No estudo dos empregos do modo conjuntivo, é consensual a existência entre as ocorrências em que é obrigatório e aquelas em que é facultativo. Dentro deste grupo estão contidos todos os contextos em que o emprego do modo conjuntivo é o resultado de uma opção voluntária e consciente por parte do falante que tem por objectivo transmitir determinado conteúdo semântico.
Vamos restringir a consideração desta questão às orações subordinadas substantivas, que são um dos contextos preferenciais da ocorrência do «modo conjuntivo». Estas orações são também chamadas integrantes ou completivas, uma vez que a partícula que as integra na subordinante permitindo-lhes completar o sentido do verbo, que pode ser, entre outros, declarativo, volitivo ou de sentimento (exemplos: «Penso que o João chega hoje»; «Desejo que tenhas uma boa viagem»).
Nas gramáticas tradicionais, encontram-se listas de ocorrências relacionadas com a partícula que onde aparece o conjuntivo:
a) verbos com o significado de fazer ou impedir que uma coisa aconteça/se faça (desejar, querer, pedir, aconselhar, consentir, admitir, impedir, ordenar, aprovar);
b) expressões e verbos que significam receio de que um facto ocorra (exemplo: «receia que ele tenha de faltar»);
c) expressões que significam contentamento ou descontentamento em relação a algo que possa acontecer (exemplo: «Era bom que ele acabasse o curso este ano»);
d) verbos e locuções impessoais com significado de «ser raro ou vulgar», «ser possível», «ser provável», «ser admirável», «ser justo», entre outras (exemplo: «É raro/provável/necessário que isto aconteça»);
e) o verbo duvidar ou expressões de dúvida, quando usados afirmativamente (exemplo: «Duvido que faças esse exame»; «Suspeito que não apareças na festa»).
São ainda registadas nessas gramáticas as construções em que o verbo pode ocorrer no conjuntivo de acordo com as seguintes restrições: a oração subordinante ser negativa, interrogativa de sentido negativa ou se pretenda sublinhar a negação. Estão nestes casos as construções que ocorrem com:
a) verbos como ver, saber, julgar (exemplo: «Não vejo que consiga resolver o caso»);
b) verbos declarativos como dizer, declarar, anunciar («Não digo que não apareça mais tarde»);
c) verbos que exprimem a ideia de pensar, saber, perceber, parecer, locuções com certo e evidente, quando negados (exemplos: «Não penso que essa medida seja eficaz»; «Não me parece que isso possa acontecer»).
Em estudos recentes, do âmbito da linguística descritiva, são já atestados empregos alternados de indicativo e de conjuntivo em alguns verbos, como pensar, com o qual é possível obter variantes como:
(i) «Penso que o João está em casa.»
(ii) «Penso que o João esteja em casa.»
Nos casos em que esta alternância é possível, a leitura de cada uma das ocorrências é diferente. No caso (ii), o conjuntivo associado ao processo expresso pelo verbo transmite valor semântico de dúvida, de probabilidade, de incerteza.
Observação:
A informação contida na resposta foi obtida no estudo elaborado por Maria Joana de Almeida Vieira dos Santos, em Os usos do conjuntivo em língua portuguesa (uma proposta de análise sintáctica e semântico-pragmática) — dissertação de doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1999.