Concorda-se com o raciocínio do consulente, mas também importa observar que o estrangeirismo plafond, «limite máximo»1 – já aportuguesado como plafom2, embora substituível pelo vernáculo teto – tem sofrido uma alteração semântica que leva por confusão – na verdade, por uma operação mental chamada sinédoque –, a denotar a noção de volume («carregamento» ou «depósito») pela palavra que denota o limite de tal volume.
O uso da palavra teto talvez evite esta confusão, porque rapidamente se intui que é mais correto dizer que «se atingiu o teto» do que «se esgotou o teto». Mas com plafom/plafond, o uso generalizado (e, por enquanto, discutível) vai no sentido de conceber a noção associada como capacidade. Por outras palavras, apesar do que é dito pelo consulente, deve assinalar-se que plafom parece já ter sido adaptado ao português com uma semântica própria, pelo que hoje se torna mais difícil classificar a frase «esgotou o seu plafom de Internet» como claro erro ou impropriedade grave.
Mesmo assim, para os mais ciosos da estabilidade semântica e da coerência referencial das palavras, estarão sempre disponíveis a alternativa teto e as construções «atingiu/ultrapassar o teto».
1 Cf. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.Ver também a Infopédia. Assinale-se que este galicismo não figura nos dicionários brasileiros consultados (Dicionário Houaiss, Dicionário UNESP do Português Contemporâneo e, em linha, Dicionário Michaelis).
2 No dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, regista-se o galicismo plafond, o qual remete para o aportuguesamento plafom, sinónimo de teto e com duas aceções: «limite de despesas permitidas» e «limite de crédito autorizado».