Os demonstrativos podem ser usados em português com um valor deítico, apontando para realidades fora do texto, ou com um valor anafórico, apontando para um antecedente textual que constitui a referência do demonstrativo.
Em português europeu, a série de três demonstrativos, este – esse – aquele, mantém plena vitalidade e, na sua significação básica de natureza deítica, assinala a proximidade ou distanciamento do referente relativamente ao locutor ou ao interlocutor.
Se analisarmos, em particular, o funcionamento dos demonstrativos com valor anafórico, percebemos que, sobretudo nos casos em que existem referências múltiplas no mesmo texto, os demonstrativos este – aquele são usados para distinguir os referentes de maior ou menor proximidade textual, como se observa em (1):
(1) «As gramáticas eram usadas em primeiro lugar e os livros de exercícios surgiam depois. Aquelas serviam para a construção do conhecimento e estes para a sua consolidação.»
Aquelas estabelece relação com «as gramáticas», referente mais distante, e este aponta para o constituinte «os livros de exercícios», constituinte mais próximo do ponto de vista textual. Considera-se que, em casos desta natureza, os demonstrativos este e aquele constituem um par de relações anafóricas1.
Nos casos em que um demonstrativo aponta para um referente único, poderemos distinguir algumas situações:
(i) se o antecedente for um nome comum e o demonstrativo desempenhar a função de sujeito, deve usar-se este2:
(2) «O livro de exercícios tem uma boa síntese gramatical. Este/ *esse / *aquele tem tido muito sucesso.»
(ii) noutras situações em que o demonstrativo é usado como determinante, ou seja, acompanha um nome, verifica-se uma oscilação entre este – esse:
(3) «A gramática nova já foi lançada. Este / esse livro é muito bom.
(para outras possibilidades ao nível textual, ver aqui)
Conclui-se, desta forma, que nos casos apresentados pelo consulente, as duas opções são possíveis. Todavia, julgo que, no português europeu, a preferência recairá sobre o demonstrativo este, sobretudo quando se refere a um referente concreto e próximo.
Já no português do Brasil, sobretudo na língua oral, é manifesto que as diferenças entre este e esse parecem estar diluídas, como se afirma no Dicionário Houaiss: «os demonstrativos em português formam um sistema de três membros, correlatos com os advérbios de lugar: este aqui, esse aí, aquele lá; no português do Brasil, a oposição entre este e esse desvaneceu-se, esp. na língua falada, e só na língua formal escrita é observada, devido mais ao ensino escolar do que ao sentimento lingüístico individual, por isso é freqüente, mesmo na língua escrita, a troca de um pelo outro» (Dicionário Houaiss, Edição eletrónica, 2001).
Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as gentis palavras que nos endereça!
*marca agramaticalidade.
1. cf. Raposo et al., Gramática do português. Fundação Calouste Gulbenkian, sobretudo p. 869.
2. cf. ibidem.