DÚVIDAS

O significado dos regionalismos alfoque e murejona (Algarve)
Junto envio uma citação que contém a palavra "alfoque". «Ti Chico é mais prático na descrição: "Joga-se o berbigão para dentro da murejona pela boca. Leva um cabo grosso, põe-se um alfoque e atira-se ao mar."» (jornal Barlavento, 01/10/2020, p. 8) Consultei vários dicionários da língua portuguesa e outros do léxico algarvio, mas sem sucesso. Espero que consigam satisfazer a minha curiosidade. Obrigado.
«Eles "entrem" na garagem»
Gostaria de saber se há alguma razão conhecida para o facto de, para os lados das chamadas «Terras de Santa Maria», ou seja, Santa Maria da Feira e arredores, haver uma pronunciação muito estranha do verbo entrar, nomeadamente entre as pessoas mais velhas, mas que ainda não cessou de ser transmitida também aos mais novos. Ora acontece que por aqui, em vez de «tu entras por aquela porta e viras à direita», há muitas pessoas que pronunciam «tu éntres por aquela porta e viras à direita». Já quando se usa o plural, também aqui se diz «eles éntrem na casa pela garagem», em vez de «eles entram em casa pela garagem». Gostaria também de perceber se isto, a ser um regionalismo, é exclusivo desta região, ou se estas formas distorcidas (e que, confesso, muita confusão me fazem) também são encontradas noutras regiões do país. Obrigado.
«Ter mais que fazer» e «ter mais o que fazer»
Certa vez, Napoleão Mendes de Almeida, creio eu que no seu Dicionário de Questões Vernáculas, disse, do seu jeito prescritivista, que deveríamos ter bem clara a distinção entre «tenho que» e «tenho de». Segundo ele, frases como «ela afirmou que eu tinha que tomar mais cuidado» seriam mais bem formadas com o uso de «tenho de», ou seja, de forma correta escreveríamos e diríamos: «ela afirmou que eu tinha de tomar mais cuidado». «Ter que» seria usado no sentido aqui discutido: «tenho mais que fazer». Contudo, é fato que no Brasil quase todos dizem «tenho que fazer X» e, no caso de «tenho mais que fazer», — é o que me parece — dizem «tenho mais o que fazer». No primeiro caso, acabamos, por coincidência ou não, convergindo no uso com o espanhol, idioma em que se diz «tengo que». No entanto, no segundo, acabamos por criar algo próprio, ou seja, em vez de manter o «tenho mais que fazer», pusemos um o antes do que. (“Criando” porque me parece mais natural que a novidade seja nossa, já que em tanto no português europeu quanto no espanhol há a mesma forma, e a divergente é a construção brasileira.) A pergunta é: como é que houve essa inovação no Brasil? Conseguem dar hipóteses? Terá sido uma questão fonética?
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