As frases copulativas de estar + predicativo pronominalizado («está-o») são possíveis, mas a verdade é que, com o pronome o, a significar «isso» e posposto ao verbo, essas frases parecem estranhas nos usos orais e escritos de Portugal. Por outras palavras, frases como:
(1) O aluno está-o
(2) A porta está-o
(3) Tu está-lo
poderiam ocorrer, mas não é o que acontece entre falantes do português de Portugal.
Esta situação vem descrita, por exemplo, na Gramática da Língua Portuguesa (Editorial Caminho, 2003, p. 839), de M.ª Helena Mira Mateus et al., que observam o seguinte acerca do uso de o como pronome neutro e em substituição de um predicativo do sujeito (na fonte consultada, usa-se predicado):
«O clítico invariável o [...] surge em estruturas copulativas como um predicado nominal [...] em frases como (45):
(45) (a) Umas pestes, estas crianças sempre o foram.
(b) A Ana está em casa e a Maria também o está.
A realização do clítico invariável enquanto predicado é sentida por alguns falantes como pouco natural, sendo preferencialmente substituída por uma elipse [=omissão], como ilustrado em (46):
(46) A Ana está em casa e a Maria também está.»
Note-se que na descrição acima se considera apenas a situação em que o pronome o é pré-verbal («sempre o foram», «também o está»), não havendo referência à colocação pós-verbal, pelo que se presume (impressão reforçada intuitivamente pelo redator desta resposta) que «ele/ela está-o» ou «tu está-lo» simplesmente não ocorrem e se prefere a elipse do pronome o ou outras formas de retomar o predicativo:
(4) «O aluno está cansado, e o professor está também assim» [ou «O aluno está cansado, e o professor também»];
(5) «A porta está aberta há muito tempo, mas a janela está também assim há mais tempo»;
(6) «Ela está feliz, mas tu estás?» [ou «Ela está feliz, e tu estás também assim?»];
Acrescente-se que formas como «está-o» parecem muito pouco frequentes, a avaliar pelo facto de uma coleção de textos em português de várias épocas, literários e não literários, fornecer apenas um exemplo:
(7) «Faz Vossa Mercê de mim pateta, ou está-o, como diz o Senhor Peixoto?» (Abade António da Costa, Cartas, 1744 in Corpus do Português);
Observe-se que em (7) o uso de «está-o» parece revestir-se de certo sarcasmo, uma vez que o enunciador da frase o não assume e atribui-o a um certo Senhor Peixoto. Ocorrências com a colocação pré-verbal («o está) também podem ser recolhidas no Corpus do Português e parecem mais frequentes:
(8) «Hoje, se os portugueses estão mais vivos, Portugal, depois da descolonização, não sei se o está.» (Manuel Lucena, ibidem)
(9) «E Clara para aqui e Clara para acolá, a história parecia clara, mas para mim está cada vez mais escura. --Não o está para mim, disse Inês batendo as palmas, agora percebo tudo» (Manuel Pinheiro Chagas, A Mantilha de Beatriz, 1878, ibidem)
(10) «Porque como o mundo todo esteja empeçado de dúvidas, como o está de interesses, aquele que cortar estes nós, esse será quem faça ao mundo o maior benefício» (D. Francisco Manuel de Melo, Cartas Familiares, 1650, ibidem);
(11) «mas a minha fé sempre esteve firme, como cada vez o está mais a minha esperança» (Padre António Vieira, Cartas, 1626-1692, ibidem)
Falta ainda referir que, apesar de tudo o que dissemos, o Corpus do Português faculta várias ocorrências de estar + o com outras formas do verbo estar, que não as do presente do indicativo na 2.ª e 3.ª pessoas do singular:
(12) estava-o: «Perdido, aliás, estava-o já então, de toda a maneira, qualquer que houvesse sido o rumo que as coisas tivessem tomado... (Urbano Tavares Rodrigues, Bastardos do Sol, 1959, ibidem)
Quanto à locução verbal, em casos como:
(13) «Ele está-o a fazer.»
(14) «Tu está-lo a terminar.»
a situação é muito semelhante. São aceitáveis os casos de associação do pronome em referência com o auxiliar estar: «Estava-o a fazer.» Mesmo assim, intuitivamente, afigura-se corrente, e até mais adequado, juntar o pronome ao verbo principal, para evitar formas como «(ele/ela) está-o a fazer» e «(tu) está-lo a fazer». Já mais aceitável se afigura o seguinte exemplo, com o verbo na 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo:
(15) «estão-no a construir»
Quanto à colocação do pronome na locução em questão, em contexto brasileiro, pedimos parecer ao consultor Fernando Pestana, que refere o seguinte:
«No português do Brasil, são inexistentes as frases (1)-(3) e (13)-(15) – o sistema permite, mas nenhuma norma contempla. Sobre as frases “Ele o está fazendo”, “Ele está fazendo-o” e “Ele está fazendo isso?”, todas são existentes, sendo as duas primeiras próprias do registro culto escrito, apesar de pouco usuais em comparação com a última frase.»
Em suma, da informação recolhida emergem dados que ainda aguardam uma explicação cabal. O facto é que «está-o» e «está-lo» praticamente não se usam no português de Portugal. A razão para evitar formas como «está-o a fazer» e «está-lo a fazer» não é clara, mas pode ser resultado da perceção malsonante (cacofonia) de «está-o a», que tem um encontro vocálico menos habitual "áua"), e de «está-lo», por exemplo, confundível com estalo.