1. No consultório, evidencia-se como o latim continua a ser fonte de renovação vocabular, com um comentário sobre o (discutível) modismo vox pop – redução inglesa da locução latina vox populi –, com o qual se designam as conhecidas entrevistas de rua ou os inquéritos que a comunicação social dirige ao público. Outras questões incidem na semântica do advérbio relativo onde, na coerência lógica de «tiro ao arco», no emprego da conjunção como a introduzir o predicativo do complemento direto, e na variação entre necropsia e necrópsia.
2. Relevo para as palavras do antigo ministro da Educação português e atual admnistrador da Fundação Calouste Gulbenkian, Guilherme d'Oliveira Martins, num texto publicado neste dia no jornal Público* (e que fica igualmente disponível na rubrica O Nosso Idioma):
«A língua portuguesa tem uma difusão planetária. Tal obriga [a] que as instituições de ensino superior e de investigação, em especial as que se dedicam à cultura e à defesa do nosso idioma, desenvolvam ações articuladas, coerentes e persistentes, em ligação com os Estados que usam o português como língua oficial, bem como com as instituições da sociedade civil, no sentido de pôr em comum as ações necessárias com vista à preservação, salvaguarda e desenvolvimento da língua e da cultura.»
*Trata-se de parte do discurso que Oliveira Martins proferiu na cerimónia realizada em 21/09/2016, em que a Universidade Aberta lhe atribuiu o doutoramento honoris causa.
3. O Pelourinho dá conta de uma confusão cujo remédio incluirá também a história do léxico português. Um apontamento de Filipe Carvalho deteta a troca do verbo envidar, «empregar com empenho», pelo verbo endividar, «contrair dívida». Lembremos que envidar vem do latim invitare, «fazer vir», enquanto endividar é verbo derivado de dívida, substantivo que evoluiu do latim debĭta, plural neutro de debĭtum, «dívida de dinheiro» (cf. Dicionário Houaiss).
4. Uma nota rápida sobre o pobre substantivo rubrica, continuadamente mal dito no audiovisual português, como ainda aconteceu neste dia em Contas do Dia, na Antena 1, a propósito das rubricas do próximo Orçamento do Estado. A palavra é grave – "rubríca" –, como se observa à saciedade no nosso arquivo. Consulte-se, por exemplo: Rubrica (e não "rúbrica"), Rubrica, outra vez, Rubrica é uma palavra grave (e não esdrúxula), «... à "rúbrica"».
5. A propósito das eleições na Galiza, em 26/09/2016, pelas quais o Partido Popular volta a alcançar a maioria absoluta no parlamento autonómico, recorde-se o pedido de um deputado galego do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) no sentido de fazer representar esta região de Espanha na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). E registe-se a reação do jornalista Nuno Pacheco, que, em artigo publicado em 23/09/2016, no jornal Público, além de retomar a militância anti-Acordo Ortográfico, assinala os interessantes contrastes entre o português e a norma reconhecida pelo governo galego (mantém-se a ortografia do texto aqui citado): «Se alinharmos várias palavras da Língua Galega veremos que, para passarem a Português, basta mudar uma ou duas letras. Por exemplo: imaxes, proxectos, xeración, xeografías, paisaxe, xénese, subxectividade, estratéxico, misóxino, simboloxía, xa, paxariño (onde o x substitui o g ou o j). Mas há diferenças mais acentuadas, como moi por muito ou unha por uma.»* Sobre o passado e o presente linguísticos da Galiza, sugerimos a consulta dos seguintes artigos e respostas, no arquivo do Ciberdúvidas: Galaico-português/galego-português, Galego-português e galego medieval; O galego-português existe?; Descubra as diferenças; Mana Galiza; Sobre o galego; Como o galego é visto em Portugal; Galiza fomenta uso do português; Pontes sólidas.
* No galego, o grafema ñ de paxariño corresponde ao nh do português (passarinho). Na forma moi, reconhece-se o arcaísmo português mui (em documentos medievais portugueses, moi não é desconhecido). A forma galega unha, que soa aproximadamente "ung-a" e é o feminino do artigo indefinido, manterá de certa maneira a pronúncia arcaica de uma, que, até aos séculos XVI-XVII, mesmo na língua-padrão, se pronunciava e escrevia ũa, forma ainda existente nos dialetos ou falares regionais do português de Portugal.
6. Comemora-se nesta data o Dia Europeu das Línguas, marcado em Portugal por várias iniciativas nas escolas dos ensinos básico e secundário públicas (consultar página da Direção-Geral da Educação).