O pronome relativo e interrogativo quem provém da língua latina, na qual tinha a função de complemento (objecto) directo do género masculino singular.
Na evolução da língua latina para a língua portuguesa, passou a estar relacionado com pessoas, animais e coisas dos géneros masculino e feminino quer no singular quer no plural. Nos nossos dias, já não se aplica em relação às coisas. Entretanto, pode usar-se como sujeito e como complemento (objeco) directo ou indirecto.
A frase apresentada não está correcta, porque quem só pode ser usado nos seguintes casos, sempre em relação a uma pessoa (cf. Paul Teyssier, Manual de Língua Portuguesa, Coimbra, Livraria Almedina, 1989: pág. 152)
a) antecedido de preposição, constituindo um complemento preposicional da oração que introduz: «Dá-se a morte simbólica de Ana, a quem a sorte faltou.»1
b) depois de um pronome, é obrigatório: «Tu, a quem a sorte faltou.»
c) numa oração relativa sem antecedente que, como constituinte de outra oração, desempenhe as funções de:
— sujeito: «Quem perde a esperança tem a morte na alma»; «Só anda assim quem morre na companhia do marido.»
— complemento directo: «Vi quem parece morrer na companhia do marido.»
— complemento preposicional: «Tenho pena de quem parece morrer na companhia do marido.»
— predicativo (em construções clivadas):2 «É a Ana/A Ana é quem, às vezes, parece morrer na companhia de seu marido.»3
1 Não se usa «sem quem», que é substituído «sem o(s)/a(s) qual/quais».
2 Uma frase copulativa é aquela em que ocorre um verbo copulativo (também denominado predicativo, de cópula, de ligação, de significação indefinida); p. ex.: andar, continuar, estar, ficar, parecer, permanecer, revelar-se, ser, tornar-se (ver Maria Helena Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, pág. 302).
3 É também possível com parecer numa frase identificacional: «ela parece quem morre na companhia do marido.» No entanto, outros verbos copulativos não são compatíveis com frases identificacionais, ao que parece por questões de aspecto verbal: *«A Ana está/ficou/anda/continua a professora/quem dá aulas».