Antes de responder à sua questão, gostaria de salientar que a abordagem que se faz em ambas as gramáticas é diferente, pelo que esse facto deverá ser tido em conta. Com efeito, a Gramática do Português Actual (GPA) tem como objecto o «português europeu na sincronia deste começo de milénio…» p. 5, enquanto a gramática Nova Gramática do Português Contemporâneo (GPC) estuda o «português actual na sua forma culta, isto é, da língua como a têm utilizado os escritores portugueses, brasileiros e africanos do Romantismo para cá» pág. XIV.
Por outro lado, o tempo que separa a primeira edição de cada uma das obras, 2001 para a GPA e 1984 para a GPC, pode igualmente condicionar a comparação, tanto mais que a linguística e os métodos de análise aplicados na Língua Portuguesa sofreram uma evolução considerável nos últimos 20 anos.
Feita esta ressalva, vejamos o que surge em cada uma das obras sobre o aspecto verbal. Na GPC define-se aspecto como «uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista do qual o locutor considera a acção expressa pelo verbo. Pode ele considerá-la concluída, isto é, observada no seu término, no seu resultado; ou pode considerá-la como não concluída, ou seja, observada na sua duração, na sua repetição» pág. 380.
Complementando esta definição referem os autores a existência de três aspectos básicos distintos, incoativo, permansivo e conclusivo. A estas três situações associam seis sentidos que agrupam, por contraposição, dois a dois:
1 – Situações em que o verbo veicula um sentido pontual, como em «Já jantei» a que se contrapõe o aspecto durativo como em «Estou a jantar». (aspecto pontual ‘versus’ aspecto durativo);
2 – O sentido veiculado pode apontar para uma acção contínua «Trabalho em Lisboa./estou a trabalhar em Lisboa», em contraponto com «Voltei a trabalhar em Lisboa» (aspecto contínuo ‘versus’ aspecto descontínuo);
3 – O verbo pode ainda permitir identificar se a acção está a iniciar «Comecei a ler os Lusíadas» ou a acabar «Acabei de ler os Lusíadas» (aspecto incoativo ‘versus’ aspecto conclusivo).
Também na GPA são apontados os três aspectos básicos:
«O aspecto verbal é a referência ao desenrolar da acção, marcando-se por ele sobretudo o início, a duração, a conclusão ou o resultado de desenvolvimento processual»
Os três aspectos básicos desdobram-se, segundo o autor, em sete:
1 – Pontual «Bebi o café e saí»;
2 – Durativo «O João está doente»;
3 – Frequentativo ou iterativo «Tenho nadado diariamente»;
4 – Incoativo ou inceptivo «O comboio está a partir»;
5 – Cessativo «O João já viu o filme»;
6 – Progressivo «O João está a ler/vai lendo o livro»;
7 – Resultativo – «O sol pôs-se».
Se tivéssemos que fazer uma associação contrastiva como a que se faz na GPC, poderíamos fazer as seguintes associações:
a) Pontual versus durativo;
b) Durativo versus frequentativo, que se aproximam, de certa forma, do contínuo e do descontínuo da GPC;
c) Frequentativo versus progressivo – ambos indicam uma a(c)ção em desenvolvimento, mas no progressivo a acção pode ser “medida”, ou seja é possível verificar o progresso;
d) Incoativo versus cessativo;
e) Cessativo versus resultativo – em ambos os casos estamos perante uma acção terminada, mas no aspecto resultativo o foco está não na acção em si, mas no que dela resulta; quando dizemos «O sol pôs-se», o que realça, efectivamente, é o facto de ser, ou estar quase a ser, noite.
Importa ainda referir que há muitos e variados trabalhos sobre o aspecto verbal. A título de exemplo indico um endereço, onde pode encontrar este tema:
O Aspecto Verbal no Português