O termo «preposição acidental» é usado por Napoleão Mendes de Almeida (1911-1998) na sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa (2009, p. 338), com a seguinte definição: «[...] consideram-se as palavras de outras classes, eventualmente empregadas como preposições: conforme, consoante, durante, exceto, fora/afora, mediante, menos, salvante, salvo, segundo, tirante.» Trata-se, portanto, de casos de derivação imprópria ou, para empregar uma terminologia mais recente, de conversão.
Sucede, porém, que o termo nem sempre é descritivamente adequado para o conjunto de preposições em questão, porque muitas vezes a relação dessas palavras com a classe morfossintática original não é acessível à intuição do falante comum. Na verdade, muitas vezes é preciso recorrer a explicações de caráter histórico, raramente ao alcance do conhecimento linguístico mais generalizado. Seria talvez preferível classificar estas preposições como palavras homónimas das formas que estão historicamente na sua origem1.
De qualquer modo, procurando identificar as classes donde provêm as preposições em questão, justifica-se associar a forma preposicional segundo ao numeral segundo, como, aliás, a consulente demonstra, muito embora, historicamente, a relação não seja assim tão direta. Opaco também não será o nexo entre a preposição salvo e o particípio passado salvo, de salvar (na aceção de «retirar, livrar»); também não será obscuro vincular o uso preposicional de senão (ex.: «ninguém me apoiou senão você») ao funcionamento da mesma forma como conjunção («pare com isso, senão faço queixa»). Nos casos de durante e mediante, trata-se de preposições que remetem para os verbos durar e mediar e poderão ser explicadas como resultado da conversão de formas adjetivais homónimas, mas, na verdade, elas surgem por intermédio da recuperação dos particípios presentes dos verbos latinos etimológicos (durare e mediare, respetivamente).
1 Numa perspetiva mais recente, estas preposições são denominadas «preposições atípicas» na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 1562-1564).