Não conheço sítios que disponibilizem o material procurado. No entanto, pode acreditar-se que os dialetos portugueses setentrionais, sobretudo os do interior norte, próximos da fronteira com a Galiza, bem como o dialeto galego da Baixa Límia conservaram melhor as características dos falares galego-portuguees medievais (embora não totalmente, como é de calcular). Recomendo, por isso, que escute os registos que encontra nas páginas da História da Língua Portuguesa em Linha do Camões-Instituto da Cooperação e da Língua (ouvir os registos correspondentes aos dialetos alto-minhotos e transmontanos) e no Arquivo Sonoro de Galicia do Consello da Lingua Galega.
Claro está que os registos ilustram um tipo de registo ligado às realidades do ambiente rural. Na Idade Média, é possível supor que as cantigas e os textos em prosa fossem pronunciados de maneira pausada ou enfática, de acordo com a maior ou a menor formalidade dos ambientes em que essas composições escutadas (as corte reais de Portugal ou Leão e Castela, as cortes senhoriais da Galiza e de Portugal). Nos territórios meridionais de Portugal é também possível supor que já se manifestassem características fonéticas que hoje se observam no falar de Lisboa e nos restantes falares do Sul.
Observação: Um consulente, Alessandro Cyrino, chama-nos a atenção para a reconstituição do português arcaico que é feita no filme brasileiro Desmundo (2003), realizado por Alain Fresnot. Agradecendo a achega, fica, portanto, assinalada aqui esta tentativa de aproximação ao mundo linguístico do português do século XVI – época que, no entanto, já não costuma estar abrangida pelo chamado português antigo, português arcaico ou galego-português. Além disso, sem pôr em causa a qualidade estética do filme de Fresnot, pode considerar-se discutível a referida reconstituição, visto nela se detetarem elementos estranhos ao sistema galego-português – por exemplo, moneda (1h 11 min), em vez de moeda (eventualmente mõeda, em fontes mais antigas), forma ainda hoje comum ao português e ao galego.