Na verdade, a frase apresentada não configura a modalidade epistémica, mas antes a modalidade desiderativa ou volitiva.
Ao passo que a modalidade epistémica está relacionada com «graus de certeza ou avaliação de probabilidade acerca do conteúdo proposicional da frase»1, a modalidade desiderativa «expressa a volição ou o desejo»1. Assim, a frase (1) configura a expressão da modalidade epistémica, enquanto a frase (2) expressa a modalidade desiderativa:
(1) «Sei que o João não fez os trabalhos.»
(2) «Queria que o João fizesse os trabalhos.»
Deste modo, uma vez que na frase apresentada, o verbo da oração subordinante é querer, este enforma toda a frase com a expressão geral deste desejo do locutor.
Acrescente-se, noutro plano, que o verbo crer construído com um grupo preposicional introduzido por em normalmente configura uma modalidade epistémica com valor de certeza; mas, crer acompanhado do oração completiva já expressa alguma incerteza, pelo que configura a modalidade epistémica com valor de probabilidade2:
(3) «Creio em Deus.»
(4) «Creio que o João chega amanhã.»
Visto que na frase apresentada se combinam dois verbos modais, querer e crer, poderemos considerar que no interior da modalidade desiderativa se identifica uma modalidade epistémica com valor de possibilidade (que expressa algo como «eu desejo que isto possa ser desta forma (mas não é certo)»).
Não obstante, visto que a modalidade desiderativa não integra os programas do Ensino Secundário e dada a complexidade da frase, este não será um exemplo ideal para se proceder ao estudo da modalidade em contexto escolar não universitário.
Disponha sempre!
1. Oliveira e Mendes in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 623-624
2. Id., Ibid., p. 661.