Os demonstrativos este e esse podem ter um uso deítico ou anafórico. No primeiro caso, os demonstrativos são usados por um falante para indicar, por exemplo, que um objeto está próximo de si (1) ou próximo do seu ouvinte (2):
(1) «Este livro é fantástico.» (o livro está próximo do “eu”)
(2) «Esse livro é fantástico.» (o livro está próximo do “tu”.)
Num uso anafórico, os demonstrativos estabelecem relação com um antecedente que surge no texto e podem, em certas ocasiões em que este e aquele funcionam como um par, apontar para um referente textual próximo ou mais distante:
(3) «O romance de Eça tem capa verde e romance de Saramago tem capa amarela. Aquele foi comprado em 2000 e este em 2013.» (aquele aponta para o referente textualmente mais distante, "o romance de Eça", e este para o referente mais próximo, "o romance de Saramago")
Quando usado com expressões temporais, o demonstrativo este pode ter um valor temporal, apontando para o momento de enunciação, ou seja, o momento em que o falante está a produzir o seu discurso:
(4) «Neste momento, vou abrir a caixa para ver o que contém.» (“Neste momento” = “agora”)
Note-se que a utilização do demonstrativo esse neste contexto não parece aceitável:
(5) «*Nesse momento, vou abrir a caixa para ver o que contém.»
Porém, é utilizado para referir um tempo já passado:
(6) «Nesse tempo, eu era muito mais forte.»
Ainda este mesmo demonstrativo pode ter um uso anafórico temporal, desde que no contexto discursivo anterior tenha surgido uma informação temporal:
(7) «Amanhã, encontramo-nos depois das aulas. Nesse momento falo contigo.» (neste caso, o demonstrativo esse aponta para um intervalo temporal futuro, cuja referência se concretiza no antecedente amanhã)
Quanto às frases apresentadas pelo consulente, a expressão “Neste momento da conversa” parece apontar para uma opção discursiva narrativa em que o narrador está próximo das personagens ou se localiza num tempo coincidente com o tempo da conversa, ou seja, poderá estar a narrar um evento presente ou presentificado. A expressão “Nesse momento da conversa” parece apontar para um distanciamento temporal do narrador relativamente ao momento em que a conversa teve lugar, ou seja, poderá integrar a narrativa de um evento passado.
Refira-se, todavia, que no Brasil o demonstrativo esse pode apontar para o momento da enunciação, o que tornaria as expressões em apreço similares. Aliás, no português do Brasil, sobretudo na língua oral, as diferenças entre este e esse parecem estar diluídas, como se afirma no Dicionário Houaiss: «os demonstrativos em português formam um sistema de três membros, correlatos com os advérbios de lugar: este aqui, esse aí, aquele lá; no português do Brasil, a oposição entre este e esse desvaneceu-se, esp. na língua falada, e só na língua formal escrita é observada, devido mais ao ensino escolar do que ao sentimento lingüístico individual, por isso é freqüente, mesmo na língua escrita, a troca de um pelo outro» (Dicionário Houaiss, Edição eletrónica, 2001)
Diga-se, por fim, que na falta de outros elementos contextuais, a destrinça entre os valores associados às expressões torna-se difícil, podendo mesmo não corresponder às intenções veiculadas pelo texto.
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