As designações paciente e tema integram o campo dos estudos do papel temático (ou papel semântico) que abordam as relações de natureza semântica que se estabelecem entre os constituintes que funcionam como argumentos selecionados e o constituinte predicativo que os seleciona. O conjunto de papéis temáticos considerado e inclusive as designações atribuídas a estes papéis temáticos varia de autor para autor.
Nalgumas propostas, paciente, objeto e tema são designações equivalentes para o mesmo papel semântico, noutras há «alguns autores que distinguem Tema de Paciente, reservando o primeiro termo para o papel de entidades que sofrem mudança de lugar ou de posse e o segundo para o papel das entidades que sofrem uma mudança de estado» (Mateus et al., Gramática da língua portuguesa. Caminho, p. 188, nota (17)).
Assim, de acordo com esta última perspetiva, na frase (1) o constituinte «o jovem» tem o papel de tema:
(1) «O jovem correu até à mãe.»
Na frase (2), o constituinte «os meninos» tem o papel de paciente:
(2) «O frio enregelou os meninos.»
Já Raposo considera que paciente «ocorre frequentemente em frases transitivas com um sujeito agentivo, nas quais se descreve uma ação na qual o agente afeta causalmente uma determinada entidade, que vê alteradas algumas das suas condições físicas, materiais ou abstratas (consoante a natureza da entidade e da ação que a afeta), i.e., que sofre uma mudança de estado nesses domínios.» (Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 376).
De acordo com esta última perspetiva, são pacientes os constituintes destacados nas frases seguintes:
(3) «A Maria escreveu um artigo.»
(4) «A Maria acordou o João.»
Em nota, acrescenta-se, todavia, que «quando as condições alteradas são psicológicas ou cognitivas», o constituinte recebe o nome de experienciador (ibidem, nota 110) e «quando as condições alteradas são de natureza espacial ou posicional» (ibidem), o constituinte tem o papel de tema.
O papel temático designado tema, nesta perspetiva, está relacionado sobretudo com o domínio semântico da localização espacial, englobando três situações: «(i) uma entidade que se localiza estaticamente num determinado lugar; (ii) uma entidade que se move direcionalmente – dinamicamente – de um lugar para outro; (iii) uma entidade que é transferida de uma pessoa para outra, nos casos mais típicos com mudança de posse» (ibidem, p. 37). Como é dado a ver, esta noção de tema é coincidente com a apresentada em Mateus et al., incluindo as três frases seguintes exemplos de temas, de acordo com a tipologia apresentada:
(5) «O meu amigo está em Braga.» (situação (i))
(6) «O João vai a Braga.» (situação (ii))
(7) «A Rita deu um bilhete de cinema ao João.» (situação (iii))
Como se conclui, as diferentes perspetivas apresentadas diferem em maior ou menor grau relativamente aos conceitos tratados. O consulente terá de optar por uma visão do fenómeno e tratar as realidades semânticas nesse quadro, de modo a poder desenvolver uma análise coerente.
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