A frase apresentada está correta, constituindo a falta de concordância temporal um uso justificado.
Tipicamente, as orações subordinadas temporais introduzidas por quando contribuem para localizar a situação descrita na oração subordinante relativamente à situação descrita pela oração subordinada. A situação presente na subordinada pode, assim, ser descrita como simultânea, anterior ou posterior à da subordinante. De forma a exprimir estes valores, normalmente, verifica-se uma concordância temporal entre os tempos da subordinante e da subordinada. As situações descritas podem localizar-se no passado:
(1) «Quando eu cozinhava, o Rui chegou.»
(2) «Quando eu cozinhei, o Rui chegou.»
(3) «Quando eu cozinhava, o Rui chegava.»
Há situações em que quando permite quantificar situações, como acontece em (3) ou em (4):
(4) «Quando eu cozinho, o Rui chega.»
Todavia, de acordo com Lobo, «Algumas orações com quando têm uma função predominantemente narrativa, relatando uma situação episódica que interrompe uma outra situação de caráter mais prolongado».1 A autora apresenta como exemplo a frase que transcrevemos em (5):
(5) «O Capuchinho Vermelho passeava tranquilamente pela floresta, quando de repente aparece o lobo mau.»1
Ora, a frase apresentada pelo consulente enquadra-se nesta descrição, uma vez que a oração subordinada relata uma situação episódica num contexto narrativo, o que justifica o desrespeito pela tradicional concordância temporal.
Disponha sempre!
1. Lobo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2002.