividade dos falantes, com o aparecimento de vocábulos como blogueiro e blogodesenvolvido.

4. Na rubrica A covid-19 na língua, assinala-se uma nova entrada: esplanadas-covid, relativa à remoção das muitas esplanadas que, em Lisboa, foram criadas para enfrentar a crise na restauração decorrente da pandemia.

5. Em 20 de dezembro de 1999, o território de Macau tornava-se a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) da República Popular da China. A professora universitária e linguista Margarita Correia evoca esta transição, considerando que, ao contrário do que seria de esperar, o português «floresceu em Macau», num artigo publicado no Diário de Notícias em 01/01/2024, transcrito aqui, com a devida vénia.

6. Faleceu, em Lisboa, em 4 de janeiro de 2024,  o cantor, compositor e poeta angolano Rui Mingas (Luanda, 1939), que ficou famoso por êxitos musicais como Os Meninos do Huambo. Além do desporto de competição (recordista dos 110 metros barreiras, em 1960, pelo Benfica de Lsboa), teve também importante ação política, assumindo funções como ministro do governo de Angola e como embaixador angolano em Portugal. Rui Mingas é também o autor da música do hino nacional de Angola, com letra do escritor Manuel Rui.

7. Outros registos da atualidade em Portugal com interesse para a língua portuguesa: a criação de um comissariado para as comemorações do 5.º centenário de Camões (Observatório da Língua Portuguesa, 30/12/2023); a escolha de professor como Palavra do Ano, passatempo da Porto Editora (Expresso, 03/01/2024); sobre a falta de professores, a estimativa da Federação Nacional de Professores, segundo a qual há, desde setembro de 2023, dois mil alunos sem um dos professores (Jornal de Notícias, 03/01/2024); e a aprovação pela Comissão dos Assuntos Constitucionais de diploma que permite nomes neutros no registo civil (Público, 03/01/2024).

8. Na passagem de 2023 para 2024, salienta-se:

– A publicação do número 60-61 da revista Palavras, da Associação de Professores de Português. Este número, coordenado pela linguista Carla Marques, que é também consultora permanente do Ciberdúvidas, reúne um conjunto de estudos de investigadores de Portugal e do Brasil sobre o ensino da oralidade na disciplina de Português, nos ensinos básico e secundário.

– O livro eletrónico O Galego e o Português: o Passado Presente (Parábola), volume organizado por Jussara Abraçado e Xoán Carlos Lagares, com a finalidade de aprofundar o estudo das relações históricas entre o galego e o português e promover interações na investigação de questões e fenómenos próprios do galego e de variedades do português.

9. A respeito de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica ao idioma comum:

– No programa Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 05/01/2024 às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), inclui-se uma entrevista com Cristina Martins, investigadora do CELGA-ILTEC, da Universidade de Coimbra, que discorre sobre um artigo que escreveu para a Revista da Associação Portuguesa de Linguística, intitulado, "O que ainda não sabemos e precisávamos de saber para o ensino de Português Língua Não Materna".

– Para refletir sobre os horóscopos enquanto género textual, Rute Rebouças, investigadora do Centro de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é a especialista convidada de Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 07/01/2024, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 13/01/2024 às 15h30*). No programa inclui-se ainda um apontamento da professora Carla Marques sobre o sentido do provérbio «pedra movediça não cria bolor».

– Mencione-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2, cujas emissões de 8 a 12/01/2024 (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h30*) são preenchidas com a discussão de palavras e expressões da linguagem das finanças públicas e da economia.

10. Por úlitmo, recorde-se que, até dia 10 de janeiro, o Ciberdúvidas lança aos seus leitores um desafio – a Dúvida do Ano. Qual lhe parece ser a dúvida (ou erro) mais frequente entre os falantes? Apresentamos dez possibilidades, entre as quais poderá selecionar aquela que julga ser a mais corrente – para participar, clicar aqui.